quarta-feira, 20 de janeiro de 2016

Dilma e a Economia


                                         

         Na discussão futura sobre o campo em que a atuação da Presidente Dilma Rousseff terá sido mais nefasta para o Brasil, a minha aposta de vítima presente será que o descalabro na economia há de ser o segmento do quebracabeças onde existirá raro consenso entre os estudiosos da terra brasileira. Todos dirão - ou quiçá aparecerá alguma voz dissonante, daquelas que primam por ser do contra, não fosse pelo desejo de ser diferente - que estão de acordo quanto à fenomenal incapacidade da sucessora de Lula da Silva no campo econômico-financeiro.

         No primeiro mandato, por trás de túrgida linguagem e de ridículas frases do tipo 'não permitirei que...', a nossa primeira presidente pensou ou quis fazer pensar que a carestia podia ser controlada pela retórica! O dragão que tem senso de humor se finou de rir, vendo naquele infausto instante que a sua volta, depois do detestável Plano Real, estava garantida. 

         Para um país que tanto sofreu com a inflação, a hiperinflação, e os inúmeros planos heterodoxos (até um plano Bresser houve!) com que os ministros da fazenda (todos eles derrubados pelo processo) pensavam ter a bala na agulha, de modo a pôr fim a um fenômeno que nos infernizou a vida desde os anos sessenta.

          O Plano Real, por isso, foi uma surpresa, como o provaram os economistas reunidos sob a batuta de Itamar Franco e FHC. Estava na sua aparente simplicidade, e na volta aos padrões ortodoxos clássicos, o segredo do próprio sucesso.

          Com a ignara e furibunda oposição do PT - que não queria acreditar na possibilidade de êxito - o Plano Real firmou-se na confiança popular, e a festa da cumieira a assumiu a Lei de Responsabilidade Fiscal. Lula e o PT se esbaldaram em uma negação da realidade. Chegaram à patacoada de levar para o Supremo o julgamento da suposta inconstitucionalidade da LRF.

           Esse jogo para a arquibancada - em que o PT é reincidente, quando negou-se a assinar a Constituição de 1988 - não mais impressiona ninguém. O bom-mocismo brasileiro - em que se permite que alguém volte atrás, fingindo que nada houve - é demonstração de fraqueza nossa.  Não se pode parar o tempo. As pessoas e as instituições devem responsabilizar-se pelo que fazem - e pagar, se for o caso, as consequências. No exemplo presente das firmas, as assinaturas dos companheiros petistas não deveriam estar lá, porque os atos têm consequências e a melhor maneira de aprender a lição está no respeito da realidade. Aprenderiam talvez que jogar para a arquibanca não vale a pena.

              Mas é tempo de esquecer essas questões de antanho, o Plano Real já era. E esta é a sua grande, descomunal mesmo, anti-realização. A inflação voltou com Dilma Rousseff - tinha retornado pouco depois da posse de Lula, mas na época o governo petista teve juízo, e a ameaça foi contornada. Dizendo o contrário, a política de Dilma ressuscitou o dragão. Além dos déficits orçamentários, Dilma entrou em gastança irresponsável que aqueceu ainda mais a economia, eis que impediu o Banco Central e o Copom de controlar a oferta excessiva de moeda no mercado, através do recurso ao aumento da taxa Selic, que é o seu principal instrumento anti-inflacionário.

                 Nesse contexto, se comprova a leviandade da Presidente em criar condições, através de déficits orçamentários, capitalizações e, mais tarde, pelas chamadas desonerações fiscais, para o retorno da inflação - o que hoje se traduz em uma taxa de cerca de doze por cento.

                  Por vezes, me assaltam dúvidas se Dilma Rousseff tenha estado entre nós nos tempos do dragão. Dá a impressão de alguém que viveu em outro país, tal o seu alheamento do perigo inflacionário (como se pode definir alguém que convida Luis Gonzaga Belluzzo e Delfim Netto[1] para um almoço cujo menu seria o combate à inflação ? Gente, há algo de muito errado nisso!)

                  A estória do descalabro econômico-financeiro trazido por Dilma - no primeiro mandato ela preparou o prato, que só veio a revelar para o Brasil depois de conseguir ali-ali o triunfo para o segundo - é triste.

                   A crise econômica com inflação, retração na atividade das empresas, não é questão esotérica, para ser discutida em salas de aulas e reuniões econômico-financeiras. Onde andam as start-ups criadas em São Paulo? Onde anda o real que por um punhado de anos foi considerada a moeda mais estável em relação ao dólar estadunidense?  Será que os estrangeiros - com muitos americanos que acorreram a São Paulo - por causa dos bons salários então praticados no Brasil (com direito à reportagem no New York Times) continuam na Paulicéia ou voaram para outros cantos?

                   Mas não fica por aí. A presidenta - como ela gostava de ser chamada, e os seus cortesãos nisso se especializavam - o que nos diz do Real, que por bom tempo  foi uma das divisas mais estáveis em relação ao dólar estadunidense ?

                   O assistencialismo - simbolizado pelo Bolsa-Família, programa cuja importância se traduz na decretação de déficits no orçamento - não é motor de crescimento econômico. Mesada nunca foi passaporte para a ascensão social.

                   Outra fábrica de déficits - e das famigeradas pedaladas fiscais, condenadas pelo TCU - foram os programas de estímulo ao crescimento por meio das desonerações fiscais,  que custaram ao erário dezesseis bilhões !E qual o fim desse programa senão estimular a produção das feitorias (fábricas de automóveis) estrangeiras aqui instaladas. A idéia era acionar o crescimento econômico através do consumo. Para tanto, o Tesouro precisou renunciar aos tais dezesseis bilhões, para que as sucursais pudessem continuar as suas remessas para as sedes automotivas na Europa, Ásia e Estados Unidos, porque o governo militar (e esse erro não foi do PT) resolvera sucatear as nossas empresas automobilísticas, de modo que o Brasil é a única economia entre as maiores que não tem indústria automotiva nacional (só a de auto-peças, que pelo mecanismo do monopsônio - que é o contrário do monopólio - só que aqui é o comprador único, que obviamente dita os preços).

                   A recessão forte - nove milhões de desempregados - é outra jóia da gestão Dilma. Nesse quadro, não surpreende que o desemprego na indústria automobilística tenha aumentado, e que as montadoras tenham desativado 50% das linhas de produção.

                    Quais os grandes projetos da gestão Dilma? O trem-bala, por acaso? Ou a faraônica obra da transposição do rio São Francisco, hoje parada há bastante tempo?

                    Se colocarmos a incompetência política - que fez malograr o ajuste financeiro de Joaquim Levy, funcionário competente, que foi tragado pela incompetência financeira (até orçamento com déficit ela nos arrumou, para expor na própria fuselagem a redução na nota das agências de risco - agora o nível de investimento virou ítem de saudosismo político-econômico).

                     Nelson Barbosa foi a Davos, e não creio que terá sido invejável a recepção que lá teve, como sucessor de Joaquim Levy. Que valor terão as suas promessas?  Que exibiu como troféus? O naufrágio do Plano Real? A falta de verbas? Só não faltam dotações para os subsídios partidários. Além de ocuparem o tempo nobre da tevê com programas de indigente propaganda, Dilma Rousseff garantiu R$ 819 milhões para os partidos!  Como se pode definir isso, senão por insensatez e despautério, quando falta dinheiro para os hospitais, não há campanhas sérias contra a dengue e agora o virus zica?

                                                                                         (a continuar)

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, The New York Times )



[1] O mais engraçado é que o site de O Globo desta quarta-feira noticia uma reunião econômica de Lula com a dupla Belluzzo-Delfim. Pelo visto, o PT não dispõe de outra arma econômica!

Nenhum comentário: