Na discussão futura sobre o campo em que a atuação da
Presidente Dilma Rousseff terá sido
mais nefasta para o Brasil, a minha aposta de vítima presente será que o
descalabro na economia há de ser o segmento do quebracabeças onde existirá raro
consenso entre os estudiosos da terra brasileira. Todos dirão - ou quiçá
aparecerá alguma voz dissonante, daquelas que primam por ser do contra, não fosse pelo desejo de ser
diferente - que estão de acordo quanto à
fenomenal incapacidade da sucessora de Lula da Silva no campo
econômico-financeiro.
No primeiro mandato, por trás de
túrgida linguagem e de ridículas frases do tipo 'não permitirei que...', a
nossa primeira presidente pensou ou quis fazer pensar que a carestia podia ser
controlada pela retórica! O dragão que tem senso de humor se finou de rir,
vendo naquele infausto instante que a sua volta, depois do detestável Plano Real, estava garantida.
Para um país que tanto sofreu com a
inflação, a hiperinflação, e os inúmeros planos heterodoxos (até um plano
Bresser houve!) com que os ministros da fazenda (todos eles derrubados pelo
processo) pensavam ter a bala na agulha, de modo a pôr fim a um fenômeno que
nos infernizou a vida desde os anos sessenta.
O Plano Real, por isso, foi uma surpresa, como o provaram os
economistas reunidos sob a batuta de Itamar Franco e FHC. Estava na sua
aparente simplicidade, e na volta aos padrões ortodoxos clássicos, o segredo do
próprio sucesso.
Com a ignara e furibunda oposição do
PT - que não queria acreditar na possibilidade de êxito - o Plano Real
firmou-se na confiança popular, e a festa da cumieira a assumiu a Lei de Responsabilidade Fiscal. Lula e o
PT se esbaldaram em uma negação da realidade. Chegaram à patacoada de levar para
o Supremo o julgamento da suposta inconstitucionalidade da LRF.
Esse jogo para a arquibancada - em
que o PT é reincidente, quando negou-se a assinar a Constituição de 1988 - não
mais impressiona ninguém. O bom-mocismo brasileiro - em que se permite que
alguém volte atrás, fingindo que nada houve - é demonstração de fraqueza
nossa. Não se pode parar o tempo. As
pessoas e as instituições devem responsabilizar-se pelo que fazem - e pagar, se
for o caso, as consequências. No exemplo presente das firmas, as assinaturas
dos companheiros petistas não deveriam estar lá, porque os atos têm
consequências e a melhor maneira de aprender a lição está no respeito da
realidade. Aprenderiam talvez que jogar para a arquibanca não vale a pena.
Mas é tempo de esquecer essas
questões de antanho, o Plano Real já era. E esta é a sua grande, descomunal
mesmo, anti-realização. A inflação voltou com Dilma Rousseff - tinha
retornado pouco depois da posse de Lula, mas na época o governo petista teve
juízo, e a ameaça foi contornada. Dizendo o contrário, a política de Dilma
ressuscitou o dragão. Além dos déficits
orçamentários, Dilma entrou em gastança irresponsável que aqueceu ainda mais a
economia, eis que impediu o Banco Central e o Copom de controlar a oferta excessiva de moeda no mercado, através
do recurso ao aumento da taxa Selic,
que é o seu principal instrumento anti-inflacionário.
Nesse contexto, se comprova a
leviandade da Presidente em criar condições, através de déficits orçamentários,
capitalizações e, mais tarde, pelas chamadas desonerações fiscais, para o
retorno da inflação - o que hoje se traduz em uma taxa de cerca de doze por
cento.
Por vezes, me assaltam
dúvidas se Dilma Rousseff tenha estado entre nós nos tempos do dragão. Dá a
impressão de alguém que viveu em outro país, tal o seu alheamento do perigo
inflacionário (como se pode definir alguém que convida Luis Gonzaga Belluzzo e
Delfim Netto[1] para um almoço cujo menu seria o combate à inflação ? Gente,
há algo de muito errado nisso!)
A estória do descalabro
econômico-financeiro trazido por Dilma - no primeiro mandato ela preparou o
prato, que só veio a revelar para o Brasil depois de conseguir ali-ali o
triunfo para o segundo - é triste.
A crise econômica com
inflação, retração na atividade das empresas, não é questão esotérica, para ser
discutida em salas de aulas e reuniões econômico-financeiras. Onde andam as start-ups criadas em São Paulo? Onde
anda o real que por um punhado de anos
foi considerada a moeda mais estável em relação ao dólar estadunidense? Será que os estrangeiros - com muitos
americanos que acorreram a São Paulo - por causa dos bons salários então praticados
no Brasil (com direito à reportagem no New
York Times) continuam na Paulicéia ou voaram para outros cantos?
Mas não fica por aí. A presidenta - como ela gostava de ser
chamada, e os seus cortesãos nisso se especializavam - o que nos diz do
Real, que por bom tempo foi uma das
divisas mais estáveis em relação ao dólar estadunidense ?
O assistencialismo -
simbolizado pelo Bolsa-Família,
programa cuja importância se traduz na decretação de déficits no orçamento -
não é motor de crescimento econômico. Mesada nunca foi passaporte para a
ascensão social.
Outra fábrica de déficits -
e das famigeradas pedaladas fiscais,
condenadas pelo TCU - foram os programas de estímulo ao crescimento por meio
das desonerações fiscais, que custaram
ao erário dezesseis bilhões !E qual o fim desse programa senão estimular a
produção das feitorias (fábricas de automóveis) estrangeiras aqui instaladas. A
idéia era acionar o crescimento econômico através do consumo. Para tanto, o
Tesouro precisou renunciar aos tais dezesseis
bilhões, para que as sucursais pudessem continuar as suas remessas para as
sedes automotivas na Europa, Ásia e Estados Unidos, porque o governo militar (e
esse erro não foi do PT) resolvera sucatear as nossas empresas
automobilísticas, de modo que o Brasil é a única economia entre as maiores que
não tem indústria automotiva nacional (só a de auto-peças, que pelo mecanismo
do monopsônio - que é o contrário do monopólio - só que aqui é o comprador
único, que obviamente dita os preços).
A recessão forte - nove
milhões de desempregados - é outra jóia da gestão Dilma. Nesse quadro, não
surpreende que o desemprego na indústria automobilística tenha aumentado, e que
as montadoras tenham desativado 50% das linhas de produção.
Quais os grandes projetos
da gestão Dilma? O trem-bala, por acaso? Ou a faraônica obra da transposição do
rio São Francisco, hoje parada há bastante tempo?
Se colocarmos a incompetência
política - que fez malograr o ajuste financeiro de Joaquim Levy, funcionário
competente, que foi tragado pela incompetência
financeira (até orçamento com déficit ela nos arrumou, para expor na
própria fuselagem a redução na nota das agências de risco - agora o nível de
investimento virou ítem de saudosismo político-econômico).
Nelson Barbosa foi a
Davos, e não creio que terá sido invejável a recepção que lá teve, como
sucessor de Joaquim Levy. Que valor terão as suas promessas? Que exibiu como troféus? O naufrágio do Plano
Real? A falta de verbas? Só não faltam dotações para os subsídios partidários.
Além de ocuparem o tempo nobre da tevê com programas de indigente propaganda,
Dilma Rousseff garantiu R$ 819 milhões para os partidos! Como se pode definir isso, senão por
insensatez e despautério, quando falta dinheiro para os hospitais, não há
campanhas sérias contra a dengue e agora o virus zica?
(a continuar)
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, The New York
Times )
[1] O mais engraçado é que o
site de O Globo desta quarta-feira noticia uma reunião econômica de Lula com a
dupla Belluzzo-Delfim. Pelo visto, o PT não dispõe de outra arma econômica!
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