sexta-feira, 15 de janeiro de 2016

Desânimo em Pindorama?


                                     

        Antes de ser ejetado do governo, Joaquim Levy já havia sido esvaziado na prática, como fator de correção, pelo governo petista de Dilma Rousseff.

         Pré-anunciado pela atualização dentro do antigo critério inflacionário do salário mínimo, marcado por puxão de orelhas no então Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa, que naquele momento ter-se-á dado conta de que o ajuste não era para valer, se contrariasse a Presidenta.

        Levy seguiria seu curso, paulatina e progressivamente irrelevante no quadro geral, até a saída, que poderia ter sido antecipada, não fosse para dispensar um inútil jogo de cena.

        A reeleição de Dilma Rousseff, lograda por conjunção de fatores inerciais, a que se juntou exitosa - porém necessariamente de curto prazo -  campanha de maciça desinformação de grande parte do eleitorado, iria dar no que ora está acontecendo em Brasília.

        A tramitação do impeachment da presidente, interrompida por recurso ao Supremo, feito por partido cliente do PT, teve surpreendente resultado negativo no Supremo, que derrubou por um voto as disposições da Câmara. Contudo, o desrespeito de decisões interna corporis da Câmara dos Deputados criou celeuma, com juristas de nomeada censurando a intromissão do STF. Com isto, existe possibilidade de que os embargos de declaração possam vir a corrigir tal situação.

         Desapareceu do visor, no entanto, a esperança que luzira mais forte com a proposta de ajuste fiscal que a entrada de Levy no Ministério sinalizara. Esqueceu-se, porém, que a nociva presença do fator Dilma continuava a ser computada, com as inevitáveis consequências da falta de credibilidade em um Congresso que não mais respondia a quem fora em grande parte responsável pela sua eleição.

         O faz-de-conta pode ter perniciosas consequências. Como não vivemos no parlamentarismo - em que a dissolução de governo e parlamento paira salutarmente no horizonte - os alegres compadres de Brasília[1] puderam continuar com o seu programa à tripa forra. Constrangida a engolir a dieta do bom-senso, dona Dilma tampouco se empenhou em contrariar gente que pensa como ela. No limite, é verdade, algo se salvou, como a anulação da pauta bomba do Judiciário. Mas foi pouco, muito pouco.

          Formado na escola dos commis d'État, Levy pensaria na boa intenção de seus adversários ideológicos, o que os tornaria suscetíveis de aprendizado. Infelizmente, só poderia dar no que deu.

          As 'vitórias' assim de dona Dilma são de Pirro, justamente aquele rei do Épiro que aos seus generais que lhe cumprimentavam pela 'vitoria', disse: 'com mais triunfos como este, o meu exército está perdido'.

           O mesmo se poderia dizer  do projeto de orçamento mandado para o Congresso com um senhor déficit.  A presidenta é especialista nesse tipo de jogada, em que de cambulhada obtém dois resultados negativos de uma só vez: desmoraliza o seu suposto principal auxiliar e, ao mesmo tempo, baralha a imagem do Brasil no exterior, em particular em agência de avaliação de risco, que se compraz em derrubar a nota de crédito do Brasil...

            Navegando não em mar de almirante com a sua aprovação oscilando entre um e dois magros dígitos, a administração da Rousseff é um exemplo de patético desgoverno. Com razão, o mercado enjeitara o seu novo ministro da Fazenda, o petista obediente Nelson Barbosa - que só pode prometer mais do mesmo, o que não é exatamente receita para nos tirar do atoleiro fiscal.

            Para o Supremo - que em momento de baixa inspiração derribara a cláusula de barreira  - cresce o embaraçoso ridículo de uma penca de partidos - a caminho dos quarenta! - como se a pluralidade ideológica admitisse um farsesco número, em que se congregam, além dos velhos partidos, criações fantasiosas e legendas de aluguel. Falta aquilo que os italianos chamam de ritegno[2], porque o Brasil não pode fingir que confunde quantidade com qualidade. As ideologias têm um limite, que é o do bom senso. Elas não se vendem a granel como na quitanda da esquina. Agora, Dilma - que não ousa contrariar o Congresso - autoriza R$ 819 milhões para o Fundo Partidário (valor 163% maior do que o autorizado pelo próprio Governo). O que se pode esperar de um governo fraco como o atual, corroído por escândalos, e cuja sustentação parlamentar se perde na noite do estelionato eleitor, do 171 erigido em dístico da esperança.

              A mão do Planalto não é exatamente aquela de Midas. Os acordos de leniência, com o patrocínio do Governo,altera fundamente as bases da Lei anticorrupção. Assinada por Dilma Rousseff ao apagar das luzes do calendário político de Brasília. Como assinala o Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, essa MP fere de morte os princípios da Lei anticorrupção  por três razões básicas: (a) abre caminho  para a impunidade ao permitir que empresas que corromperam agentes públicos e se beneficiaram da prática, voltem a fechar contratos com o Governo Federal; (b) limita o papel do MP e do TCU  na costura de acordo de leniência, em proporção igual em que aumenta o poder de decisão da CGU no assunto; e (c ) por quebrar a espinha dorsal de método de investigação usado com sucesso pela Lava-Jato vinha usando com sucesso até agora e que se baseia no chamado "dilema do prisioneiro".  Já foi calculado por pesquisadores americanos  e modelos matemáticos que é sempre mais vantajoso para o preso falar do que ficar calado. Para a lei brasileira vigente, apenas a primeira empresa que decida colaborar pode ser beneficiada com punições e multas menores. Já na nova versão dílmica, diversas empresas podem firmar acordos de leniência simultaneamente, e sem necessidade de apresentar novos elementos. O óbvio risco no caso é o de cartelização.              

             Ao invés de aprimorá-la e reforçá-la, mais uma vez o governo petista age para enfraquecer a legislação existente. A pergunta que se coloca volta a ser: de que lado eles estão?

 

( Fontes:  O Globo, Folha de S.Paulo, Revista VEJA )



[1] Como diria Júlio Tavares, heterônimo do então cassado Carlos Lacerda.
[2] Freio, reserva.

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