A quem tem olhos para ver e cabeça para entender, não escapará o que está
afinal acontecendo na América Latina. Depois da longa noite do regime militar,
da luta comprida para trazer a alvorada
da democracia, surge entre os rivais por adentrar as cálidas, sedosas promessas
na alcova do poder o assistencialismo sindical.
A
vaga populista passará por movimento do proletariado, açulado pelos
demagogos de plantão, supostamente sem preconceitos quanto aos meios e modos de
chegar às instâncias dos meios do poder, se possível sem limites, e se for o
caso, com a flexibilidade necessária para concluir arreglos e contubérnios,
meros biombos democráticos, de que a seu tempo pensam desfazer-se.
A
história da América Latina continua triste. Nesse vasto e fértil campo, eles
deixam por um tempo arar a lavoura democrática. Dentre os pretendentes à cobiçada
alcova, à falta do campeão dos muitos enganos e do certeiro golpe, poderá
empolgar a dama de turno do poder aquele que diante dos obstáculos melhor
saberá ou envolvê-los, ou superá-los, atendido e sopesado o desafio que se lhe
depara.
Há três histórias pelo menos nas
Américas: ao norte, cresceu o poder anglo-saxônico, que se alargou do Atlântico
ao Pacífico, levando de cambulhada os avanços à oriente de Espanha; no
meridião, nas Américas do Centro e do Sul, Espanha e Portugal lançaram suas
pretensões, e ali se implantaram os
herdeiros de portugueses e espanhóis. Na América do Sul e Central, coube o
Pacífico aos descendentes de Castela, com as numerosas culturas indígenas, que
decairiam diante dos conquistadores; e no Atlântico, o português, com seu
engenho e pertinácia, além do extenso litoral do continente Brasil, avançaria
pelas entradas e bandeiras, à cata de ouro e pedras preciosas. Pelos imensos
sertões o forte bandeirante, além do intrépido Pedro Teixeira que, em entrada
grandiosa, assustaria aos meio-adormecidos súditos de Espanha nas alturas
quitenhas.
Dessarte, no ingente Sul e ao pé do Setentrião, os filhos de Portugal e
Espanha criariam as nações respectivas. E ao Brasil, por graça da argúcia lusa,
caberia a conquista de uma só Nação, que se estende do Oiapoque ao Chuí. Pelas
aleias do governo, coube à fundação luso-brasileira, um país imenso e unido
pela força inicial da legitimidade do regime dinástico. Enquanto aos filhos de
Espanha e das civilizações maia, asteca, inca e aymará, couberam diversas
regiões divididas pela tradição respectivas, e pelas sucessoras repúblicas, o
prêmio alcançado pelo sagaz e providente colonizador luso seria o
continente-Brasil, que o sangue de Pedro I e a pertinácia dos brasileiros
saberia manter unido, no embate das porfias intestinas e nas levantadas cabeças
de ocasionais regionalismos.
Mas na
república brasileira que no lusco-fusco do século dezenove nasceria de um parto
imprevisto, pela mão de um militar que organizaria a quartelada do quinze de
novembro - e que estadista argentino deploraria como o passamento da "última
república americana” - nas vascas da agonia da mais longa ditadura castrense
que nos coube no imenso latifúndio de Latino America, repontaria a cabeça do assistencialismo, encimado com as
letras do Partido dos Trabalhadores.
O PT,
jacobino sem sabê-lo, foi anunciado com
o abraço da intelligentsia e a bênção
de corrente igrejeira. Pretendia falar pela voz de jovem dirigente sindical -
que já tivera o batismo do cárcere - e foi por isso saudado com o antegozo de
conquistas futuras. O nascente petismo prezava os gestos de efeito, como quando
se recusou a assinar a Constituição de 5 de outubro de 1988, a Constituição
Cidadã. A sua bancada era então diminuta, mas em postura que repetiria no
futuro, negou-se a subscrever a Carta Magna. A facilidade com que enjeitava a
nossa alforria democrática refletia um zelo que mais tarde se desfaria, quando o
seu líder e a pequena bancada lograriam ser introduzidos, a posteriori, entre os subscritores que haviam na devida data, com
a tinta ainda úmida do compromisso assumido, após a longa noite da ditadura
militar.
O
Brasil progredirá mais no bom caminho, quando os gestos valerão por si mesmo. É
muito fácil dar-se ares de zeloso e intransigente, negando-se a firmar
documento que correspondera ao desejo da Nação, para depois da noite do jeitinho, pedir a alforria de uma
escusa, e firmar a Carta, como se nada fora, quando a jogada do zelo
intransigente fora cercada pela indiferença geral. Quem nega apoio na hora do
perigo e da decisão, está decerto intitulado a exibir a sua intolerância de
princípio, mas não tem direito a vir depois adentrar os signatários da primeira
hora, como se o vazio gesto da recusa fosse apenas para a arquibancada. Quando
o Brasil deixar de ser a terra do jeitinho teremos avançado em termos de
responsabilidade e de respeito aos nossos concidadãos.
A
demagogia desses regimes, filhos ilegítimos do poder sindicalista e da
corrupção, atravessa, graças à crise do chavismo, um momento difícil, que
esperemos, pela felicidade de Latino-América, possa conduzir à vitória da
democracia.
Na
Venezuela, aquele povo sofrido - qual não é nessa América Latina? - votou
plebiscitariamente por dar enorme maioria à oposição na Assembleia Nacional. Maduro, esse caricatural caudilho, que
arremeda o primeiro homem-forte daquele país, Hugo Chávez Frias, tenta valer-se de seus serviços ilegais de
segurança para arrochar de novo o poder.
No
Brasil, o petismo, dentre os seus muitos crimes, está a entrega do Itamaraty a
oportunistas e aos seus supostos intelectuais, como Marco Aurélio Garcia
Lograram fazer, com ministros fracos, muita vez apenas máscaras de proa, que a
diplomacia brasileira se adulterasse em uma versão sindicalista. O que os militares tiveram a sabedoria de
manter - como carreira de estado sabiam que não era inteligente intrometer-se
na diplomacia de Rio Branco - o PT de Lula e, pior ainda, com Dilma Rousseff -
que rebaixou a Casa do Barão (a mais baixa verba entre os 39 ministérios do regime
petista) a funções lamentáveis, como aliar-se a Putin na conquista da Crimeia, abstendo-se
na Recomendação da Assembleia Geral, no que contrariou a nossa Constituição
(que proíbe guerra de conquista).
Ao
abraçarmos o sindicalismo à outrance do PT,
e a cair nesses enormes déficits,
crianças abandonadas pela incompetência de Dilma, o Brasil com o governo
petista está no mesmo plano dos ditadores Rafael Correa (Equador), Evo Morales
(Bolívia) e até há pouco Cristina Kirchner.
O povo argentino recusou o peronismo, ao eleger o democrata Macri.
No
Equador e na Bolívia, o braço do homem forte - que se eterniza em reeleições
sucessivas - está aí, como mais um avatar da ditadura sindical.
Essa
noite da demagogia do poder sindical cujas teias se estendem à Justiça e a um
ambiente em que se cultua o medo como gerenciador de condutas, se apresenta
tanto na Nicarágua sandinista, no Equador de Márquez, na Bolívia de Morales,
assim como e a fortiori no corrupto
desgoverno de Maduro. O seu emproado Diosdado Cabello já não é mais presidente
da Assembléia Nacional, e ele teme pela sua entrega à Justiça Americana, para
que explique o que tem a ver com o Narco-tráfico.
Já o
incrível Maduro construíu a sua própria cova. Não podendo mais, como era
costume chavista, estufar as urnas, no lusco-fusco das eleições (porque até
mesmo as populações das favelas se recusam a permitir esse truque comum nos
países árabes e africanos, com que se debocha das maiorias que condenam os
desmandos dos ditadores), se a aliança
democrática que assumiu a direção da Assembleia Nacional tiver juízo o fim do
chavismo está escrito naquela enorme parede que a História mantém sob os seus
cuidados desde que Baltazar leu o mene tekel nas paredes da própria derradeira
orgia.
Começa
a soar a hora de que o Brasil não mais achincalhe sua gente, seu governo e sua diplomacia com um regime que abre as
portas para a inflação, e que pensa cavalgar a corrupção.
O
Brasil, a começar pela própria antiga diplomacia, tem muito a orgulhar-se.
Vamos fechar esse parêntese que só nos tem trazido inflação, corrupção e
tráfico de influência. Pela sua condição, o regime petista a tudo corrompe.
O
Brasil é grande demais para sucumbir às tentações de imitações rasteiras.
Vamos
ter governo com capital maiúscula. Não carecemos de imitar regimes que só
trazem a fraude, tanto nas eleições trucadas, quanto nos contubérnios com a
mala vita e a corrupção.
( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo )
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