quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

OMS: a explosão do Zika


                                 

         Segundo funcionários da Organização Mundial de Saúde (OMS), o vírus Zika se está espalhando nas Américas de forma explosiva. Nesse sentido, está prevista uma reunião de emergência nesta segunda, 1° de fevereiro, para decidir acerca de declarar emergência  na saúde pública.

          A Dra. Margaret Chan, Diretora-Geral da OMS, afirmou, em discurso na sede genebrina, que "o nível de alarme está extremamente alto".

          Assim, três a quatro milhões de pessoas nas Américas podem ficar expostas ao vírus nos próximos doze meses, nas palavras do Dr. Sylvain Aldighieri, chefe de unidade na OPAS (Organização Pan-americana de Saúde).  O Dr. Aldighieri precisou, no entanto, que há muitos vazios (gaps) em termos de confirmação da situação real: "São estimativas matemáticas."

           Nas palavras da Dra. Chan, causam muita preocupação os casos de microcefalia, uma condição rara em que os bebês nascem com cabeças anormalmente pequenas, o que tem aumentado dramaticamente no Brasil à medida que o Zika se difunde.  Os expertos dizem que é ainda muito cedo para afirmar que o Zika é a causa dessa condição. De qualquer forma, há algumas indicações de que os dois estejam ligados.

           As autoridades sanitárias no Brasil disseram nesta quarta-feira,27 de janeiro, que os casos assinalados de microcefalia ascenderam a 4.180 desde outubro último, um aumento de 7 por cento do último dado disponível na semana passada. Antes da epidemia, o Brasil comunicava cerca de 150 casos de microcefalia por ano.

            Tal causou alarme generalizado, dada a recente aparição do virus no Brasil, e logo em seguida o enorme salto em casos de microcefalia prontamente informados por médicos, hospitais e funcionários sanitários.

            Mas por ora, ainda não é possível provar que o Zika é a causa.

            Nesse contexto, o Dr. Bruce Aylward, diretor-geral-adjunto da OMS,  observa que "é realmente importante entender a diferença entre associações e causas". Assinalou que há ainda muitas questões a respeito de se  o vírus zika e a microcefalia sejam ligados ou não.

             O Ministério da Saúde do Brasil informou na quarta-feira  que tinha examinado mais de 700 casos  de microcefalia e detectado o Zika em apenas seis crianças - embora ainda não se saiba ao certo o que isto significa.

              Os especialistas em doenças infecciosas recomendam cautela visto que os métodos de exame do Brasil estão ultrapassados e que lhe pode por isso escapar muitos casos de Zika. Eles também dizem que em alguns casos a mãe pode ter sido infectada pelo Zika, causando a microcefalia no seu bebê, mesmo se o vírus não for detectado no recém-nascido.

              O vírus espalhou-se por mais de vinte países e território nessa região.  A Dra. Chan disse que estava "muito preocupada com esta situação que evolui rapidamente". Ela também se manifestou alarmada pelo potencial de ulterior difusão do vírus, se se levar em conta a ubiquidade dos mosquitos vetores e o número muito reduzido de pessoas  que desenvolveram imunidade contra ele.  O vírus, que apareceu em Uganda nos anos quarenta, raramente havia sido detectado nas Américas.

              Nas palavras da Dra. Chan, "o nível de preocupação é alto, assim como o é, o nível de incerteza".  "Abundam as perguntas. Precisamos obter algumas respostas logo."

              Na OMS, enquanto a Diretora-Geral, Dra. Chan, tem tom de preocupação profunda, o Dr. Aylward, o Diretor-Geral adjunto deu a impressão de baixar um tanto nas previsões mais terríveis sobre a doença.

              "Preocupado é por certo o termo apropriado para ser empregado. Alarmado não seria no meu entender a linguagem acertada."

               Indagado acerca da possibilidade de que a OMS aconselhasse as pessoas a não viajar ao Brasil para as Olimpíadas,  o Dr. Aylward respondeu: "Eu pensaria que isso seria muito, muito improvável quando se vê as áreas afetadas e o âmbito disso."

                Houve críticas de alguns expertos à Dra. Chan, por não convocar de imediato um comitê para opinar se é o caso de declarar Zika uma emergência pública de saúde.

                Na revista especializada JAMA, dois expertos opinaram em favor de um encontro imediato,  dizendo que a hesitação de parte da OMS repetia a reação lenta da Agência quando surgiu a epidemia de ébola em 2014.

                Nesse sentido, os especialistas escreveram: "o próprio processo  de convocar o comitê catalizaria atenção internacional, fundos e pesquisa."

                A Dra. Chan não atendeu de imediato a sugestão dos especialistas. Disse que  pediria ao comitê conselhos acerca do "nível apropriado de preocupação (concern) internacional" e que medidas a OMS deveria recomendar aos países afetados para que sejam tomadas. Também pediria ao Comitê para identificar as prioridades de pesquisa.

                   Um problema, segundo referiu a Dra. Chan, é que inexiste vacina contra o vírus ou um rápido teste-diagnóstico para determinar se alguém está infectado. Por sua vez, o Dr. Anthony S. Fauci,  diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, declarou, em entrevista, que os cientistas nos Institutos Nacionais de Saúde estão trabalhando nas duas questões.

                    "Já estamos a caminho, nos primeiros passos para desenvolver uma vacina. E começamos a trabalhar em um diagnóstico para dizer se alguém está infectado."

 

(Transcrito do New York Times, em reportagem de Sabrina Tavernise).      

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