Segundo funcionários da Organização Mundial de Saúde
(OMS), o vírus Zika se está espalhando nas Américas de forma explosiva. Nesse
sentido, está prevista uma reunião de emergência nesta segunda, 1° de
fevereiro, para decidir acerca de declarar emergência na saúde pública.
A Dra. Margaret Chan, Diretora-Geral
da OMS, afirmou, em discurso na sede genebrina, que "o nível de alarme
está extremamente alto".
Assim, três a quatro milhões de pessoas
nas Américas podem ficar expostas ao vírus nos próximos doze meses, nas
palavras do Dr. Sylvain Aldighieri, chefe de unidade na OPAS (Organização
Pan-americana de Saúde). O Dr.
Aldighieri precisou, no entanto, que há muitos vazios (gaps) em termos de
confirmação da situação real: "São estimativas matemáticas."
Nas palavras da Dra. Chan, causam
muita preocupação os casos de microcefalia, uma condição rara em que os bebês
nascem com cabeças anormalmente pequenas, o que tem aumentado dramaticamente no
Brasil à medida que o Zika se difunde.
Os expertos dizem que é ainda muito cedo para afirmar que o Zika é a
causa dessa condição. De qualquer forma, há algumas indicações de que os dois
estejam ligados.
As autoridades sanitárias no Brasil
disseram nesta quarta-feira,27 de janeiro, que os casos assinalados de
microcefalia ascenderam a 4.180 desde outubro último, um aumento de 7 por cento
do último dado disponível na semana passada. Antes da epidemia, o Brasil
comunicava cerca de 150 casos de microcefalia por ano.
Tal causou alarme generalizado,
dada a recente aparição do virus no Brasil, e logo em seguida o enorme salto em
casos de microcefalia prontamente informados por médicos, hospitais e
funcionários sanitários.
Mas por ora, ainda não é possível provar
que o Zika é a causa.
Nesse contexto, o Dr. Bruce
Aylward, diretor-geral-adjunto da OMS, observa que "é realmente importante entender
a diferença entre associações e causas". Assinalou que há ainda muitas
questões a respeito de se o vírus zika e
a microcefalia sejam ligados ou não.
O Ministério da Saúde do Brasil
informou na quarta-feira que tinha
examinado mais de 700 casos de
microcefalia e detectado o Zika em apenas seis crianças - embora ainda não se
saiba ao certo o que isto significa.
Os especialistas em doenças
infecciosas recomendam cautela visto que os métodos de exame do Brasil estão
ultrapassados e que lhe pode por isso escapar muitos casos de Zika. Eles também
dizem que em alguns casos a mãe pode ter sido infectada pelo Zika, causando a
microcefalia no seu bebê, mesmo se o vírus não for detectado no recém-nascido.
O vírus espalhou-se por mais de
vinte países e território nessa região.
A Dra. Chan disse que estava "muito preocupada com esta situação
que evolui rapidamente". Ela também se manifestou alarmada pelo potencial
de ulterior difusão do vírus, se se levar em conta a ubiquidade dos mosquitos
vetores e o número muito reduzido de pessoas
que desenvolveram imunidade contra ele.
O vírus, que apareceu em Uganda nos anos quarenta, raramente havia sido
detectado nas Américas.
Nas palavras da Dra. Chan, "o
nível de preocupação é alto, assim como o é, o nível de incerteza". "Abundam as perguntas. Precisamos obter
algumas respostas logo."
Na OMS, enquanto a
Diretora-Geral, Dra. Chan, tem tom de preocupação profunda, o Dr. Aylward, o
Diretor-Geral adjunto deu a impressão de baixar um tanto nas previsões mais
terríveis sobre a doença.
"Preocupado é por certo o
termo apropriado para ser empregado. Alarmado não seria no meu entender a
linguagem acertada."
Indagado acerca da possibilidade
de que a OMS aconselhasse as pessoas a não
viajar ao Brasil para as Olimpíadas, o
Dr. Aylward respondeu: "Eu pensaria que isso seria muito, muito improvável
quando se vê as áreas afetadas e o âmbito disso."
Houve críticas de alguns expertos à Dra. Chan, por não convocar de
imediato um comitê para opinar se é o caso de declarar Zika uma emergência
pública de saúde.
Na revista especializada JAMA,
dois expertos opinaram em favor de um encontro imediato, dizendo que a hesitação de parte da OMS
repetia a reação lenta da Agência quando surgiu a epidemia de ébola em 2014.
Nesse sentido, os especialistas
escreveram: "o próprio processo de
convocar o comitê catalizaria atenção internacional, fundos e pesquisa."
A Dra. Chan não atendeu de
imediato a sugestão dos especialistas. Disse que pediria ao comitê conselhos acerca do
"nível apropriado de preocupação (concern) internacional" e que
medidas a OMS deveria recomendar aos países afetados para que sejam tomadas.
Também pediria ao Comitê para identificar as prioridades de pesquisa.
Um problema, segundo referiu
a Dra. Chan, é que inexiste vacina contra o vírus ou um rápido
teste-diagnóstico para determinar se alguém está infectado. Por sua vez, o Dr.
Anthony S. Fauci, diretor do Instituto
Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, declarou, em entrevista, que os
cientistas nos Institutos Nacionais de Saúde estão trabalhando nas duas
questões.
"Já estamos a caminho,
nos primeiros passos para desenvolver uma vacina. E começamos a trabalhar em um
diagnóstico para dizer se alguém está infectado."
(Transcrito do New York Times, em reportagem de
Sabrina Tavernise).
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