sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A Chave do Claro Enigma ?


                                

          Não se poderia dizer que The Economist seja grande amigo do Brasil. Mas na mídia, em termos de economia e política, as amizades ou não contam, ou contam muito pouco.

          Os fatos e os números não são cartas, nem conchas que jogadas em mesa ou tabuleiro, possam encerrar esotéricos números e composições, só abertos e legíveis para os luzentes olhos de magos e videntes.

          Por isso se a câmera do fotógrafo trouxe para a capa da revista o rosto da Presidente Dilma Rousseff, com rugas nos olhos, face e pescoço, na cruel, demasiada cercania da objetiva, a composição se encaixa nas brancas letras do título A Queda do Brasil, e em tipo menor, Dilma Rousseff e o desastroso ano pela frente.

           No par de gordas colunas de página inteira, se repetem as palavras da capa, e bastam duas na concisão do inglês. Se em 2016 o Brasil deveria estar com disposição exuberante à espera da primeira Olimpíada na América do Sul, ao invés disso  enfrenta desastre político e econômico (o Economist não menciona o flagelo do zika porque a revista é da primeira semana deste ano). Segue pequeno resumo dos percalços: a agência Fitch rebaixa a dívida do Brasil para o status de lixo (junk), o Ministro Joaquim Levy, designado por Dilma para estabilizar as finanças públicas, abandona o barco em desespero. A previsão da economia é que encolha 2.5-3% em 2016. Até a Rússia, apesar das sanções, deve sair-se melhor. Ao mesmo tempo, a coalizão governante está desacreditada pelo escândalo do Petrolão. E a Sra. Rousseff, acusada de ocultar o tamanho do déficit orçamentário, enfrenta um processo de impeachment no Congresso.

             Como o B do acrônimo Brics, se presumiria que o Brasil esteja na vanguarda das economias emergentes. Ao invés, defronta a disfunção política e talvez a volta para a inflação descontrolada. Apenas escolhas difíceis poderiam recolocar o Brasil, mas a Sra. Rousseff não parecer ter estômago para enfrentá-las.

              O sofrimento do Brasil, como o de outras economias emergentes, provem em parte da queda mundial nos preços dos produtos de base. Mas Dilma e o seu esquerdista Partido dos Trabalhadores tornaram muito pior uma situação ruim. No primeiro mandato, gastou de forma extravagante e despropositada em pensões  mais altas e improdutivas vantagens tributárias para certas indústrias (de bens de consumo durável).  O déficit fiscal inchou de 2% para 10% em 2015.

                  A gerência da crise não se pode dar ao luxo de esperar por tempos melhores.  A Dívida Pública está em 70% do PIB, o que é muito grande para um país de renda média que queira crescer rápido. Por causa de altos juros, o serviço da dívida corresponde a um pesado 7% do PNB. Por outro lado, por causa do alto nível dos juros, o Banco Central não pode recorrer com facilidade à política monetária para combater a inflação (hoje em 10.5%). Nesse sentido, o Brasil não tem outra escolha que a de elevar os impostos e cortar as despesas.

                    Levy cortou as despesas discricionárias em R$ 70 bilhões em 2015 e tornou mais estritas as exigências para o seguro-desemprego. Mas não bastou. A recessão derrubou os rendimentos tributários. Dilma pouco apoiou o seu Ministro da Fazenda, e o PT lhe foi hostil.  A oposição, cujo escopo é derrubar a presidente, não tinha condições de cooperar.

                    O Economist tem esperanças de que Nelson Barbosa possa conseguir melhores resultados como Ministro da Fazenda. Tem apoio do PT, e também poder de barganha, porque a Sra. Rousseff não se poderia permitir perder outro Ministro da Fazenda. O primeiro teste seria a CPMF.

                     Outro objetivo prioritário seriam as pensões. Como não podem ficar abaixo do salário mínimo - e deve notar-se que o mínimo subiu em 90% na última década o peso nas pensões aumenta com as mulheres se aposentando aos cinquenta e os homens aos 55 - o Brasil paga quase 12% do PIB para os aposentados, uma parcela maior do que o Japão, que tem média mais alta de idade na população e é mais rico.

                      Mas o que precisa ser feito é muito mais. O código tributário brasileiro exige que empresa manufatureira brasileira gaste 2.600 horas por ano para cumprir com as obrigações desse intricado e pouco manejável regime legal (o tempo exigido por seus equivalentes na América Latina é 356 horas ). O código trabalhista brasileiro, baseado no fascista de Mussolini, torna dispendioso para as empresas demitirem até mesmo empregados incompetentes.  Outro aspecto negativo é a blindagem que a legislação nacional confere às firmas brasileiras, em termos de concorrência.  E o resultado é que, entre 41 países com performance medida pela OCDE,  a nossa produtividade manufatureira é a quarta - se contarmos a partir do último...

                        São previsíveis, por conseguinte, as dificuldades a serem enfrentadas para reformar o código trabalhista e as pensões. Cerca de 90% das despesas públicas está protegido de cortes, a começar pela Constituição de 1988. Dada a extrema dificuldade para a reforma, o Brasil rivaliza no tamanho do setor público com os Estados europeus pela própria ineficiência. O Estado no Brasil, pelo seu tamanho, é a principal causa da crise fiscal.

                            Modificar essas práticas enraizadas seria difícil para qualquer governo. No Brasil, isto fica ainda mais difícil, por um meio aloucado sistema político, que favorece a fragmentação partidária  e  a compra de votos (sic) além de atrair  mercenários políticos que tem poucos compromissos seja  com o partido e o programa.  É baixo o limite para que um partido entre na Câmara; hoje 28 partidos estão representados no Congresso. No entender do Economist, as intricâncias no sistema político-partidário podem tornar muito caras as campanhas políticas, o que seria uma das razões porque os políticos subtraíram somas tão grandes de dinheiro da Petrobrás.

                              Para o Economist, portanto, não há boas perspectivas, apesar das qualidades de Nelson Barbosa, de ser otimista quanto a uma reforma profunda.  Os cidadãos votantes sentem desprezo  pelos políticos.  A oposição deseja aprovar o impeachment de Dilma, que o Economist considera uma batalha pouco razoável, e que poderia dominar a agenda política por meses. O PT não tem apetite por austeridade e lograr os três quintos de apoio necessário  nas duas Casas do Congresso para reformas constitucionais será objetivo muito difícil de atingir.

A Imprudente Rousseff 

        Ao cabo, o Economist se pergunta e se a Sra. Rousseff falhar em implantar a mudança?  Como a maior parte da dívida do Brasil está em moeda nacional, isso torna o default (incapacidade de pagamento) improvável. Ao invés, o país poderia se livrar das dívidas através da desvalorização inflacionária desse débito.  A realização do Brasil tem sido tirar dezenas de milhões de pessoas dos andrajos e das inconstâncias da pobreza. A recessão poderá deter tal processo, ou mesmo começar a revertê-lo.

        A esperança está em que o Brasil, que alcançou estabilidade econômica e democrática, não caia de novo em crônica desordem e mal-gerenciamento econômico.   

(a continuar)  

 

( Fonte: tradução do artigo principal de 'The Economist', datado de 2.01.2016 )            

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