terça-feira, 19 de janeiro de 2016

Histórias pouco edificantes


                                   

A morte de Gabriel

 

            O menino Gabriel tinha doze anos. Estava internado na Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em hospital de Brasília. À espera de um coração novo, aguardava o transplante.

            No primeiro dia do ano surgira a esperada oportunidade. Havia disponível coração em boas condições, em Pouso Alegre, Minas Gerais, a menos de mil km da capital federal.

            Familiares contam que Gabriel tinha coração com alterações, um problema que já vitimara dois tios. Por isso, o menino dependia de um transplante para viver.

            Gabriel teve duas oportunidades para viver uma vida normal.  A primeira surgiu no primeiro dia do ano, com um coração em boas condições, disponível em Pouso Alegre (MG), a menos de mil km da capital federal.

             As condições eram favoráveis ao transplante do coração. A Central Nacional de Transplantes não apresentou objeções sobre a qualidade do órgão.  Fez apenas referência ao problema logístico. Pouso Alegre tem um aeroporto; naquele dia, aviões da FAB não decolaram para transportar autoridades; e a FAB já fez percursos maiores, um deles superior a 1500 km, para buscar corações que foram transplantados em pacientes de Brasília.

             O destino ensejaria a Gabriel uma nova oportunidade. No sábado, dia dois, por volta das 16hs., uma nova doação de coração surgiu no sistema de transplantes e, dessa vez, em Brasília. Não haveria, portanto, necessidade sequer de transporte aéreo.  Adolescente de 16 anos do Distrito Federal  teve morte cerebral ao ser baleado na cabeça.  A família decidiu doar todos os órgãos. Gabriel era o primeiro da fila à espera de um coração. O órgão foi destinado ao segundo da lista.

              No caso de Gabriel, a FAB confirmou a O Globo que recebeu o pedido para o transporte do coração e que "não pôde atender por questões operacionais".  A instituição informou ainda que o episódio passou a ser investigado.

               Há muitos fios soltos nas 'explicações' burocráticas no drama do menino Gabriel.  Por trás desse novelo, parece haver muita indiferença, além de - quem sabe?- a interferência de pistolão. Será o caso de aguardar as anunciadas investigações?  Será que a família do pobre Gabriel, que teve o próprio direito ignorado por duas vezes, terá satisfações? E de que serve esse tipo de desculpa, se a realidade brutal das influências dispôs, com burocrática frieza, da vida de um menino que esperara em vão?

 

Falhas no licenciamento da Barragem de Mariana

 

            O Ministério Público de Minas Gerais investiga como a Samarco conseguiu autorização do Governo Estadual para a construção da barragem de Fundão, que rompeu, como é público e notório, em novembro último.

            A Samarco - que é uma empresa que representa as duas reais proprietárias da barragem - a Vale e a empresa anglo-australiana BHP Billiton - conseguira autorização para a licença prévia para a obra em Mariana, em 2007, sem que a mineradora apresentasse o projeto executivo, que reúne todas as informações de uma intervenção desse porte.

            Os técnicos do Governo solicitaram a realização de um estudo sobre o escoamento da água.  A barragem é vizinha à pilha do estéril - materiais descartados durante a mineração - da Vale (uma das co-proprietárias). Havia a preocupação de que, com a ampliação da barragem, as duas estruturas pudessem se encontrar. O estudo, segundo a investigação, tampouco foi apresentado.

             Para o Ministério Público, o licenciamento foi decisivo para que ocorresse a tragédia.

              Assinale-se que essa tragédia deixou dezessete mortos e dois desaparecidos. A enxurrada de lama provocou enormes transtornos em cidades do vale do rio Doce a jusante, cidades essas situadas em Minas Gerais e Espírito Santo. 

              A par da tragédia social, houve enorme impacto ambiental: depois de contaminar todo o curso a jusante do rio Doce, chegando a lama ao Oceano Atlântico, na costa do Espírito Santo. Agora, o IBAMA investiga se os resíduos alcançaram o litoral sul da Bahia e o arquipélago de Abrolhos.

               Assinale-se, outrossim, que a Presidente da República, Dilma Rousseff, levou uma semana para sobrevoar o sítio da catástrofe. 

                Por outro lado, retro-escavadeiras e outros veículos pesados para ajudarem nos trabalhos no terreno, em função do desastre ambiental, que tinham sido disponibilizados por ente público, desapareceram. A suspeita é que foram furtadas por ladrões. O que estarrece é visualizar que haja sido possível a meliantes apoderar-se de tais equipamentos, sem que a ocorrência tenha sido notada por qualquer agente, estadual ou federal.
 
 

( Fontes:  O Globo; estudo de Alceu Luís Castilho )

Nenhum comentário: