A morte de Gabriel
O menino Gabriel tinha doze anos. Estava internado na
Unidade de Terapia Intensiva (UTI), em hospital de Brasília. À espera de um
coração novo, aguardava o transplante.
No primeiro dia do ano surgira a
esperada oportunidade. Havia disponível coração em boas condições, em Pouso
Alegre, Minas Gerais, a menos de mil km da capital federal.
Familiares contam que Gabriel tinha
coração com alterações, um problema que já vitimara dois tios. Por isso, o
menino dependia de um transplante para viver.
Gabriel teve duas oportunidades
para viver uma vida normal. A primeira
surgiu no primeiro dia do ano, com um coração em boas condições, disponível em
Pouso Alegre (MG), a menos de mil km da capital federal.
As condições eram favoráveis ao
transplante do coração. A Central Nacional de Transplantes não apresentou
objeções sobre a qualidade do órgão. Fez
apenas referência ao problema logístico. Pouso Alegre tem um aeroporto; naquele
dia, aviões da FAB não decolaram para transportar autoridades; e a FAB já fez
percursos maiores, um deles superior a 1500 km, para buscar corações que foram
transplantados em pacientes de Brasília.
O destino ensejaria a Gabriel uma
nova oportunidade. No sábado, dia dois, por volta das 16hs., uma nova doação de
coração surgiu no sistema de transplantes e, dessa vez, em Brasília. Não
haveria, portanto, necessidade sequer de transporte aéreo. Adolescente de 16 anos do Distrito
Federal teve morte cerebral ao ser
baleado na cabeça. A família decidiu
doar todos os órgãos. Gabriel era o primeiro da fila à espera de um coração. O
órgão foi destinado ao segundo da lista.
No caso de Gabriel, a FAB confirmou a O Globo que
recebeu o pedido para o transporte do coração e que "não pôde atender por
questões operacionais". A
instituição informou ainda que o episódio passou a ser investigado.
Há muitos fios soltos nas 'explicações'
burocráticas no drama do menino Gabriel.
Por trás desse novelo, parece haver muita indiferença, além de - quem sabe?- a interferência de pistolão.
Será o caso de aguardar as anunciadas investigações? Será que a família do pobre Gabriel, que teve
o próprio direito ignorado por duas vezes, terá satisfações? E de que serve
esse tipo de desculpa, se a realidade brutal das influências dispôs, com
burocrática frieza, da vida de um menino que esperara em vão?
Falhas no licenciamento da Barragem de
Mariana
O Ministério Público de Minas Gerais investiga como a
Samarco conseguiu autorização do Governo Estadual para a construção da barragem
de Fundão, que rompeu, como é público e notório, em novembro último.
A Samarco - que é uma empresa que
representa as duas reais proprietárias da barragem - a Vale e a empresa anglo-australiana
BHP Billiton - conseguira autorização para a licença prévia para a obra em
Mariana, em 2007, sem que a mineradora apresentasse o projeto executivo, que
reúne todas as informações de uma intervenção desse porte.
Os técnicos do Governo solicitaram
a realização de um estudo sobre o escoamento da água. A barragem é vizinha à pilha do estéril -
materiais descartados durante a mineração - da Vale (uma das co-proprietárias).
Havia a preocupação de que, com a ampliação da barragem, as duas estruturas
pudessem se encontrar. O estudo, segundo a investigação, tampouco foi
apresentado.
Para o Ministério Público, o
licenciamento foi decisivo para que ocorresse a tragédia.
Assinale-se que essa tragédia
deixou dezessete mortos e dois desaparecidos. A enxurrada de lama provocou
enormes transtornos em cidades do vale do rio Doce a jusante, cidades essas
situadas em Minas Gerais e Espírito Santo.
A par da tragédia social, houve
enorme impacto ambiental: depois de contaminar todo o curso a jusante do rio Doce,
chegando a lama ao Oceano Atlântico, na costa do Espírito Santo. Agora, o IBAMA
investiga se os resíduos alcançaram o litoral sul da Bahia e o arquipélago de
Abrolhos.
Assinale-se, outrossim, que a
Presidente da República, Dilma Rousseff, levou uma semana para sobrevoar o
sítio da catástrofe.
Por outro lado,
retro-escavadeiras e outros veículos pesados para ajudarem nos trabalhos no
terreno, em função do desastre ambiental, que tinham sido disponibilizados por
ente público, desapareceram. A suspeita é que foram furtadas por ladrões. O que
estarrece é visualizar que haja sido possível a meliantes apoderar-se de tais
equipamentos, sem que a ocorrência tenha sido notada por qualquer agente,
estadual ou federal.
( Fontes: O
Globo; estudo de Alceu Luís Castilho )
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