segunda-feira, 18 de janeiro de 2016

O Brasil de dona Dilma


                                       

       Para quem conheceu outros Brasis, não é decerto fácil acostumar-se com o de hoje, que, mal terminado o primeiro ano do dílmico segundo mandato, já está irreconhecível.

       Começou falando grosso, prometendo mundos e fundos ... Só deu certo no vetusto setor da corrupção.  Esse velho ralo, na verdade, transformou-se em enorme túnel, onde tudo desaparece, ou em realidade, tudo parte para os  domínios do alheio.

       A corrupção não conhece outro limite, que o da integridade. Quando esta se ausenta, a cancela ficará aberta.

      Primeiro, são os valores que se evaporam. O interesse da pátria vira lençol, quase mortalha,  desenhado por palavras ocas, que fingem curvar-se diante dos valores do direito, transformados em panos rotos  para dissimular, representar invólucros de caso pensado, que servem apenas ao serviço real, feito para atender a interesse que os salteadores do poder acreditam maior, que é o furto sistemático ou o para-legal, simbolizado pelo famigerado artigo 171...

       Dilma não chegou ao poder sozinha. Foi eleita na verdade, apesar de ignorante em experiência política, pelo maior de todos os coronéis. As massas tangidas pelo bolsa-família e o fascínio do grande chefe fizeram-na presidenta. Em nosso país, não existe ainda debate político e interesse em escolher o melhor dentre os candidatos. Pesa na balança a manopla do coronelão, que é obedecido pelas massas, que pensam ter juízo. Surgiu, assim, com o toque grotesco de seu criador, o primeiro poste!

       Na verdade, não era o marco inicial de nova época. Tratava-se apenas da continuação do regime, que já começara há oito anos, e que tinha estruturados o próprio governo, povoado por muitos, muitos ministérios, e também com bastante adiantado o aparelhamento do Estado.

      O partido do fundador do regime, como de resto é a regra, igualmente mudara e muito, tangido pelos supostos imperativos do mando.

      O problema é que o Grande Chefe - por ainda depender de exigências constitucionais - teve de submeter-se a certos formalismos, como recuar um pouco, cedendo o poder por um tempo a alguém da respectiva confiança.

      Foi o que ocorreu em Pindorama, embora se haja descurado das limitações da nova governante. Decaíu a qualidade da administração, e, em função de certas opções, acentou-se a crise. Tinha ela idéias próprias, e  por isso  exagerou nos erros.

      Dentre eles, o maior foi a volta da inflação, com a rápida destruição do Plano Real. Cada vez mais se pensou em multiplicar  ministérios e órgãos de administração, para abrir a participação a mais partidos. Dadas as características de tal gerência, os impostos continuaram a subir, como o demonstrou a geringonça chamada impostômetro.  Mas os donos do poder - os partidos, com o Partido dos Trabalhadores à frente (na verdade, os seus militantes tinham mudado, eis que não mais se pautam pelo rigorismo jacobino dos primeiros tempos, em que até existia corrente de PT igrejeiro!).

       As trapalhadas da herdeira do Grande Líder foram tantas que a sua popularidade sumiu nas vizinhanças do solitário dígito. Também os eleitores não poderiam gostar  que a eleição fosse ganha na marra, tanto por deslavadas  mentiras, quanto na farra das verbas, o que abriu a porta para processos de impeachment e/ou anulação de eleição, por crimes contra a legislação eleitoral.

       Por causa disso tudo, a inflação está nos onze por cento (adeus, Plano  Real !), os desempregados são nove milhões, a economia afunda na areia movediça da quase-depressão e o Brasil retorna  à rabada dos eternos perdedores,  enquanto engrossam os déficits orçamentários.

       Não há certezas quanto ao rumo da Administração de Dilma Rousseff. No bolo das apostas, as figuras fáceis são os corruptos, os escândalos e as surpresas - em geral negativas.

        Em outros tempos, se aconselharia fizesse o zé povinho fezinha na Operação Lava-Jato. Ela é a esperança de um Brasil melhor. Mas temos pela frente árduo, íngreme caminho. Nas grandes crises, tem-se a impressão de que os valores sejam, como em coqueteleira, sacudidos e dissolvidos. Assim, não é que os próprios advogados julgam oportuno e cabível cometer manifesto em que atacam a Lava-Jato, com o intuito aparente de jogá-la no chão? Logo a operação famosa e festejada, que o Povão apoia, e que permitiu ao Juiz Sérgio Moro pôr na cadeia tantos proprietários e diretores de empreiteiras, assim como a chusma  de seus cúmplices ?

          Mas de certa forma, esse abaixo-assinado dos senhores causídicos é mais um integrante do circo do Petrolão. Faz parte, como diria alguém. Só que não contem com o Juiz Gilson Dipp, que fizeram constar como signatário do documento. O ex-Ministro do Superior Tribunal de Justiça, segundo asseverou, não deu a ninguém autorização para pôr seu nome nessa lista...

            Se tudo tem um fim, ele deve vir a seu tempo e lugar. O interesse do regime está em que tudo acabe logo. Mas esta não é a vontade da Nação brasileira.

             A Lava-Jato deve seguir o próprio curso, com a exação que a tem caracterizado, a par da severidade republicana que é a garante da realização dos respectivos fins, que são o do Direito.

             Sem confusões, por favor, nem jogadas para a arquibancada.

 

( Fonte: O Globo (A revolta dos advogados))

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