Para quem conheceu outros Brasis, não é decerto fácil
acostumar-se com o de hoje, que, mal terminado o primeiro ano do dílmico segundo
mandato, já está irreconhecível.
Começou falando grosso, prometendo
mundos e fundos ... Só deu certo no vetusto setor da corrupção. Esse velho ralo, na verdade, transformou-se
em enorme túnel, onde tudo desaparece, ou em realidade, tudo parte para os domínios do alheio.
A
corrupção não conhece outro limite, que o da integridade. Quando esta se
ausenta, a cancela ficará aberta.
Primeiro, são os valores que se evaporam.
O interesse da pátria vira lençol, quase mortalha, desenhado por palavras ocas, que fingem
curvar-se diante dos valores do direito, transformados em panos rotos para dissimular, representar invólucros de
caso pensado, que servem apenas ao serviço real, feito para atender a interesse
que os salteadores do poder acreditam maior, que é o furto sistemático ou o
para-legal, simbolizado pelo famigerado artigo 171...
Dilma não chegou ao poder sozinha. Foi
eleita na verdade, apesar de ignorante em experiência política, pelo maior de
todos os coronéis. As massas tangidas pelo bolsa-família
e o fascínio do grande chefe fizeram-na presidenta.
Em nosso país, não existe ainda debate político e interesse em escolher o
melhor dentre os candidatos. Pesa na balança a manopla do coronelão, que é
obedecido pelas massas, que pensam ter juízo. Surgiu, assim, com o toque
grotesco de seu criador, o primeiro
poste!
Na verdade, não era o marco inicial de
nova época. Tratava-se apenas da continuação do regime, que já começara há oito
anos, e que tinha estruturados o próprio governo, povoado por muitos, muitos
ministérios, e também com bastante adiantado o aparelhamento do Estado.
O partido do fundador do regime, como de
resto é a regra, igualmente mudara e muito, tangido pelos supostos imperativos do
mando.
O problema é que o Grande Chefe - por ainda depender de exigências constitucionais - teve
de submeter-se a certos formalismos, como recuar um pouco, cedendo o poder por
um tempo a alguém da respectiva confiança.
Foi o que ocorreu em Pindorama, embora se haja descurado das limitações da nova
governante. Decaíu a qualidade da administração, e, em função de certas opções,
acentou-se a crise. Tinha ela idéias próprias, e por isso
exagerou nos erros.
Dentre eles, o maior foi a volta da
inflação, com a rápida destruição do Plano
Real. Cada vez mais se pensou em multiplicar ministérios e órgãos de administração, para
abrir a participação a mais partidos. Dadas as características de tal gerência,
os impostos continuaram a subir, como o demonstrou a geringonça chamada impostômetro. Mas os donos do poder - os partidos, com o
Partido dos Trabalhadores à frente (na verdade, os seus militantes tinham
mudado, eis que não mais se pautam pelo rigorismo jacobino dos primeiros
tempos, em que até existia corrente de PT igrejeiro!).
As trapalhadas da herdeira do Grande
Líder foram tantas que a sua popularidade sumiu nas vizinhanças do solitário dígito.
Também os eleitores não poderiam gostar
que a eleição fosse ganha na marra, tanto por deslavadas mentiras, quanto na farra das verbas, o que abriu
a porta para processos de impeachment
e/ou anulação de eleição, por crimes contra a legislação eleitoral.
Por causa disso tudo, a inflação está
nos onze por cento (adeus, Plano Real
!), os desempregados são nove milhões, a economia afunda na
areia movediça da quase-depressão e o Brasil retorna à rabada dos eternos perdedores, enquanto engrossam os déficits orçamentários.
Não há certezas quanto ao rumo da
Administração de Dilma Rousseff. No bolo das apostas, as figuras fáceis são os
corruptos, os escândalos e as surpresas - em geral negativas.
Em outros tempos, se aconselharia
fizesse o zé povinho fezinha na Operação Lava-Jato. Ela é a esperança de um
Brasil melhor. Mas temos pela frente árduo, íngreme caminho. Nas grandes
crises, tem-se a impressão de que os valores sejam, como em coqueteleira,
sacudidos e dissolvidos. Assim, não é que os próprios advogados julgam oportuno
e cabível cometer manifesto em que atacam a Lava-Jato, com o intuito aparente
de jogá-la no chão? Logo a operação famosa e festejada, que o Povão apoia, e
que permitiu ao Juiz Sérgio Moro pôr na cadeia tantos proprietários e diretores
de empreiteiras, assim como a chusma de
seus cúmplices ?
Mas de certa forma, esse
abaixo-assinado dos senhores causídicos é mais um integrante do circo do
Petrolão. Faz parte, como diria
alguém. Só que não contem com o Juiz
Gilson Dipp, que fizeram constar como signatário do documento. O
ex-Ministro do Superior Tribunal de Justiça, segundo asseverou, não deu a
ninguém autorização para pôr seu nome nessa lista...
Se tudo tem um fim, ele deve vir a
seu tempo e lugar. O interesse do regime está em que tudo acabe logo. Mas esta
não é a vontade da Nação brasileira.
A Lava-Jato deve seguir o próprio
curso, com a exação que a tem caracterizado, a par da severidade republicana
que é a garante da realização dos respectivos fins, que são o do Direito.
Sem confusões, por favor, nem
jogadas para a arquibancada.
( Fonte: O Globo (A revolta dos advogados))
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