Segundo Merval Pereira, a entrevista de ontem de Dilma, no café da manhã com os jornalistas - já notaram a propósito
como a crise a tornou mais acessível e falante? - a contraposição entre a Presidente
e o seu suposto orientador, Lula da Silva,
não poderia ter sido mais marcante.
De acordo com o
colunista, parecia outra pessoa: defendeu o equilíbrio fiscal, a inflação
dentro da meta, a reforma da Previdência e mais uma série de outros pontos que
são opostos ao que o PT e o ex-presidente Lula defendem.
A relação entre
os dois terá mudado desde a sua afirmativa da candidatura à reeleição,
dissipando as ilusões de Lula da Silva quanto a uma nova tentativa sua de
eleger-se por terceira vez.
Nesse momento,
ficara marcada a força de presidente no exercício das funções, no que tange a
então permitida reeleição. De resto, eram outros tempos. A situação de Dilma,
salvo a inflação, não estava ameaçada pelo Petrolão,
e ela pôde, com a ajuda de muita cara de pau, auxílio institucional e a própria
força inercial do cargo, manter a própria posição, em um céu ainda não
excessivamente nublado por denúncias.
Elas viriam, decerto, mas então a Inês presidencial já tinha exalado o
próprio suspiro.
Agora, Lula faz
liga nas reuniões com Rui Falcão,
presidente do PT. As posições dos dois maiores astros da constelação petista
hoje são diferenças bem marcadas: basta ver os tópicos assinalados no segundo
parágrafo - equilíbrio fiscal, inflação na meta,etc. - para ver que são posições bastante
distintas.
Dilma sendo o
que é, semelha difícil garantir que tais posições devam ser levados a sério. É
de notar-se que ela própria ateou fogo à fogueira, e a crise que se nos depara,
sabemos bem a quem atribui-la, a começar pela inflação. Não sei aonde quis
chegar com as suas loucuras fiscais. Além de tratar a sociedade e o povo
brasileiro como se fossem imbecis - o seu 'combate' à carestia se resumia a
expressões sovadas, do gênero "não permitiremos que a inflação corroa os
salários, etc. etc. dentro de uma retórica de que o dragão se lixa solenemente.
Pode ser que
Dilma esteja bancando a boazinha, enquanto arde a fogueira do impeachment. Depois da votação do
Supremo, e a mudança radical na situação do impeachment: o Congresso e
notadamente a Câmara paga pela sua desídia, não reformando a atualização a lei
de 1950, que regula o processo, dadas as aparentes dificuldades de
compatibilizá-la com a Constituição de 1988 (embora o bom voto do Ministro
Edson Fachin tenda a mostrar que não é bem assim). No final, prevaleceu a posição do Ministro
Luis Roberto Barroso, ainda que por um voto apenas, que constituiu uma
verdadeira peripeteia do teatro grego clássico. A votação para a Câmara
Especial foi anulada, deu-se precedência ao Senado de Renan Calheiros, que ora pende para Dilma, e por aí afora. Não é à
toa que a poule do impeachment parece em baixa, salvo
chuvas e trovoadas de última hora...
A época para aferição do mood nacional não é a melhor possível, eis que o carnaval (e não Anibal) está às portas. Só depois de
virar-se esta página é que se pode examinar ou as cartas, ou as conchas, ou
vá-lá o que seja, para tentar entender para onde vai o movimento pró-impeachment. Continuará encolhendo,
como as prévias do Data-folha e
sobretudo a volta - cautelosa, é verdade - de dona Dilma à telinha da tevê, sem
que se possa auscultar panelaços ? Até os aumentos nas passagens de ônibus
foram engolidos, a despeito da falta de qualquer sentido social no serviço,
mantendo os passageiros no Rio sob a canícula de coletivos sem ar-condicionado,
malgrado as repetidas promessas das empresas...
No entanto,
as opiniões sobre o futuro podem variar. Merval
Pereira, na sua coluna, por exemplo, parece pensar que os tempos podem mudar
para valer: "O ex-presidente Lula deve ter entendido que já não tem condições de ditar as regras
como antigamente. Os tempos mudaram, e nada mais exemplar dessa transformação do que as
cinco horas em que Lula passou
depondo na quarta-feira na Polícia Federal sobre a Operação Zelotes".
( Fontes: O Globo, Estado de S. Paulo )
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