No seu importante artigo em The New York Review, Michael Ignatieff 'Os refugiados e a Nova Guerra', a que me
reportei no blog, não excluira a
possibilidade de que Angela Merkel,
a Chanceler alemã, viesse a 'pagar' por sua coragem, pela circunstância de não
fechar a fronteira da República Federal aos refugiados da Síria, ao contrário
de tantos outros seus homólogos na União Européia.
Como se sabe, nas celebrações do Novo
Ano, multidão avaliada em mil pessoas se
instalou na praça ao lado da Catedral de Colônia, que, com cerca de milhão de
habitantes, é a quarta da Alemanha.
Conforme relatos posteriores, essa
turba era formada na sua maioria por homens "de aparência árabe ou norte
africana". E o que houve seria assaz previsível nas circunstâncias: vários
deles assaltaram e agrediram sexualmente centenas de mulheres. Estranhamente,
não houve qualquer interferência polícial.
As ocorrências policiais - registradas post factum - são: duas denúncias por
estupro (durante os festejos). Partes
íntimas de mulheres tocadas e roupas rasgadas. Ao todo, até agora, 650 queixas,
cerca de 45% por agressão sexual. Outros
incidentes foram registrados em Hamburgo.
Os lojistas de Colônia revelaram, a posteriori, que os seus estoques de
spray de pimenta foram vendidos em poucas horas.
Por outro lado, a polícia de Colônia
informou que desde 1° de janeiro os pedidos de autorização para a compra de
pistolas de pressão (que exigem menos
burocracia do que armas comuns) chegaram a trezentos (contra 408 em todo o ano
de 2015).
Como seria também previsível, em se
tratando de gente de culturas diferentes e de sociedades opostas em termos de
costumes, os incidentes de Colônia podem desestabilizar a única governante
europeia que pensara cumprir o próprio dever humanitário ao receber os
refugiados do interminável drama sírio.
Nesta hora, a nova Chanceler de
Ferro, Frau Angela Merkel fica desestabilizada pela insegurança trazida para a
tranquila Alemanha Federal. Ela enfrenta
até mesmo a insatisfação de membros de seu partido, a CDU (União Cristã
democrática), que reclamam regras mais rígidas para deter (e controlar) o fluxo
de refugiados.
Por negar-se até agora a afirmar
que um milhão de refugiados já é suficiente, um cientista político da
Universidade de Bonn, Tilman Mayer, refere o que o próprio Michael Ignatieff em
seu supra-referido artigo já antevira: "Penso que existe até mesmo a
possibilidade de que ela seja derrubada depois das eleições para as assembléias
estaduais marcadas ao longo de 2016. Temos
uma Chanceler que não diz que um milhão de refugiados já é o suficiente."
A irritação do eleitorado se
acirra diante da disparidade entre a Alemanha Federal - que acolhe mais de milhão
de refugiados - e os demais países da U.E., em que eles são barrados ou
admitidos na base do conta-gotas.
Como sublinhara Ignatieff, essa
exasperação cresce diante da disparidade de valores, sobretudo de parte de
países como os Estados Unidos, que tem acolhido apenas um punhado de
refugiados, apesar de ter não pouca responsabilidade pelas condições presentes
do conflito na Síria.
( Fontes: The New York Review,
Folha de S. Paulo )
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