O poder tem
limites, e mais ainda o poder econômico, que é uma decorrência das leis do
mercado.
Xi
Jinping, como já foi referido no blog,
é o dirigente chinês que ascendeu ao mando, com maior força intrínseca. Dentro
do peculiar procedimento do Império do
Meio de apontar o seu presidente de
turno - em geral, por dois períodos sucessivos e não mais - Xi foi o que desta feita, na velha
linguagem do turfe, era verdadeira pule de dez para ser escolhido.
Ao contrário
do antecessor Hu Jintao, pelo seu currículo e nomeada, não havia maiores
dúvidas quanto a que fosse o indicado.
Por vezes, no
entanto, demasiada força pode representar um ulterior obstáculo, seja pela
criação de maiores expectativas, seja
por eventuais resistências que presença demasiado dominante possa vir a causar.
Xi se tem
deparado com obstáculos não-previstos na seara econômico-financeira. É a
segunda vez que há problemas com o renminbi. Como se sabe, em novembro
último, o Fundo Monetário Internacional acolheu a moeda chinesa entre as
principais divisas mundiais. O problema
com a elevação de status é que ela
implica a cessão de determinados controles. Não se pode gozar das benesses de
adentrar o reduzidíssimo círculo das grandes moedas internacionais, sem a
contrapartida da cessão de algum poder interno sobre a paridade, eis que se
permite às forças do mercado exercerem um poder maior na determinação do
respectivo valor de troca.
Assinale-se,
outrossim, que ao invés de seus antecessores, que se caracterizavam por posições
burocráticas e o consequente exercício de menor poder, os títulos de Xi Jinping
lhe terão dado a dúbia faculdade de intervir com maior desenvoltura no vasto
campo aberto à respectiva liderança.
O problema da
economia chinesa decorre em parte das contradições ainda existentes na
sociedade desse enorme país. Reza o bom senso que a receita para o sucesso de
sua inserção no mercado mundial está na própria adequação pari passu com os demais grandes mercados investidores.
Com o excesso de poder interno do gerarca
chinês, o perigo estaria nas escolhas subitâneas, porque ao contrário da
política, há uma lei natural nos grandes mercados economico-financeiros de que
as mudanças bruscas devem ser evitadas, dada a capacidade das inversões de
resistirem a imposições que não correspondam aos interesses dos inversores. A
liberdade, com as inexoráveis cautelas, é a sua pré-condição.
Como refere o
comentário do New York Times, as
tentativas de orientar o mercado podem ter consequências imprevistas. Assim,
nos últimos anos a RPC tem permitido e mesmo encorajado companhias e inversores particulares a
investirem mais no exterior. O escopo seria o de reduzir as pressões
deflacionárias do hiper-investimento interno, assim como aumentar a influência
da China no mundo.
Mas o que era
um pequeno córrego se transformou em torrente neste inverno para adquirir no
estrangeiro casas e propriedades fundiárias. O Banco Central tentou operar para
baixar o valor do renminbi (para ativar as exportações e também para fazer com
que as inversões externas ficassem mais caras e menos atraentes).
Dentro do
intervencionismo excessivo - decorrente da relativa inexperiência de lidar com
tais fluxos de investimentos privados - e a falta de conhecimento específico, fez
com que o valor cambial do renminbi começasse a despencar nos mercados
internacionais.
Com a
imprevista queda no valor de troca da moeda nacional, o efeito foi
caótico. De repente, as famílias chinesas
e as companhias começaram a temer que a sua riqueza em renminbi se traduzisse
em menor riqueza no amanhã, o que impulsiona a fuga de capital e, em consequência,
aumenta o tumulto no câmbio.
Dois outros
mecanismos, dirigidos para o controle do mercado acionário, repercutiram mal,
eis que, ao invés de induzir a calma, eles aumentaram a ansiedade. Nesse contexto,
tanto o assim chamado circuit-breaker
(controlador de circuitos) para o mercado acionário - mecanismo que pára as
operações da bolsa quando as ações cáem demasiado - ao invés de controlar o
nervosismo do mercado, amplificou a ansiedade. Outro instrumento, também eivado
de arbítrio, proibia grandes investidores de venderem ações, tinha como prazo
de vencimento a sexta-feira. A pressão para a venda e o temor de incorrer em
prejuízos ainda maiores levou os pequenos inversores a venderem de forma
precipitada (dump shares), o que
obviamente só incrementa a tendência à queda nos valores dessas ações.
Saídos de
uma longa noite de arbítrio, o inversor chinês (e a autoridade das bolsas) se
depara com a dificuldade a conviver com a liberdade nos mercados
acionários. O mercado mundial parece
ansioso de valer-se da poupança chinesa, vale dizer da segunda potência
econômica do planeta.
Há duas
tendências no mercado chinês que exigem maior autocontrole. Se a longa noite de
um domínio excessivo de parte da autoridade governamental afeta o inversor no
seu desejo de valer-se da liberdade para aumentar as respectivas posses, o
intervencionismo excessivo, que a longa prática faz funcionar com demasiada
prontidão tende a trazer insegurança para o mercado, eis que o arbítrio foi
longo e ele parecerá sempre estar a aguardar na próxima curva do caminho para
de novo intervir burocratica e imprevisivelmente.
Conviver
com a liberdade implica em responsabilidades de parte a parte. De um lado, o
poder comunista habituado a dispor a seu bel prazer dos interesses do
particular. De outro, a expectativa do mercado ocidental em valer-se da enorme
poupança da economia chinesa, e a tendência a se deixar dominar menos pelo bom
senso, do que pela expectativa do ganho.
As Bolsas
podem ser vistas como um jogo, posto que controlado. As regras devem existir,
se não quisermos que as elas regridam ao passado, que se marcava por grandes
lucros e precipitosas quedas.
Se os
chineses tiverem bom senso, essas dores da infância e do crescimento das bolsas
- em que a liberdade deve ser respeitada, desde que haja um mínimo de
responsabilidade - tenderão a diminuir, de modo a trazer a Bolsa de Shangai
para a companhia de suas irmãs mais velhas (e mais experientes), no jogo nem
sempre fácil de combinar liberdade com responsabilidade.
( Fonte: The New York Times )
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