Se fossem
remédio, as afirmações do novo Chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, o
ex-governador da Bahia Jaques Wagner, deveriam trazer um bem visível letreiro -
a
manipular com cuidado.
Depois da abúlica pasmaceira da gestão
do amigo (de Dilma) Aloizio Mercadante, que
sabia manter o aplomb[1]
mesmo quando a Casa parecia ameaçar desabamento, o Senhor Wagner não tem papas na língua, e
projeta senão a certeza, pelo menos a forte impressão de que a insegura
presidenta das Pedaladas está agora ladeada por alguém, que se mede as
palavras, deve servir-se de instrumentos bastante rústicos.
Assim, os
incríveis déficits do Dilma I foram tratados com largas e francas palavras - o governo errou. É óbvio que Wagner
aparenta segurança e desenvoltura que
não deve encontrar similares entre aqueles que se movimentam no conturbado
cenário da iracunda Presidente.
Pelo visto,
este novo animal na dílmica floresta pode ser interpretado como o oposto de o que
a opinião pública estava acostumada a observar. Como político que é, Wagner
esbanja franqueza e segurança. Nesse entorno planaltino, de onde no passado se
deparava um deserto de atores com presença, e ignavo entorno, para quem o
silêncio é de ouro. Se necessário, neste palco de medo e quase mutismo, será
sempre preferível o comunicado anódino, em que se refugia o medo da
responsabilidade.
Tementes
das broncas grosseiras e da chuva de palavrões, suas excelências e eventuais
assessores preferiam transformar-se - se desejavam dormir tranquilos para o dia
seguinte - em taciturnos aspones. É uma espécie animal muito comum nos
atapetados corredores do poder brasílico. E diga-se de paso, com Dilma, o seu crescimento foi exponencial.
A
franqueza de Wagner pode valer por indicativa do fenômeno seguinte: a segurança
do Chefe da Casa Civil, que nos surpreende com assertivas francas. Com isso,
ele sintoniza o Planalto com a realidade. Postura de avestruz não é com ele:
assim a Folha de hoje põe como
manchete da edição: O PT se lambuzou,
diz Jaques Wagner, chefe da Casa Civil.
Para ele, o PT errou ao não fazer a reforma política e acabou
"reproduzindo metodologias" antigas da política brasileira. Wagner
explicaria a corrupção do PT, com o dito "quem nunca comeu melado, quando
come se lambuza".
Será que
uma conversa pachorrenta ao pé-do-fogo tudo explica? Em termos de banalização
dos 'malfeitos' não há ninguém que se lhe compare. A tática parecia a de, na
aparência admitir o fato, para repisar, com linguagem sofisticada (embora dê
impressão do contrário) que em Pindorama é assim mesmo. Dessarte, se se fala de
Mensalão ou de Petrolão, a toada de Jaques Wagner é de transformar os escândalos
das administrações petistas em erros muito comuns a assaltar os inexperientes
na política.
Em outros termos, é a velha
banalização do mal.
Wagner exsuda segurança. Assim, consoante refere, sobre o pedido de impeachment da presidente, ele afirma
que o governo conseguirá mais que os votos necessários na Câmara: "Nós
vamos enterrá-lo."
Para
o Chefe da Casa Civil, há uma "banalização do processo como recurso eleitoral",
um "impeachment tapetão".
Como
dirão em Brasília, Wagner é um craque. O
problema serão os fatos que estão aí.
Em
política, não se deve menosprezar os fatos, nem maquiar realidades. Quem age
dessa forma, corre o risco de a folhas tantas, voltar-se e encontrar a mesma
tropa com que pensou tudo levar de cambulhada.
Mesmo para os craques, a verdade tende a repontar sempre, e não será sob
fórmulas edulcoradas. Os seguros de si, os confiantes como J. Wagner, podem
impressionar o povaréu nos primeiros rounds.
A dificuldade está naquela em que
carregou a própria aposta. Muita vez, nessas grandes lutas, a campeã pode ser
derrubada a nocaute por soco de que ninguém saberá dizer ao certo de onde saiu.
( Fontes: Folha de S. Paulo; Miguel Álvaro Ozório de
Almeida - in memoriam )
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