domingo, 3 de janeiro de 2016

A visão de Jaques Wagner


                                
          Se fossem remédio, as afirmações do novo Chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff, o ex-governador da Bahia Jaques Wagner, deveriam trazer um bem visível letreiro - a manipular com cuidado.

           Depois da abúlica pasmaceira da gestão do amigo (de Dilma) Aloizio Mercadante, que sabia manter o aplomb[1] mesmo quando a Casa parecia ameaçar desabamento,  o Senhor Wagner não tem papas na língua, e projeta senão a certeza, pelo menos a forte impressão de que a insegura presidenta das Pedaladas está agora ladeada por alguém, que se mede as palavras, deve servir-se de instrumentos bastante rústicos.

            Assim, os incríveis déficits do Dilma I foram tratados com largas e francas palavras - o governo errou. É óbvio que Wagner aparenta segurança e  desenvoltura que não deve encontrar similares entre aqueles que se movimentam no conturbado cenário da iracunda Presidente.

            Pelo visto, este novo animal na dílmica floresta pode ser interpretado como o oposto de o que a opinião pública estava acostumada a observar. Como político que é, Wagner esbanja franqueza e segurança. Nesse entorno planaltino, de onde no passado se deparava um deserto de atores com presença, e ignavo entorno, para quem o silêncio é de ouro. Se necessário, neste palco de medo e quase mutismo, será sempre preferível o comunicado anódino, em que se refugia o medo da responsabilidade.

            Tementes das broncas grosseiras e da chuva de palavrões, suas excelências e eventuais assessores preferiam transformar-se - se desejavam dormir tranquilos para o dia seguinte - em taciturnos aspones. É uma espécie animal muito comum nos atapetados corredores do poder brasílico. E diga-se de paso, com Dilma, o seu crescimento foi exponencial.

             A franqueza de Wagner pode valer por indicativa do fenômeno seguinte: a segurança do Chefe da Casa Civil, que nos surpreende com assertivas francas. Com isso, ele sintoniza o Planalto com a realidade. Postura de avestruz não é com ele: assim a Folha de hoje põe como manchete da edição: O PT se lambuzou, diz Jaques Wagner, chefe da Casa Civil.  Para ele, o PT errou ao não fazer a reforma política e acabou "reproduzindo metodologias" antigas da política brasileira. Wagner explicaria a corrupção do PT, com o dito "quem nunca comeu melado, quando come se lambuza".

              Será que uma conversa pachorrenta ao pé-do-fogo tudo explica? Em termos de banalização dos 'malfeitos' não há ninguém que se lhe compare. A tática parecia a de, na aparência admitir o fato, para repisar, com linguagem sofisticada (embora dê impressão do contrário) que em Pindorama é assim mesmo. Dessarte, se se fala de Mensalão ou de Petrolão, a toada de Jaques Wagner é de transformar os escândalos das administrações petistas em erros muito comuns a assaltar os inexperientes na política.

                 Em outros termos, é a velha banalização do mal.

                 Wagner exsuda segurança. Assim, consoante refere, sobre o pedido de impeachment da presidente, ele afirma que o governo conseguirá mais que os votos necessários na Câmara: "Nós vamos enterrá-lo."

                  Para o Chefe da Casa Civil, há uma "banalização do processo como recurso eleitoral", um "impeachment tapetão".

                  Como dirão em Brasília, Wagner é um craque.  O problema serão os fatos que estão aí.

                   Em política, não se deve menosprezar os fatos, nem maquiar realidades. Quem age dessa forma, corre o risco de a folhas tantas, voltar-se e encontrar a mesma tropa com que pensou tudo levar de cambulhada.

                   Mesmo para os craques, a verdade tende a repontar sempre, e não será sob fórmulas edulcoradas. Os seguros de si, os confiantes como J. Wagner, podem impressionar o povaréu nos primeiros rounds.

                   A dificuldade está naquela em que carregou a própria aposta. Muita vez, nessas grandes lutas, a campeã pode ser derrubada a nocaute por soco de que ninguém saberá dizer ao certo de onde saiu.

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo; Miguel Álvaro Ozório de Almeida - in memoriam )



[1] postura serena, firme na aparência.

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