Os documentos ingleses de investigação criminal
costumam ser meticulosos e abrangentes. Acaba de ser divulgado inquérito
realizado por juiz britânico aposentado, Robert
Owen, abrangendo maço de trezentas páginas, resultado de ano e meio de
audiências e investigações. Que esse processo tenha sido levado a cabo, se deve
em boa parte à persistência da viúva, Marina.
Esse antigo Juiz da Alta Corte de Sua
Majestade chegou a conclusões baseadas em provas colaterais e fortes indícios
que apontam para os agentes do crime, membros então do FSB : Andrei Lugovoi
(hoje deputado na Duma - câmara baixa russa) e Dmitri Kovtun.
A vítima foi Alexander Litvinenko,
falecido em Londres, a 23.XI.2006, aonde se refugiara com a esposa Marina (e o
filho, que hoje é sudito britânico).
Litvinenko, que se tornara desafeto
de Vladimir V. Putin, e se associara a opositores proeminentes do atual Senhor
do Kremlin - entre eles, Boris Berezovsky, oligarca ao tempo do Presidente
Boris Yeltsin - e também inimigo do
atual Presidente russo. Berezovsky morreu em 2013 - pagaria alto preço por essa
inimizade.
A causa do falecimento do espião -
trabalhara no KGB, e depois da fuga, colaborava com o Serviço Secreto inglês -
se terá devido à sua capacidade de investigação e à circunstância de centrar-se
em assuntos ligados ao presidente russo. Com efeito, Litvinenko desejava
aprofundar seu conhecimento acerca dos laços de Putin com a mala vita, e nesse sentido
planejara viagem à Espanha. Cometeu, no entanto, o erro de aceitar convite para
um chá às cinco horas da tarde, no Pine Bar, no Hotel Millenium, em Londres.
Por motivos ignotos, ingeriu do chá
que lhe foi oferecido por seus dois ex-colegas do FSB (serviço secreto russo
que sucedeu ao KGB) Andrei Lugovoi (hoje deputado na Duma!) e Dmitri V. Kovtun.
O problema na taça de chá é que continha gotas de um material radioativo,
polonio 210. Esse isótopo é bastante raro - quem deseja obtê-lo carece de um
reator nuclear - e a morte que causa afigura-se realmente lenta (Litvinenko
morreria no leito do hospital londrino 22 dias depois da fatal reunião com os
dois velhos companheiros de métier).
Segundo o relatório do juiz Owen,
há motivos circunstanciais para afirmar que tanto o presente chefe do FSB,
Nikolai Patrushev, quanto o próprio Presidente Vladimir Putin, autorizaram a
ação em tela.
Em termos de provas
materiais de que a dupla de agentes trazia consigo o letal polônio 210 está o fato de que a perícia
policial descobriu no quarto do hotel ocupado por Dmitri Kovtun, junto ao cano
de esgoto da pia, material danificado
bastante rico em polônio.
Essa descoberta da justiça inglesa
provocará um esfriamento nas relações anglo-russas. Não obstante, Dmitri
Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que "a ocorrência não está entre os
casos que lhe interessem".
( Fonte: Site de O Globo )
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