quinta-feira, 21 de janeiro de 2016

A morte do espião Litvinenko


                                       
         Os documentos ingleses de investigação criminal costumam ser meticulosos e abrangentes. Acaba de ser divulgado inquérito realizado por juiz britânico aposentado, Robert Owen, abrangendo maço de trezentas páginas, resultado de ano e meio de audiências e investigações. Que esse processo tenha sido levado a cabo, se deve em boa parte à persistência da viúva, Marina.

         Esse antigo Juiz da Alta Corte de Sua Majestade chegou a conclusões baseadas em provas colaterais e fortes indícios que apontam para os agentes do crime, membros então do FSB : Andrei Lugovoi (hoje deputado na Duma - câmara baixa russa) e Dmitri Kovtun.

          A vítima foi Alexander Litvinenko, falecido em Londres, a 23.XI.2006, aonde se refugiara com a esposa Marina (e o filho, que hoje é sudito britânico).

          Litvinenko, que se tornara desafeto de Vladimir V. Putin, e se associara a opositores proeminentes do atual Senhor do Kremlin - entre eles, Boris Berezovsky, oligarca ao tempo do Presidente Boris Yeltsin  - e também inimigo do atual Presidente russo. Berezovsky morreu em 2013 - pagaria alto preço por essa inimizade.

          A causa do falecimento do espião - trabalhara no KGB, e depois da fuga, colaborava com o Serviço Secreto inglês - se terá devido à sua capacidade de investigação e à circunstância de centrar-se em assuntos ligados ao presidente russo. Com efeito, Litvinenko desejava aprofundar seu conhecimento acerca dos laços de Putin com a mala vita, e nesse sentido planejara viagem à Espanha. Cometeu, no entanto, o erro de aceitar convite para um chá às cinco horas da tarde, no Pine Bar, no Hotel Millenium, em Londres.

            Por motivos ignotos, ingeriu do chá que lhe foi oferecido por seus dois ex-colegas do FSB (serviço secreto russo que sucedeu ao KGB) Andrei Lugovoi (hoje deputado na Duma!) e Dmitri V. Kovtun. O problema na taça de chá é que continha gotas de um material radioativo, polonio 210. Esse isótopo é bastante raro - quem deseja obtê-lo carece de um reator nuclear - e a morte que causa afigura-se realmente lenta (Litvinenko morreria no leito do hospital londrino 22 dias depois da fatal reunião com os dois velhos companheiros de métier).

             Segundo o relatório do juiz Owen, há motivos circunstanciais para afirmar que tanto o presente chefe do FSB, Nikolai Patrushev, quanto o próprio Presidente Vladimir Putin, autorizaram a ação em tela.

             Em termos de provas materiais de que a dupla de agentes trazia consigo o letal  polônio 210 está o fato de que a perícia policial descobriu no quarto do hotel ocupado por Dmitri Kovtun, junto ao cano de esgoto da pia,  material danificado bastante rico em polônio.

             Essa descoberta da justiça inglesa provocará um esfriamento nas relações anglo-russas. Não obstante, Dmitri Peskov, porta-voz do Kremlin, disse que "a ocorrência não está entre os casos que lhe interessem".

 

( Fonte: Site de O Globo )  

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