domingo, 31 de janeiro de 2016

A Qualidade é Importante ?


                                       

           Há tempos escuros e tempos brilhantes? E, se existem, qual a sua influência sobre a sociedade?

           Nem sempre é fácil classificar a época em que se vive.

           Há exemplos de pessoas que, em momentos sociais depois reconhecidos como altamente satisfatórios, se lamentam da sorte, interpretando tropeços individuais ou conjugais, como fatores determinantes.

           O conjunto social e a sua situação serão decerto relevantes para a avaliação de certa realidade, que, por conta de vivermos em espaço determinado, adquire uma presença que tende a contribuir para o juízo individual, familiar, local e nacional.

            Já mencionei neste blog que os chineses - um dos povos de mais antiga organização sócio-política - consideram como maldição que se dirija a outrem o voto de que viva em tempos interessantes. Para o chinês, esse interessante assinala as convulsões sociais e os momentos difíceis das épocas de crise na organização política do Estado, seja por ameaça externa, seja por influxos internos.

            Por que o momento interessante (atendidas as condições acima) pode ser socialmente desestabilizante? Não só em determinadas tarefas, mas também se atravessarmos hora que a todos afeta em geral, parecerá à grande maioria preferível que ela não provoque emoções (ou comoções) demasiado fortes (por mexerem com a qualidade e/ou a expectativa de vida). O ser humano não enjeita as emoções, ainda que deseje ter algum controle sobre elas. Assim, viver em tempos interessantes pode implicar horas difíceis e imprevisíveis ameaças. Passada a tempestade, muita vez se avalia como positiva a experiência vivida, mas isto não quer necessariamente dizer que a travessia - plena dos riscos do ignoto - venha a ser experiência que valha a pena de ser vivida.

            No Brasil atual, não vivemos decerto na tranquilidade da sociedade bem organizada. Antes de ocuparmo-nos desta importante característica negativa, parece-me oportuno (a) compará-la com êxitos sociais no passado, e tentar prever-lhe a postura no próximo-futuro.

            A excelência brasileira, em épocas recentes, não parecia apta a sofrer contestações no campo do futebol, em que o Povo brasileiro considerava de altíssimo nível, como o demonstraram os sucessivos (5) campeonatos mundiais, todos conquistados fora do país. A  experiência de mais um título perdido no próprio país - 1950 e 2014 - não se limitou, porém, a tal, pois a derrota para a Alemanha por 7x1 foi um trauma nacional, além de constituir  sinalizador de   desestabilização mais ampla.

             O vexame de Belo Horizonte mostrou que temos de evoluir em termos de organização tática e de postura atlética. Algo está muito errado com o nosso desporto nacional se nas semifinais a Alemanha vence com dificuldade a Argélia por 2x1, e nos esmaga em menos de vinte minutos, com quatro gols, e para o que o técnico nacional não atina com defesa alguma.

              Havia a ilusão de que a nossa qualidade nesse campo era tal que era desnecessária a refundação de nossas estruturas futebolísticas. A saga brasileira começada na Suécia em 1958, tinha base sólida pela simples razão de que a CBF estava em boas, íntegras mãos. A situação atual, após a prisão na Suiça do presidente da CBF e a fuga desabalada de seu sucessor para o Brasil mais do que indicam a necessidade de  urgente reformulação da chefia da CBF. Não estranha que nada tenha sido feito, e agora se assiste a patética tentativa de Del Nero (que não viaja para o exterior por óbvios motivos) de, ou continuar à testa da CBF, ou lá instalar alguém de sua confiança.

               Se queremos vencer a corrupção, não temos alternativa. Devemos desalojá-la das praças, das tocas, dos estádios e dos palácios. E, sem embargo, essa inação do presente se afigura tristemente típica do momento hodierno. De certo modo, a política imita o esporte, eis que a atual Presidente - Dilma Rousseff -, uma das mais fracas e decepcionantes mandatárias que a História brasileira conhece, não tem condições de liderar, estando em uma luta de vida e morte pela manutenção do próprio segundo mandato, que é pendente de um processo de impeachment impetrado pelo político e jurisconsulto Hélio Bicudo.

                 Diga-se, de passagem, que Hélio Bicudo saíu do PT no Escândalo do Mensalão, que foi a primeira grande crise política do Partido dos Trabalhadores, enquanto no Poder. Personalidade de notória integridade, ele não hesitou em deixar na estrada da vida um partido que se transformara negativamente, corrompido que foi pelo poder. Do grêmio aguerrido, honesto, jacobino mesmo nos próprios compromissos, o PT continua hoje partido aguerrido, cuja única vocação é o poder. As demais características, que o sinalizavam, ele as deixou como margaridas pelo caminho, enquanto se agarra aos atrativos mil do poder.

                 Por que  nosso futebol falhou, e deixou de ser  nossa metáfora predileta de afirmação, posto que jogando por um caneco mundial em nossa terra, e junto da boa gente brasileira? Porque essa habitual qualidade natural do brasileiro, que o tornara adversário temível das demais equipes estrangeiras não recebeu a atenção técnica necessária, que estivesse em condições de manter a seleção apta a vencer os desafios desse esporte.

                 Atravessamos um período cinzento em nossa progressão histórica. Consultando  interesses pessoais,  o então Presidente do PT preferiu indicar alguém que mais respondia aos seus interesses pessoais, do que ao interesse nacional. Depois de um desastroso primeiro mandato, Dilma conseguiria a reeleição pela ocultação da realidade econômica do País.  O Povo votou pela sua continação - em disputa apertada - ignorando o tamanho do déficit das contas públicas, o que constituiu um verdadeiro estelionato político.

                 Configurada a situação e o esbulho que o Povo sentiu haver sofrido, a rejeição de Dilma e do Partido dos Trabalhadores em geral assumiu enorme escala. Há um processo de impeachment que o PT vem conseguindo travar. Por outro lado, a justiça brasileira, através da operação Lava-Jato vem esmiuçando as contas e as irregularidades dos líderes petistas, notadamente através do Petrolão e de uma série de escândalos que tem postos executivos de empreiteiras, antes poderosos, na cadeia. Além disso, o processo está longe de concluir-se e se aproxima sempre mais dos notáveis do PT, a começar por Lula da Silva.

                  A surda revolta popular contra os desmandos e as irregularidades do Governo do PT continua a crescer, alimentada pela série de escândalos contra o governo e o universo petista, e seus cardeais. Uma boa parte deles, como José Dirceu, já estão na cadeia, e esse destino semelha encomendados para outros, em poleiros ainda mais altos.

                   É bem verdade que o brasileiro olha em vão à sua volta, na busca de grandes valores, e se depara com um deserto que pode relembrar a alguns a solidão dos espaços saáricos, em que só os ecos respondem aos gritos de quem se anime a palmilhar os pétreos ermos.

                  A esperança será a última que morre, e quem sabe os nossos tempos interessantes nos hão de elevar, na boa gente brasileira, aqueles que mais nos encham as medidas.

                   Mas como disse o poeta, a vida é luta renhida, que aos fracos abate, mas aos fortes...

                    Nessa escuridão, há muitos fanais diante do sofrido Povo brasileiro.

                    Depois de atravessar o breu da caverna, o filósofo nos promete luzes de esperança e saber.

                     Se no futebol, esse mero deporto que tanto nos é caro, o Povo aguarda voltar a ver craques de futebol, que nos encantem tanto pela maestria, quanto pelo bom exemplo na própria fazenda,  em um espaço mais amplo será demasiado querer um Presidente com a alegria e o querer fazer de um JK, com a firmeza de um Getúlio Vargas, e com a autoridade - sem as excentricidades - de um Jânio Quadros ?

 

( Fonte: Arnold Toynbee, A Study of History )

Colcha de Retalhos D 5


O New York Times endossa Hillary



           O New York Times não é o maior jornal americano por acaso. A sua posição política pode ser contestada, mas dificilmente não se assinalará o peso e a importância de suas opiniões.

           O endosso que ora o Times confere à pré-candidatura de Hillary Clinton à  presidência, se é feito com grande antecipação - e não há negar que haja sobejos motivos para tanto - mostra também a isenção do jornal, eis que várias questões foram por ele examinadas em matérias desfavoráveis para a pré-candidata à nomination pelo Partido Democrata.

           É esta capacidade de rever as próprias posições, uma vez que a respectiva análise foi insatisfatória, que constitui trunfo decerto não desprezível deste jornal, que é, de longe, o maior dos Estados Unidos.

           O Times a qualifica como candidata presidencial sdas mais ampla e profundamente qualificadas para exercer a presidência na história moderna.

            Segundo o New York Times, o seu principal opositor para a candidatura democrata, o Senador Bernie Sanders, que se autodescreve um Socialista Democrata, tem sido adversário emuito mais temível do que muitos antecipavam e, inclusive, a própria Hillary.

            Para o Times, no entanto, Mr. Sanders não tem a largueza da experiência e das idéias políticas que a Sra. Clinton oferece.  Ela é forte advogada de sensatas e eficazes medidas para combater a praga  das armas de fogo.  A ficha de Sanders em armas é relativamente fraca.

           Também as propostas de Hillary para a reforma financeira refletem profundo entendimento da Lei Dodd-Frank  de Reforma Financeira, inclusive nos tópicos em que deixa a desejar. Por outro lado, Hillary apóia reformas de que a nação muito carece, como controles para o intercâmbio financeiro de alta intensidade e maiores obstáculos para a especulação bancária em derivativos.

            O Times considera a plataforma de Hillary aquela que merece ser escolhida, sobretudo por apresentar  visão para os Estados Unidos é que radicalmente diferente daquela oferecida pelos principais candidatos republicanos  - uma visão propositiva de que a classe média americana possa ter chances em atingir a prosperidade, que os direitos da mulher sejam reforçados, que os imigrantes não-documentados possam  alcançar a legalidade, que as alianças internacionais sejam cultivadas e que a superpotência continue segura.

 

O Zika e a falta de empenho

                É gritante e irresponsável a falta de empenho dos cariocas - tanto no morro, quanto no asfalto - no combate ao Aedes Aegypti (o vetor da dengue e do zika).

                 Se falta liderança cívica nessa matéria, o Estado não pode se retrair. No Globo de sábado, se assinala que é flagrante a displicência dos moradores na luta contra o Aedes Aegypti.

                 Como, em aparência, não surgem lideranças comunitárias - e isso tanto nas ruas do Leblon, quanto nas da Rocinha - não é estranhável que ali existam muitos focos.

                  Essa falta de conexão, essa indiferença,  esta passividade diante de  ameaça nada desprezível, só é explicável por duas omissões em termos de iniciativa: a da Prefeitura e suas subprefeituras (que não devem ser apenas cabides de emprego, mas precisam ter presença pró-ativa no combate à epidemia) que nada fazem para chamar a atenção do carioca, enquanto cidadão, no combate preventivo à essa praga.

                  De sua parte, falta ao carioca, rico ou pobre, seja morador no Leblon ou Ipanema, seja favelado, a compreensão de que não faz favor nenhum em participar de forma pró-ativa da luta contra esses dois flagelos.

                   Esses senhores carismáticos, como Pezão e Eduardo Paes deveriam engajar-se mais nesse trabalho de conscientização do carioca. 

                   Maior inter-relação entre o Poder público e o Cidadão seria também muito útil e de grande serventia em termos de controle dos focos de contágio e os de formação do mosquito aedes aegypti.

                    A zika tem um potencial maior e mais temível do que a dengue. Os focos de disseminação - como o carro abandonado por exemplo, apontado no artigo de O Globo - não podem ser deixados ao Deus dará.  A  intervenção deve ser imediata. No caso agride ao bom senso e à inteligência que essas verdadeiras bombas com mecha acesa persistam junto das residências, como se a inação fosse a única reação (que é a do não-fazer-nada).

 

Incrível assalto no Túnel Rebouças

 

                      A  displicência e os grandes vazios em termos de força policial tornam possível incríveis ataques de bandidos em pleno centro do Rio de Janeiro, como no túnel Rebouças que liga a Zona Norte à Zona Sul da cidade.

                      O crime foi cometido às 21:30 hs de sexta-feira, quando um par de assaltantes, em motocicleta, assaltou um outro motociclista. Como esse tentasse fugir, levou dois tiros de raspão nos braços.

                      Houve pânico no túnel, eis que os motoristas pensaram tratar-se de arrastão.

                      Os bandidos fugiram, com a moto roubada, e a vítima, identificada como Marcelo Parentoni, foi medicada no Hospital Miguel Couto, na Gávea.

 

 

A  Lava-Jato continua a avançar

 

                  As manchetes dos jornais  neste fim de semana ajudam a explicar a frase do Governador Geraldo Alckmin (PSDB-SP) de que Lula é o retrato do PT, "sem ética, sem limites". O ex-Presidente rebateu, citando denúncias sobre Metrô de São Paulo e merenda escolar.

                  Por sua vez, a Lava-Jato investiga a venda de outros imóveis pela Bancoop. Dentre os empreendimentos que eram dessa citada Cooperativa Habitacional dos Bancários de São Paulo - que foi dirigida pelo ex-tesoureiro do PT, João Vaccari Neto, preso desde abril de 2015 e condenado a quinze anos de prisão na Lava-Jato - um dos apartamentos investigados é o do Presidente da Central Única dos Trabalhadores (CUT), Vagner Freitas. Ele seria dono de imóvel registrado em nome da empreiteira OAS, em bloco do Residencial Altos do Butantã, na Zona Oeste de São Paulo.

                 Freitas negou qualquer crime e disse ter comprovantes da quitação do imóvel. Acrescentou que, apesar de haver pago pelo apartamento "há três ou quatro anos", ainda não providenciou  para alterar o registro em cartório. Diante da divulgação do caso, disse que pretende fazer a transferência de registro nesta segunda-feira., 1° de fevereiro.

                Malgrado tenha sido um dos líderes dos ataques ao ex-Ministro da Fazenda Joaquim Levy, Vagner chamou a atenção em agosto de 2015 ao ameaçar pegar em armas para defender o mandato de Dilma Rousseff, durante um encontro promovido pela Presidenta no Palácio do Planalto com líderes de movimentos sociais.

               Ainda naquele mesmo dia, Vagner Freitas tentou amenizar a fala, alegando que não tivera intenção de incitar a violência e que usara as palavras apenas como uma "figura de linguagem".

 

( Fontes:  The New York Times, O Globo, Folha de S. Paulo )

 

sábado, 30 de janeiro de 2016

Dilma ou o Claro Enigma (2)


                                 
        A 24 de agosto último, escrevia blog sob o título acima, só que obviamente sem a numeração. Nessa data azíaga na história brasileira, em 1954, a saga de um dos nossos maiores presidentes terminaria, por decisão própria.

        Agora, reincido no título, e com respeito à Presidente Dilma Rousseff. Como não é o único com a expressão de Carlos Drummond de Andrade, confesso o quanto me marcou o tropo desse grande poeta. 

        A situação da Presidenta, mesmo sob vistas estrangeiras, não melhora muito.

        Todo primeiro mandatário em funções, por pior que seja, terá direito a opiniões discrepantes, e até favoráveis. Contudo, por mais unilateral e partidística que seja a postura, é forçoso convir que a atual chefe de estado, e por uma série de fatores, restringe de muito a eventual capacidade alheia de dar opinião positiva acerca de seu governo.

        Se alguém mereceria o título de gestora temerária, nela encontraremos  presidente que faz por amplamente merecê-lo por sua ineptidão nas escolhas.

        Dentre as principais acusações, avultam o desfazimento do Plano Real, com a volta da inflação, o desrespeito à Lei de Responsabilidade Fiscal (que é a chave da abóbada da construção do Real), a utilização de meios espúrios, como a conta-movimento (dos tempos do dragão), sem falar nas pedaladas de Guido Mantega e Arno Augustin, por ela aprovadas, conforme sentença unânime de condenação pelo colendo Tribunal de Contas da União.

        As escolhas de Dilma - v.g., a tentativa de ativar a economia pelo crédito tributário produziu enormes déficits nas contas fiscais, sem que houvesse o crescimento econômico correspondente - foram as mais das  vezes erradas, como o suposto "trem bala" que sequer saíu do papel, além do discutido desvio do Rio S.Francisco e de um clientelismo desvairado. Num país, que sofre por seus maus portos (seja por sindicalismo demagógico, seja por falta de terminais portuários) se dispenderam enormes somas para montar o Porto de Mariel, em Cuba, a cuja festiva inauguração acorreram todos os chavistas e neo-chavistas das vizinhanças, com olhos compridos e pratos estendidos na esperança de mais empréstimos do BNDES - banco que deveria privilegiar o Brasil cujas exportações - aquelas que escapam da sufocante burocracia tributária de Pindorama - semelham muito precisadas de bons terminais.

            Por onde se examine a Administração Dilma, ela está tisnada de maléfica mistura entre ineficiência (dada essa construção arrevezada que é talvez o pior ministério na História Pátria) e a própria corrupção, a que venho dedicando tantas análises que, se não podem resolver esse magno problema, tentam aproximar-nos de uma melhor compreensão deste  desafio para a Terra de Santa Cruz.

            A possibilidade de piorar é uma das 'qualidades' da Administração Dilma II (é evidente, de resto, que o Dilma I corresponde à grande pedra inaugural de um governo desastroso).

            Infelizmente, os governos petistas de Lula da Silva (2003-2009) e Dilma Rousseff (2010-2016) ainda são interrogações, e não quadros na parede (na imagem do poeta). Quanto a Lula da Silva, os jornais desta manhã - O Globo: Investigado, Lula terá de explicar tríplex e sítio; Folha: Nota fiscal de barco reforça elo de Lula com sítio em SP - mostram que o nosso sistema investigativo e judiciário cumpre com o seu recado constitucional.

            Quanto ao impeachment de Dilma Rousseff, posto que a melhor solução teria sido a mais breve, sobram indicações de que falta ainda muito para a solução. A última intervenção do Supremo mostrou mão pesada, eis que foi um 'ponto fora da curva' pelo voto do Ministro Luis Roberto Barroso, ao desrespeitar o artigo 2° da Constituição Cidadã.

            Há esperanças que pelo recurso de embargos de declaração - me referi à questão no blog "Nesga de Luz para o Impeachment?", de catorze de janeiro corrente - dois tópicos sejam passíveis de mudanças, e.g., a maneira de determinar a composição da Câmara especial, que deveria ser pelo voto secreto (que é o modus faciendi constitucional, como assinala o renomado jurista e ex-presidente do STF Carlos Velloso) e (b) a própria candidatura avulsa, que deve ser regra interna corporis, como sublinhou o Ministro Dias Toffoli.

            De qualquer forma, pela sua atuação confusa e contraditória, não faltam motivos para o Economist ser tão pessimista, quanto o demonstra no seu artigo de capa (que foi objeto do meu blog de ontem).

            Se D. Dilma Rousseff permanecer no Palácio do Planalto, o Brasil sofrerá mais um anticlímax. Depois de estar com um solitário dígito em avaliação favorável, é impossível saber como evoluirá o quadro, e se eventual piora (eis que tal possibilidade existe sempre) tornar a continuação de seu segundo mandato ainda mais problemática, a esperança é que se possa reconstituir em breve tempo o governo nacional, para o qual o Povo Soberano exigiria três condições pelo menos: espírito democrático, integridade pessoal e competência nas matérias respectivas.  Tampouco, mesmo em excesso, prejudicaria que o futuro morador no Alvorada tenha curso superior completo, experiência política e boa cultura.

            São instrumentos que, se não garantem o êxito que todos nós deveríamos desejar, tenderiam a assegurar menos vexames - e até menor grau de azias - para o público leitor das respectivas entrevistas de Suas Excelências.

 

( Fontes:  O Globo; Folha de S. Paulo; Carlos Drummond de Andrade )

sexta-feira, 29 de janeiro de 2016

A Chave do Claro Enigma ?


                                

          Não se poderia dizer que The Economist seja grande amigo do Brasil. Mas na mídia, em termos de economia e política, as amizades ou não contam, ou contam muito pouco.

          Os fatos e os números não são cartas, nem conchas que jogadas em mesa ou tabuleiro, possam encerrar esotéricos números e composições, só abertos e legíveis para os luzentes olhos de magos e videntes.

          Por isso se a câmera do fotógrafo trouxe para a capa da revista o rosto da Presidente Dilma Rousseff, com rugas nos olhos, face e pescoço, na cruel, demasiada cercania da objetiva, a composição se encaixa nas brancas letras do título A Queda do Brasil, e em tipo menor, Dilma Rousseff e o desastroso ano pela frente.

           No par de gordas colunas de página inteira, se repetem as palavras da capa, e bastam duas na concisão do inglês. Se em 2016 o Brasil deveria estar com disposição exuberante à espera da primeira Olimpíada na América do Sul, ao invés disso  enfrenta desastre político e econômico (o Economist não menciona o flagelo do zika porque a revista é da primeira semana deste ano). Segue pequeno resumo dos percalços: a agência Fitch rebaixa a dívida do Brasil para o status de lixo (junk), o Ministro Joaquim Levy, designado por Dilma para estabilizar as finanças públicas, abandona o barco em desespero. A previsão da economia é que encolha 2.5-3% em 2016. Até a Rússia, apesar das sanções, deve sair-se melhor. Ao mesmo tempo, a coalizão governante está desacreditada pelo escândalo do Petrolão. E a Sra. Rousseff, acusada de ocultar o tamanho do déficit orçamentário, enfrenta um processo de impeachment no Congresso.

             Como o B do acrônimo Brics, se presumiria que o Brasil esteja na vanguarda das economias emergentes. Ao invés, defronta a disfunção política e talvez a volta para a inflação descontrolada. Apenas escolhas difíceis poderiam recolocar o Brasil, mas a Sra. Rousseff não parecer ter estômago para enfrentá-las.

              O sofrimento do Brasil, como o de outras economias emergentes, provem em parte da queda mundial nos preços dos produtos de base. Mas Dilma e o seu esquerdista Partido dos Trabalhadores tornaram muito pior uma situação ruim. No primeiro mandato, gastou de forma extravagante e despropositada em pensões  mais altas e improdutivas vantagens tributárias para certas indústrias (de bens de consumo durável).  O déficit fiscal inchou de 2% para 10% em 2015.

                  A gerência da crise não se pode dar ao luxo de esperar por tempos melhores.  A Dívida Pública está em 70% do PIB, o que é muito grande para um país de renda média que queira crescer rápido. Por causa de altos juros, o serviço da dívida corresponde a um pesado 7% do PNB. Por outro lado, por causa do alto nível dos juros, o Banco Central não pode recorrer com facilidade à política monetária para combater a inflação (hoje em 10.5%). Nesse sentido, o Brasil não tem outra escolha que a de elevar os impostos e cortar as despesas.

                    Levy cortou as despesas discricionárias em R$ 70 bilhões em 2015 e tornou mais estritas as exigências para o seguro-desemprego. Mas não bastou. A recessão derrubou os rendimentos tributários. Dilma pouco apoiou o seu Ministro da Fazenda, e o PT lhe foi hostil.  A oposição, cujo escopo é derrubar a presidente, não tinha condições de cooperar.

                    O Economist tem esperanças de que Nelson Barbosa possa conseguir melhores resultados como Ministro da Fazenda. Tem apoio do PT, e também poder de barganha, porque a Sra. Rousseff não se poderia permitir perder outro Ministro da Fazenda. O primeiro teste seria a CPMF.

                     Outro objetivo prioritário seriam as pensões. Como não podem ficar abaixo do salário mínimo - e deve notar-se que o mínimo subiu em 90% na última década o peso nas pensões aumenta com as mulheres se aposentando aos cinquenta e os homens aos 55 - o Brasil paga quase 12% do PIB para os aposentados, uma parcela maior do que o Japão, que tem média mais alta de idade na população e é mais rico.

                      Mas o que precisa ser feito é muito mais. O código tributário brasileiro exige que empresa manufatureira brasileira gaste 2.600 horas por ano para cumprir com as obrigações desse intricado e pouco manejável regime legal (o tempo exigido por seus equivalentes na América Latina é 356 horas ). O código trabalhista brasileiro, baseado no fascista de Mussolini, torna dispendioso para as empresas demitirem até mesmo empregados incompetentes.  Outro aspecto negativo é a blindagem que a legislação nacional confere às firmas brasileiras, em termos de concorrência.  E o resultado é que, entre 41 países com performance medida pela OCDE,  a nossa produtividade manufatureira é a quarta - se contarmos a partir do último...

                        São previsíveis, por conseguinte, as dificuldades a serem enfrentadas para reformar o código trabalhista e as pensões. Cerca de 90% das despesas públicas está protegido de cortes, a começar pela Constituição de 1988. Dada a extrema dificuldade para a reforma, o Brasil rivaliza no tamanho do setor público com os Estados europeus pela própria ineficiência. O Estado no Brasil, pelo seu tamanho, é a principal causa da crise fiscal.

                            Modificar essas práticas enraizadas seria difícil para qualquer governo. No Brasil, isto fica ainda mais difícil, por um meio aloucado sistema político, que favorece a fragmentação partidária  e  a compra de votos (sic) além de atrair  mercenários políticos que tem poucos compromissos seja  com o partido e o programa.  É baixo o limite para que um partido entre na Câmara; hoje 28 partidos estão representados no Congresso. No entender do Economist, as intricâncias no sistema político-partidário podem tornar muito caras as campanhas políticas, o que seria uma das razões porque os políticos subtraíram somas tão grandes de dinheiro da Petrobrás.

                              Para o Economist, portanto, não há boas perspectivas, apesar das qualidades de Nelson Barbosa, de ser otimista quanto a uma reforma profunda.  Os cidadãos votantes sentem desprezo  pelos políticos.  A oposição deseja aprovar o impeachment de Dilma, que o Economist considera uma batalha pouco razoável, e que poderia dominar a agenda política por meses. O PT não tem apetite por austeridade e lograr os três quintos de apoio necessário  nas duas Casas do Congresso para reformas constitucionais será objetivo muito difícil de atingir.

A Imprudente Rousseff 

        Ao cabo, o Economist se pergunta e se a Sra. Rousseff falhar em implantar a mudança?  Como a maior parte da dívida do Brasil está em moeda nacional, isso torna o default (incapacidade de pagamento) improvável. Ao invés, o país poderia se livrar das dívidas através da desvalorização inflacionária desse débito.  A realização do Brasil tem sido tirar dezenas de milhões de pessoas dos andrajos e das inconstâncias da pobreza. A recessão poderá deter tal processo, ou mesmo começar a revertê-lo.

        A esperança está em que o Brasil, que alcançou estabilidade econômica e democrática, não caia de novo em crônica desordem e mal-gerenciamento econômico.   

(a continuar)  

 

( Fonte: tradução do artigo principal de 'The Economist', datado de 2.01.2016 )            

quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

OMS: a explosão do Zika


                                 

         Segundo funcionários da Organização Mundial de Saúde (OMS), o vírus Zika se está espalhando nas Américas de forma explosiva. Nesse sentido, está prevista uma reunião de emergência nesta segunda, 1° de fevereiro, para decidir acerca de declarar emergência  na saúde pública.

          A Dra. Margaret Chan, Diretora-Geral da OMS, afirmou, em discurso na sede genebrina, que "o nível de alarme está extremamente alto".

          Assim, três a quatro milhões de pessoas nas Américas podem ficar expostas ao vírus nos próximos doze meses, nas palavras do Dr. Sylvain Aldighieri, chefe de unidade na OPAS (Organização Pan-americana de Saúde).  O Dr. Aldighieri precisou, no entanto, que há muitos vazios (gaps) em termos de confirmação da situação real: "São estimativas matemáticas."

           Nas palavras da Dra. Chan, causam muita preocupação os casos de microcefalia, uma condição rara em que os bebês nascem com cabeças anormalmente pequenas, o que tem aumentado dramaticamente no Brasil à medida que o Zika se difunde.  Os expertos dizem que é ainda muito cedo para afirmar que o Zika é a causa dessa condição. De qualquer forma, há algumas indicações de que os dois estejam ligados.

           As autoridades sanitárias no Brasil disseram nesta quarta-feira,27 de janeiro, que os casos assinalados de microcefalia ascenderam a 4.180 desde outubro último, um aumento de 7 por cento do último dado disponível na semana passada. Antes da epidemia, o Brasil comunicava cerca de 150 casos de microcefalia por ano.

            Tal causou alarme generalizado, dada a recente aparição do virus no Brasil, e logo em seguida o enorme salto em casos de microcefalia prontamente informados por médicos, hospitais e funcionários sanitários.

            Mas por ora, ainda não é possível provar que o Zika é a causa.

            Nesse contexto, o Dr. Bruce Aylward, diretor-geral-adjunto da OMS,  observa que "é realmente importante entender a diferença entre associações e causas". Assinalou que há ainda muitas questões a respeito de se  o vírus zika e a microcefalia sejam ligados ou não.

             O Ministério da Saúde do Brasil informou na quarta-feira  que tinha examinado mais de 700 casos  de microcefalia e detectado o Zika em apenas seis crianças - embora ainda não se saiba ao certo o que isto significa.

              Os especialistas em doenças infecciosas recomendam cautela visto que os métodos de exame do Brasil estão ultrapassados e que lhe pode por isso escapar muitos casos de Zika. Eles também dizem que em alguns casos a mãe pode ter sido infectada pelo Zika, causando a microcefalia no seu bebê, mesmo se o vírus não for detectado no recém-nascido.

              O vírus espalhou-se por mais de vinte países e território nessa região.  A Dra. Chan disse que estava "muito preocupada com esta situação que evolui rapidamente". Ela também se manifestou alarmada pelo potencial de ulterior difusão do vírus, se se levar em conta a ubiquidade dos mosquitos vetores e o número muito reduzido de pessoas  que desenvolveram imunidade contra ele.  O vírus, que apareceu em Uganda nos anos quarenta, raramente havia sido detectado nas Américas.

              Nas palavras da Dra. Chan, "o nível de preocupação é alto, assim como o é, o nível de incerteza".  "Abundam as perguntas. Precisamos obter algumas respostas logo."

              Na OMS, enquanto a Diretora-Geral, Dra. Chan, tem tom de preocupação profunda, o Dr. Aylward, o Diretor-Geral adjunto deu a impressão de baixar um tanto nas previsões mais terríveis sobre a doença.

              "Preocupado é por certo o termo apropriado para ser empregado. Alarmado não seria no meu entender a linguagem acertada."

               Indagado acerca da possibilidade de que a OMS aconselhasse as pessoas a não viajar ao Brasil para as Olimpíadas,  o Dr. Aylward respondeu: "Eu pensaria que isso seria muito, muito improvável quando se vê as áreas afetadas e o âmbito disso."

                Houve críticas de alguns expertos à Dra. Chan, por não convocar de imediato um comitê para opinar se é o caso de declarar Zika uma emergência pública de saúde.

                Na revista especializada JAMA, dois expertos opinaram em favor de um encontro imediato,  dizendo que a hesitação de parte da OMS repetia a reação lenta da Agência quando surgiu a epidemia de ébola em 2014.

                Nesse sentido, os especialistas escreveram: "o próprio processo  de convocar o comitê catalizaria atenção internacional, fundos e pesquisa."

                A Dra. Chan não atendeu de imediato a sugestão dos especialistas. Disse que  pediria ao comitê conselhos acerca do "nível apropriado de preocupação (concern) internacional" e que medidas a OMS deveria recomendar aos países afetados para que sejam tomadas. Também pediria ao Comitê para identificar as prioridades de pesquisa.

                   Um problema, segundo referiu a Dra. Chan, é que inexiste vacina contra o vírus ou um rápido teste-diagnóstico para determinar se alguém está infectado. Por sua vez, o Dr. Anthony S. Fauci,  diretor do Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas, declarou, em entrevista, que os cientistas nos Institutos Nacionais de Saúde estão trabalhando nas duas questões.

                    "Já estamos a caminho, nos primeiros passos para desenvolver uma vacina. E começamos a trabalhar em um diagnóstico para dizer se alguém está infectado."

 

(Transcrito do New York Times, em reportagem de Sabrina Tavernise).      

Continua, e se aperta, o Cerco


                                    

             A luta contra a corrupção entra em nova fase.  A Lava-Jato, que é a operação geral, conduzida pela Polícia Federal e o Ministério Público, entra agora na Triplo X.

             A criatividade nas designações de suas operações é bem conhecida. A Erga omnes (para todos) foi a que prendeu os presidentes das maiores empreiteiras (inclusive o próprio Marcelo Odebrecht, que ainda está trancafiado na cadeia em Curitiba). Ou então, faz advertência com a Nessun dorma (que ninguém durma), ária da opera Turandot, de Puccini.

            A ironia pode igualmente estar presente, como frisa Merval Pereira: "Que País é esse?", impropério do ex-diretor da Petrobrás, o arrogante Renato Duque, ao ser preso pelos agentes federais (teria liminar do Ministro Teori Zavascki, que depois foi revogada)

            Já se aproximando del capo dei tutti i capi (chefe de todos os chefes), a 22ª Operação, a Triplo X, que pode ser referência ao triplex, que é atribuído a Lula da Silva, no edifício Solaris, na praia de Guarajá.

            Há muitas suspeitas de que este caso se origine do escândalo envolvendo a Bancoop, e que Lula da Silva tentou parar na Justiça, havendo sido derrotado em tal propósito.

             Vejam só essa estória: cooperativa de trabalhadores, a princípio presidida por Ricardo Berzoini - que a fundou em 1996 -, e, mais tarde por João Vaccari Neto - ela faliu devido à corrupção.  Deixou então literalmente à míngua mais de três mil pessoas, que lá tinham colocado suas economias.

             Após a aludida fundação pelo citado Berzoini, que é ex-presidente do PT e agora ocupa a Secretaria de Governo da Presidência, a cooperativa dos bancários vem sendo investigada pelo Ministério Público de São Paulo a partir de 2007, por crimes de lavagem de dinheiro, com desvio de recursos para o Caixa Dois do Partido dos Trabalhadores, o qual controla a máquina sindical dos bancários.

              Como se refere, os fundos de pensão controlados igualmente pelos tentáculos do PT perderam muito dinheiro investindo na Bancoop.  Diante da situação das contas, a pedido de Lula da Silva, consoante se assinala, assumiu o dito empreendimento a empreiteira OAS, de acordo com denúncias que estão sendo apuradas.

              Tal explicaria a incôngrua presença da OAS no Edifício Solaris, e por feliz coincidência apenas esse dito edifício, sito na Praia de Guarujá, teve a obra terminada.  Nele, e também por coincidência,  Lula da Silva e a esposa Marisa tinham apartamento, além de o próprio João Vaccari Neto, parentes seus, e até Freud Godoy, ex-segurança de Lula, e envolvido no Escândalo dos Aloprados.

              Eis que o triplex de Lula da Silva, o 164-A, é incluído pela Polícia Federal  entre os imóveis com "alto grau de suspeita quanto à sua real titularidade". Segundo transcreve do relatório oficial, citado pela coluna de Merval Pereira, "manobras financeiras e comerciais complexas envolvendo a empreiteira OAS, a Cooperativa Bancoop e pessoas vinculadas a esta última e ao PT apontam que unidades do condomínio Solaris podem ter sido repassadas a título de propina pela OAS, em troca de benesses junto aos contratos da Petrobrás".

                 Não é segredo, de resto, que a Operação Lava-Jato tenha chegado ao presente estágio justamente na semana em que o Ministério Público  de S. Paulo considera já ter provas suficientes para denunciar o ex-Presidente Lula e sua mulher Marisa, por ocultação de propriedade, eis que as duas investigações estão sendo compartilhadas.

                 Terá sido o promotor de Justiça de S.Paulo Cássio Conserino menos cauteloso que os procuradores da Lava-Jato ?  Por sua vez, esses procuradores somente ontem, 27 de janeiro de 2016, incluíram o apartamento atribuído à Lula quando perguntados diretamente.  Mesmo assim, assinalaram que todas as unidades que teoricamente pertencem à OAS serão investigadas.

                 Além disso, os promotores paulistas já têm depoimentos de pessoas que estiveram com o ex-presidente e sua família durante a reforma do apartamento, financiada pela OAS.  De acordo com as revelações do site "O Antagonista", sabem inclusive onde as  cozinhas foram compradas, por quem, e quanto custaram, possibilitando, nesse sentido, interessante cruzamento  com um sítio em Atibaia,  que também é afirmado  pertencer a Lula da Silva, posto que esteja em nome de outros proprietários, muito provavelmente laranjas.  De resto, as mesmas cozinhas foram compradas na mesma loja, pela mesma pessoa, ligada à  OAS, e no mesmo dia.

 

( Fontes:  O Globo - coluna de Merval Pereira)

quarta-feira, 27 de janeiro de 2016

A Corrupção é para ficar ?


                                     
        A crise no Brasil é muito pior de o que a própria imprensa apresenta. Por mais variada que seja, cada caso vira sinalização isolada. A crise, sobretudo a de governo, e na sua relação com a população, surge, então, multifacetada, como se ela fosse monstro de mil caras que tomasse o extremo cuidado de aparecer a cada vez em uma única forma determinada. Cresce o mal-estar circundante, mas povão, sociedade civil e elites que se crêem dirigentes o intuem e quiçá o percebam de diferentes maneiras e nas  formas entre as mais difusas e desconexas. No ar, há uma sensação para alguns esquisita, para outras estranha, invasiva, mas que pelas suas externalidades como que escapa a definições, ou, estranhamente, saiba contornar-lhes as supostas designações ou até seus nomes vulgares, para mergulhar em águas profundas, mas que exalam cheiros fétidos, sabe-se lá da negligência de decênios em termos de saneamento básico, ou quiçá do  fundo lodoso e infecto, que embora formado em tempos ainda mais longínquos, com infinita pachorra e se valendo das muletas do descaso de sempre,  ora venha trazer-nos nos esgares que se abrem pelas ondinhas incessantes o sopro mal-cheiroso do abandono, do desleixo e dessa malemolência que infesta os trópicos e que muitos chamam de negligência, quando na verdade aí se reflete nas águas turvas a desonestidade dos maus administradores da cousa pública, os monturos da ignorância de décadas, e a descomunal indolência que une a várias gerações de gente sem nome e de administradores sem vergonha. Essa fedentina é face  de uma descomunal preguiça de gerações. Aumenta o mal-estar com que a negação não sabe lidar, acabando sempre por torná-lo mais opressivo.

       O cinismo não é a grande porta por que passam os carros de abertura dos desfiles carnavalescos, mas a sanhuda, afrontosa máscara de quem nada mais tem a expressar, senão o riso sardônico e desaforado, com que os biltres de vários estações sociais dissimulam a respectiva nulidade, que por caprichos da sorte lograram se aninhar em mansões, casebres, tocas e esconderijos, que a fortuna lhes arranjou e eles sequer tiveram força de negar ou repelir.

         Nessa terra que dizem abençoada por Deus, o que fizemos com o hall magnífico e as grandes e verdes salas de entrada, que desde os tempos do emboaba Villegaignon tem encantado na caprichosa formação da Natureza o olhar de tantas gerações, nos tempos pachorrentos da navegação à vela, das naus, galeões e caravelas, que com mastros enfunados, adentravam a esplendorosa sala de espera de mãe-natureza.

         Os tempos mudaram. A grande,metafórica mansão de um caprichoso agreste, vestido de florestas, matas, de suados rochedos e de montanhas que os tremores antigos haviam vestido com a pujança de florestas, em que o bicho-homem se apequenava, com fímbrias de tímida construção que mais pareciam, vistos dos velames dos grandes barcos, como frágeis adereços de natureza imponente.

          De longe, no tempo hodierno, o quadro pode continuar belo, mas será aconselhável ao viajante não se aventurar a aproximar-se demasiado das decantadas praias, porque de um lado o chorume que, por vezes, desce das favelas de Niteroi, trará mais olores e piores águas para quem se aventure a nelas mergulhar. Não é de esquecer o caso de alto funcionário do Rio de Janeiro que se lançou nessas obscuras águas. Instâncias superiores lhe lamentaram o gesto, que, a seu dizer, punha em risco a própria saúde.

            Mesmo essa triste situação - que num arroubo alguém prometera sanar - não surgiu em curto espaço de tempo. Há obras magníficas que consumiram anos para deslumbrarem o mundo. E há outras, de diferente espécie, que lograram, com a incúria e a malemolente displicência do carioca hodierno, o feito, deveras surpreendente, mas tristemente deplorável de, pela recusa e solene displicência, logram transformar em águas quase pútridas aquelas que menino ainda se divertia, sob o olhar atento de parentes, cobrir em braçadas alegres e despreocupadas, através das límpidas ondinhas de uma baía ainda magnífica sala de recepção do Rio de Janeiro e entorno. Aqueles que ali cruzavam, em nados e mergulhos, as águas claras, por vezes azuis, por vezes esmeralda, não sabiam que se lhes preparava - mas sobretudo a seus pósteros - uma grande surpresa, que viria vestida com os trapos de águas turvas, que não mais brilham com o antigo fulgor sob o sol novo.

               E viva o progresso!

PS.          Dona Dilma está quicando de raiva contra o seu Ministro Marcelo Castro que, além da suposta gafe de que o Brasil está perdendo a guerra contra o Aedes Aegypti, vetor do virus zika,da dengue e da tal chicungunha,  sendo da safra peemedebista do líder Leonardo Picciani, acumularia ratas.

                Peço vênia para discordar do colunista global, quanto ao ponto a ser corrigido.  É verdade que o ministério de Dilma não poderia ir contra a sua criadora, em termos de visão e capacidade. Mas o ministro em causa apontou um problema que pode ser também grave politicamente. Se os casos de microcefalia já passam de quatro mil e se a situação dos hospitais públicos beira o caos - não havendo de resto nenhum sinal de recuperação neste sentido,  é muito provável que a tal preocupação europeia continue a crescer.

                 Nessa atmosfera de falta de verbas e de desgoverno generalizado, se o Brasil tem ambições olímpicas,  é indispensável uma resposta à altura  desse desafio. Como nos ensina Arnold Toynbee, o desafio a uma civilização determinada, se não enfrentado com êxito, pode conduzir às piores consequências.

                 Por outro lado, como fez e disse Breno - o chefe gaulês que interrompeu, por curto mas nefasto período, o avanço da jovem Roma, ao ser questionado por algum patrício romano da Justiça da reparação que exigia - ao lançar a própria espada na balança levantada para colher os tributos devidos pelos vencidos, a que acompanhou com o grito célebre Vae Victis (Ai dos Vencidos!)  

                 Não sei se o Ministro Marcelo Castro disse algo impróprio, mas é oportuno ter presente que não se pode esquecer o desafio presente, que é o de dar a impressão de que o Brasil e o Rio de Janeiro estão em condições de dominar tal repto.  Porque se a situação sair fora de controle, o resultado dela é tristemente previsível.

                  Como diziam os nossos antepassados, quem não tem competência, não se estabelece.

 

( Fontes: Brasil: Corrupção & Burocracia, A.J. Toynbee, História de Roma,  O  Globo )

terça-feira, 26 de janeiro de 2016

Aonde está o Túnel ?


                                            

         A economia no Brasil talvez seja o argumento mais forte para que nos vejamos livres do pesado legado dos governos de Dilma Rousseff. Se a roubalheira vai mais por conta do legado anterior - posto que não foi exatamente com o lencinho no nariz que dona Dilma enfrentou tal realidade - o registro dos malogros  e, sobretudo, da falta de luz no fim do túnel já demonstra que o Povo, dotado de menos paciência e de maior senso crítico, vem evidenciando reação  pronta e eficaz.

         Se Dilma obteve o seu segundo mandato foi à conta de mentiras mil, além de aparelhar os órgãos competentes para que se desse aos candidatos de oposição a oportunidade de apresentar o outro quadro da realidade, e não através de uma negativa (que prefiro não qualificar) que barrou qualquer possibilidade à candidata Marina de desmascarar mentira do filmete sobre a autonomia do Banco Central que, segundo a apresentação oficialóide, iria tirar a comida da mesa do pobre. E, diga-se por primeira vez, a indignação do eleitor é menos pela afrontosa mentira da programação da candidata oficial do que pelo respeito que se deve ter pelo contraditório, senão tal se transforma em modelo de propaganda da Bielorrússia e outras ditaduras do gênero.

          Sem querer, no entanto, esse abuso da propaganda oficialóide já mostra que é mais do que tempo de pôr fim ao reino do PT, como terei mostrado na minha série Brasil: Corrupção & Burocracia. O poder, como o demonstra Lord Acton, o transformou e não foi decerto para bem.

          As longas permanências no mando não só acentuam a corrupção, como o demonstrou o pensador inglês, mas também prejudicam fundo a Nação, que se vê impregnada, mesmo que contra a vontade, por esse miasma que a quase tudo invade. Vejam, ilustres passageiros, o exemplo do México, que, anos após ter-se visto livre do parasita do Partido Revolucionário Institucional (PRI), o qual apesar de apregoar o voto efetivo (quando na verdade era fraudulento), só se apegava ao lema de não-reeleição, que o continuísmo de Porfirio Diaz havia desmoralizado.O sacríficio de Francisco I. Madero, o presidente assassinado, deslancharia talvez a maior revolução nesse nosso infeliz continente latino-americano,  que tem sido demasiado rico em revoluções e golpes de estado.

            Mas na esperança de que o Supremo reveja a sua última intervenção no processo de impeachment de Dilma Rousseff - em que por uma emenda de ponto longe da curva - a qual se intrometeu demasiado em questão afeta a outro Pode constitucional, no caso o Congresso (V. artigo 2º da Constituição, que estatui que são Poderes da União, independentes e harmônicos entre si, o Legislativo, o Executivo e o Judiciário.), - é também forçoso e urgente considerar que se tem de pôr um fim a esse governo do Partido dos Trabalhadores, ora presidido em segundo mandato, pela Senhora Rousseff.
             Aliás, a senhora Presidente está uma arara com o seu Ministro da Saúde, Marcelo Castro, que declarou que o Brasil está perdendo feio a sua guerra contra o mosquitinho do zika.

               Essa manifestação - que eventual pressão de Dilma poderá até modificar, mas não logrará apagar porque é a dura verdade - corresponde à verificação de fato, em uma mistura de burocracia, falta de verbas e de real vontade de motivar a população. Tal apenas repete reações anteriores, diante de ameaças similares, em que a autoridade muita vez pensa que externar o problema e afirmar-lhe a vontade de combatê-lo já compõe a sua parte, quando não deveria passar do início de ação sustentada - e não de mentirinha, como o são muitas supostas iniciativas oficiais - em que participem o Governo, os seus ministérios e secretarias, além do próprio Povo motivado (através de campanhas nos meios de comunicação e de advertências quanto à necessidade de cooperar de modo eficaz para arrostar e vencer um problema de saúde pública que, por conseguinte, a todos concerne).

                Disparada no endividamento.

                 Segundo a seção econômico-financeira de O Globo, um grupo de 50 grandes empresas tinha uma dívida total de R$ 476,05 bilhões (2013)  e de R$ 842,59 bilhões (2015), o que corresponde a um salto de 77% nesses dois anos. Já em termos de dívida líquida, em 3º trimestre, a Petrobrás, espoliada pelo Petrolão, apresentou R$ 401,99  bilhões, seguida pela Vale com R$ 96,45 bilhões, a OI com R$ 43,68 bilhões, a JBS com R$ 41,71 bilhões, a CSN com R$ 26,08 bilhões, Metalurgica Gerdau com R$ 23,15, a Braskem com R$ 21,39 bilhões e outra Gerdau, com R$ 20,84 bilhões.

                  Tampouco a Dívida corporativa (como proporção do PIB) (fim de 2014) apresenta um quadro alentador:

                   o Brasil tem dívida de  67,4%

                   a Turquia,  de              63,9%

                   a África do Sul, de     55,7%

                   a  Índia, de               52,2%

                   a Rússia, de             49,5%

                   Indonésia, de        37,3%     e

                   México, de           33.2%.  

                  

                 Por outro lado, a crise também se reflete nos Estados, como não poderia deixar de ser. Nos cinco maiores estados (São Paulo, Minas Gerais, Rio de Janeiro, Rio Grande do Sul e Paraná) os cortes nos orçamentos previstos para 2016 registram variações para menos, respectivamente, - 14,26%, -11,37%, -31,33%,-30,32%,e  mais 21.73%             

                  A confirmar, a boa notícia está na internet de hoje: os gastos dos brasileiros caem no exterior - em virtude do dólar mais caro - forçando menos a conta de invisíveis. Por outro lado, haveria um superavit de US$ 58,9 bilhões na balança de mercadorias ( o que se explica por um real mais barato em relação ao dólar, e portanto mais competitivo).   

 

( Fontes: O Globo, Folha de S. Paulo, Site de O Globo )