terça-feira, 1 de setembro de 2015

Encolhe espaço de Levy


                                 

          O orçamento foi enviado pelo Governo para o Congresso, com déficit de R$ 30,5 bilhões. Isto se deve precipuamente a duas causas: a extrema dificuldade do governo em controlar e cortar despesas, e a ausência, com a saída de cena do projeto de nova CPMF, de fundos para equilibrar o orçamento.

          Sabe-se que o orçamento é seara do Ministro do Planejamento, Nelson Barbosa. A participação do Ministro Joaquim Levy tem sido marginal. Por uma série de circunstâncias – quer por sua não-participação em muitas das discussões (o que dificilmente pode ser atribuído ao acaso), quer por ser amiúde voto vencido nos debates, eis que o restante do grupo semelha mais afinado com Dilma Rousseff quanto a aceitar mesmo os projetos mais gastadores – assim o Ministro da Fazenda não mais tem prevalência na conformação final do orçamento.

          Quando se fala de núcleo com voz e voto na matéria econômica, o poder do sufrágio do grupo dilmista aumentou deveras. O Ministro Barbosa, depois do puxão de orelhas que levou da presidente – enquanto aos critérios que presidem a atualização do salário mínimo - voltou a enquadrar-se na linha gastadora que, apesar de tudo, continua a ser a da chefa do governo.

          Dilma acrescentou ao grupo o Ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, com voz e voto nos temas econômicos. Feita a soma, quem sobra é o Ministro Levy, e isso já está transpirando na sua fisionomia.

          Se no passado o orçamento era da competência do Ministério do Planejamento, o Ministro da Fazenda sempre teve voz no capítulo. O Planejamento entra no Orçamento pelo aspecto técnico, mas não é concebível um orçamento que seja feito com filosofia diversa da que prevaleça na  Fazenda.

          Como se verifica, Dilma Rousseff não se conforma em que a sua visão da economia – o que ela entende por isso – não prevaleça, mesmo que tenha já colhido sobejas indicações de que tal método não é indicado para qualquer economia que não tenha por escopo a produção de déficits.

          Nelson Barbosa, que nas primeiras semanas do Dilma II estava afinado com Joaquim Levy, deixou de sê-lo depois de humilhante e público puxão de orelhas. A própria entrada de Mercadante no grupo econômico-financeiro já indica que a sutil Presidenta não quer correr riscos.

          Por quanto tempo Joaquim Levy continuará no governo? Ao ser designado por Dilma, que o fez pressionada pela situação calamitosa de sua gestão econômico-financeira, a conclusão tirada por quem se guia pela lógica era que a Rousseff se pautaria doravante por orientação conservadora em matéria de economia e finanças.

          Mas um momento! Há um erro básico neste raciocínio.  Ele se pauta pela lógica. Mas se a lógica devesse prevalecer, outra teria sido a sua conduta em economia e finanças no Dilma I. E não foi, porque ela, apesar de tudo, acredita nesse simulacro de método em que as regras da economia clássica não são observadas. Malgrado o malogro da situação econômica – altos déficits, volta da inflação, índices ruins na economia – a obstinada Dilma não desiste. Está mesmo disposta a concessões táticas – como foi a nomeação de um ortodoxo para a pasta da Fazenda – mas isto, com ela, não significa que vá mudar de atitude. E é o que os pasmos observadores estão verificando! O semblante de Joaquim Levy, este competente, preparado e sério economista, pode ser interpretado como aparelho registrador de sua avaliação da economia brasileira em geral, e da situação em particular.

             O nosso Ministro da Fazenda não pode estar satisfeito com quem acredita na desorganização criativa como método de governo e administração. Ele não é um cortesão, entrou no dílmico barco pensando que iria para o campo normalmente associado ao de Ministros da Economia, com plenos poderes para gerir uma confusa e endêmica desorganização que não surgiu por responsabilidade sua. E o pressuposto escopo de seu ingresso neste barco já meio avariado seria o de pô-lo em condições de navegabilidade.

              É difícil a previsão do comportamento humano, mas há casos em que tal atividade se vê facilitada por quem chama um especialista para determinado  posto com vistas a atender situação de fraqueza que presume conjuntural. Como ela não tenciona abdicar de seus projetos, o que outros interpretariam como carta-branca, não passa, na verdade, de plano para ganhar tempo e voltar tão logo quanto possível para as velhas práticas. Por conseguinte, não há lógica nesta atitude, mas sim teimosia.

             Diante de tal comportamento, o poder do Ministro Joaquim Levy se descobre necessariamente relativizado. Salvo o caso pouco provável de reviravolta nas práticas do Dilma II, tudo há de continuar como dantes no quartel de Abrantes (embora essa previsão, em geral empregada para situações de estagnação, no caso presente tenda a significar justamente o oposto).

 

(  Fontes:  O Globo, Folha de S. Paulo )   

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