Conhece acaso
o reservatório do Funil, em Resende? As suas águas integram o sistema do Paraíba
do Sul e contribuem para o abastecimento do Rio. Se vistas à distância,
apresentam coloração amarela, verde ou azul. Não se iludam com a eventual
beleza da vista. Análises da UFRJ revelam que o Funil apresenta índice de
contaminação de infestamento por
cianobactérias (bactérias tóxicas) que é, pelo menos, 25 vezes superior ao
máximo determinado pela Organização Mundial de Saúde (OMS), para água de
abastecimento.
Essas
bactérias cianofíceas (alusão ao seu tom azulado) produzem toxinas que atacam
fígado, rins e pulmões. Se a seca se agravar neste ano, a situação vai-se
agravar, porque o esgoto se manterá estável, ao passo que o fluxo de água
pluvial cairá.
O que é que
determina a OMS? A contaminação não deve ultrapassar vinte mil células de
cianobactérias por milímetro de água. Segundo a prof. Sandra Azevedo, diretora
do Instituto de Biofísica Carlos Chagas Filho, “no Funil, a média é de
quinhentos mil células por milímetro. Essa água pode se tornar impossível de
ser tratada. É puro esgoto concentrado e contém bactérias tóxicas para homens e
animais”.
A Dra.Sandra
define a situação como alarmante. Ela, que há 20 anos estuda a qualidade da
água do reservatório, garante que essa água está imprestável para consumo
humano, pesca e irrigação. No máximo, serviria para navegação e geração de
energia. Segundo a doutora, as chamadas florações tóxicas existem há vinte
anos. Quando o nível da água baixa, como agora, a concentração dos
microorganismos cresce significativamente.
Coletamos
água para análise todos os meses. A situação só piora, devido ao descaso. O
esgoto continua a ser lançado (sem ser tratado) , ao passo que a seca impede a
reposição do volume d’água.
Só um
trabalho sério que impeça o lançamento de esgoto sem tratamento poderá
eventualmente mudar a situação.
A Dra.Sandra e seu grupo divulgaram
recentemente um estudo, que traça o cenário da ameaça para a saúde que o Funil
representa. Publicado em revista científica – Algas Perigosas – o artigo
analisa as concentrações de
cianobactérias que proliferam no Funil. Esses micro-organismos proliferam em
ambientes ricos em nutrientes, como o fosfato e o nitrogênio, abundantes nos
milhões de litros de esgoto sem tratamento lançados no Rio Paraíba do Sul dia
após dia. Eles liberam toxinas que
envenenam peixes e outros animais, e permanecem em alta concentração na água. O
resultado é uma sopa viscosa, malcheirosa e tóxica.
Criado
por Furnas em 1969 para o complexo da Usina hidrelétrica do Funil, o
reservatório tem 40 km quadrados. Recebe não só o esgoto das cidades e
propriedades rurais vizinhas, assim como
grande volume de poluentes originados em São Paulo. Após passar pela usina,
para a geração de energia, as águas são despejadas no Paraíba do Sul, onde
entram no sistema de abastecimento.
Segundo
a Dra. Sandra “O Paraíba do Sul é um rio maltratado. A seca só piorou o cenário
sujo que o descaso histórico com o esgoto e a qualidade da água produziram.”
A
meteorologia aponta para o avanço da seca. E conclui a pesquisadora: “Vemos
claramente a mudança do clima na região. E,
mais nítido do que ( tal mudança), só o esgoto, que continua a ser lançado
impunemente.”
Por sua vez, inquirida a
respeito “a Cedae afirmou ontem (dia 28 de setembro) que não existe risco para
a população.” Segundo nota da empresa, o que “importa não é a qualidade da água
encontrada no Funil, e sim a que chega à captação do Guandu.”
Com o
descaso do poder público, descaso este presente no aumento dos despejos de
esgoto cru, sem qualquer tratamento, nos cursos d’água e não só no sistema do
Guandu, mas também em São Paulo, onde estão sufocando um grande rio como o
Tietê, em quem você acredita, leitor? Na Dra. Sandra e na sua gente, ou na
CEDAE, do Rio de Janeiro ?
Nesse
sentido, temos outros exemplos ainda mais próximos, como a Baía de Guanabara,
em que a água desaconselha a realização de provas náuticas nas próximas
Olimpíadas, tal o nível da poluição. Até os simpáticos golfinhos – e eram
trinta até há pouco – vão morrendo aos poucos, vítimas mais do descaso, do que da
poluição.
Mas
quanto ao controle dos esgotos e a despoluição da Bahia, Pezão e Eduardo Paes
preferiram enfrentar o vexame da Baía da Guanabara poluída (não obstante as
comoventes promessas de despoluí-la quando se tratava de emplacar o Rio de
Janeiro como sede...)
( Fonte: O Globo: Pesquisa revela alta contaminação no
Funil )
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