Frustrado pelo obstrucionismo da
facção Tea Party na Câmara de Representantes,
o presidente da Câmara, John Boehner
– que tem o título de Speaker –
resolveu renunciar à sua cadeira no Congresso.
O católico romano
Boehner ficou sensibilizado, e mesmo emocionado, pelos esforços de Papa Francisco que, segundo acentua o
editorial do New York Times, fez
literalmente tudo que do Santo Padre se poderia esperar no que tange a
convencer o povo americano (e suas instituições) da oportunidade e da extrema
justiça e, portanto, conveniência, de acolher os imigrantes como cidadãos a
título integral na Terra do Tio Sam.
Terão sido em
vão tais esforços? Como se sabe, a reforma da imigração é um projeto de lei
bipartidário, que foi aprovado em 2013 pelo Senado americano, com substancial
apoio dos dois Partidos, o que constitui nos tempos atuais de confrontação
política uma raridade. Sem embargo, a oposição na Câmara, não só pelos
extremistas de direita do Tea Party,
esta facção que surgira, com as bênçãos dos petroleiros irmãos Koch, ao ensejo do famigerado shellacking (tunda), que criou as
condições para que através de maciço gerrymandering[1],
se visse assegurada a maioria eleitoral em favor do GOP na Câmara de Representantes.
A ilegalidade
do gerrymander deve ser combatida e
anulada, não só como toda prática que se valha de meios fraudulentos, e é
portanto írrita de direito, senão porque ela desvirtua a sagrada função do voto
popular, fazendo que nas câmaras dela oriundas, como na mais alta delas (com
exceção do Senado Federal), vale dizer a Câmara de Representantes, não seja
expresso o sentir da Nação, mas opinião que não reflete o pensamento do Povo em
geral. Essa estropiada realidade, se mostra em todo o seu caráter de
desvirtuamento de uma Câmara, como a de Representantes, no caso da reforma
imigratória que, aprovada pelo sufrágio bipartidário no Senado, é engavetada na
Câmara Baixa, eis que esta última não reflete, pelos espelhos trucados, o real
sentir do Povo americano.
Apesar de
emocionado como católico pela pregação do Sumo Pontífice em prol da abertura
imigratória nos Estados Unidos, pelo visto John
Boehner prefere retirar-se discretamente da cadeira de Speaker, ao invés de concluir a sua longa militância na Câmara por ato
de coragem cívica e até pessoal. Havendo por muito se negado a submeter ao voto
do plenário a Reforma da Imigração,
apesar de endossada pelos dois partidos no Senado (o que constitui fato
raríssimo nos confrontativos dias atuais),
o Deputado John Boehner poderia sair da política com uma grande
contribuição ao Povo Americano, nele integrando massa de onze milhões de
pessoas, cujo potencial como cidadãos contribuintes ao Erário americano se acha
por ora barrado pelo medo e a falta de esperança. Por causa deste obstáculo, o
Presidente Obama teve, entrementes, de recorrer a controversa reforma realizada
através de decreto executivo, eis que, diante da falta de ação pelo Legislativo
(devida à dissonância na Casa de Representantes), inexistia outra opção. Como
se sabe o decreto presidencial está encalhado em tribunais de segunda
instância.
Segundo o New York Times, essa oportunidade ora
surge com a renúncia do Speaker John
Boehner. Seria, na essência, o famoso beau
geste que completaria longa carreira política atendendo, inclusive, a
vontade de muitos, e do próprio, que se despediria da Câmara com um gesto de
coragem política e de atendimento pessoal às suas próprias convicções.
Será acaso
esperar demasiado ?
( Fonte: editorial do New York Times )
[1] Prática inaugurada em 1812
pelo Governador Gerry, de Massachusetts, que consiste em favorecer um dos
partidos através do redesenho em seu proveito dos distritos eleitorais.
Nenhum comentário:
Postar um comentário