quinta-feira, 24 de setembro de 2015

Fico com o Sentir das Ruas

                                    

        Muitos esperaram com ansiedade a sentença do STF sobre o juízo de supostos pagamentos de propina pela Consist, de São Paulo, em inquérito que envolve a Senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR).

        Debalde o Ministério Público alertou para o perigo do enfraquecimento da Lava-Jato. A grande imprensa, sobretudo O Globo, sublinhou esse risco. Em vão.

        A questão se originara, como se sabe, de um imprevisto despacho do Ministro-relator da Lava-Jato, Teori Zavascki, que, no passado, por primeira vez no processo, concedera um habeas-corpus ao ex-diretor da Petrobrás, Renato Duque.  Posteriormente, o habeas-corpus seria derrogado.

        Como assinalei neste blog, o procurador do Ministério Público, Carlos Fernando dos Santos Lima, não deixou de enfaticamente alertar contra os riscos desse despacho de Zavascki, que quebrava a unidade de juízo da Lava-Jato. Acirrados, notadamente, pelas suspeitas de influência política, como sublinhadas pelo Ministério Público.

        Quando a questão foi a plenário, na prática já contava com três votos a favor: Teori Zavascki, que tomara a iniciativa de retirá-la da Lava-Jato; o Presidente Ricardo Lewandowski, que já despachara denegando que o caso permanecesse no âmbito da Lava-Jato; e Dias Toffoli, que invocou a tese do “encontro fortuito de provas” para decidir que as delações que levantaram suspeitas de pagamento de propina pela Consist nada têm a ver com a corrupção na Petrobrás.

       Também votaram a favor do fatiamento do inquérito e do esvaziamento do Juiz Sérgio Moro, os ministros Marco Aurélio Mello (‘a medida facilitará a vida de Sérgio Moro’), Carmen Lúcia (‘não há conexão entre supostas propinas da Consist e o esquema de corrupção da Petrobrás’), Rosa Weber (‘os contratos foram firmados em São Paulo e que a denúncia do Ministério Público Federal afirma que o crime ocorreu em São Paulo’), e o benjamin Edson Fachin (‘o fato de o indício ter surgido em delação premiada não significa que a apuração é a mesma. Por isso, o mais prudente é apartar as investigações da Lava-Jato).

        Por outro lado, o Ministro Luiz Fux não esteve presente ao juízo.

         É interessante assinalar a princípio que os advogados que atuam na Lava-Jato não deixaram de comemorar a respeito. Em tal sentido, o advogado Helton Pinto já se apressou em pedir ao juiz Moro para que decline da competência  (sobre o ex-presidente da Eletronuclear Othon Pinheiro) repassando-a para a Justiça Federal do Rio. No mesmo sentido, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro também vai pedir a redistribuição eletrônica de um dos inquéritos abertos no STF sobre o Senador Ciro Nogueira (PP-PI), com base na delação premiada do empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC.

        Dada a sua relevância, semelha oportuno ressaltar o parecer do Ministro Gilmar Mendes: de início, Sua Excelência alertou  para o risco de a decisão enfraquecer a Lava-Jato. 

      “ É uma questão de grande relevo. Do contrário, não estaria tendo essa disputa no próprio âmbito do Tribunal.  No fundo o que se espera é que o processo saia de Curitiba e não tenha a devida sequência em outros lugares. Vamos dizer em português bem claro.                    

        Para Gilmar, o esquema no Planejamento tem relação com o da Petrobrás. Concordou com o argumento de Janot (Chefe do Ministério Público Federal)) de que os operadores são os mesmos e também a forma de agir. E avisou, por conseguinte, que a investigação pode ser prejudicada, porque o novo juiz não conhece os casos em profundidade.

        E enfatizou o Ministro Gilmar Mendes: “Não se tem, na História deste país, nenhuma notícia de uma organização criminosa desse jaez, fato que nos envergonha por completo. Estamos falando de um dos maiores, se não o maior caso de corrupção no mundo.”

        O Ministro Gilmar Mendes frisou igualmente que os fatos atribuídos à Consist estão ligados com os da Petrobrás, e a pulverização do caso em vários processos enfraquece a investigação.

 

( Fonte:  O Globo )

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