Situação do Ministro Levy
O mais pungente
se a afigura Elio Gaspari que diz ‘Levy saíu do prazo de garantia’. Assim na cruel
definição: ‘não é mais o que seria, mas, na verdade, nunca chegou a sê-lo’.
Agora, sempre segundo o colunista falta saber quanto tempo lhe resta ‘para sair
do prazo de validade’.
Ainda consoante
Gaspari, ‘Levy já se deu conta de que meteu-se numa encrenca. Tendo perdido a
garantia, fica diante de uma característica dos ministros com validade vencida.
Quando ela caduca, a iniciativa de ir embora sai das suas mãos.’
Até dias
atrás, a insatisfação do Ministro Levy só poderia ser lida na observação de sua
fisionomia, em geral cerrada, em ocasiões públicas, ou na companhia do Ministro
Nelson Barbosa que de companheiro de equipe virou sua nêmesis.
Como vivemos
em época de raínha ameaçada, mas ainda com bastante poder, as suas
intervenções, que continuam a preferir o lado errado, têm de ser acompanhadas
na medida de o que possam realizar de mal ou de bem. Por isso, além da
expressão contraída e insatisfeita, o Ministro Levy voltou a mandar recados
sobre os riscos de piora na situação econômica.
Em audiência
na Câmara, o Ministro Levy disse haver um ‘desafio para todo o mundo’, citando
sociedade, governo e Congresso para ‘botar a casa em ordem’. Em seguida, frisou
que ‘evidentemente que ela não está em ordem’ e ‘a gente precisa crescer e ter
confiança para não ver o dólar disparar.’
Sentados em
montes de palha ressecada, já vendo nos quadros o dólar atingir paragens de há
muito não vistas, e com as campainhas tocando insistentes sobre a perda do grau
de investimento (a ser acionada pelas famosas agências de avaliação de risco),
não há de surpreender que tais ministeriais considerações tenham sido recebidas
com preocupação por operadores do mercado.
Como indica
o comentário da Folha, ‘a reação foi quase simultânea, levando mais pressão ao
mercado de câmbio’.
A fala do
Ministro agregou pressão em um governo com situação fiscal deteriorada, sem
mencionar as notícias ruins vindas da China.
Por isso,
as observações do Ministro Levy voltaram a alimentar rumores de que ele pode
deixar o Governo. A equipe dele, ritualmente nega, mas é forçoso reconhecer que
a linguagem palaciana (que pode incluir omissões e exclusões) parece bastante
enfática quanto ao seu desprestígio no círculo palaciano da Rainha ameaçada.
Quiçá o pior disso tudo não é a
alegria maldosa de quem se diverte com os tombos (presumidos ou não)
ministeriais. É o fato de um grande quadro da República permitir que se crie
situação em que um ministro não está sendo fritado, mas na verdade queimado a
ponto de ficar inútil para situações mais manejáveis, e sob lideranças que
melhor entendam a sua anterior grande possibilidade. Estamos numa Corte em que
a Rainha tem ameaçada (figurativamente, é bom que se entenda) a própria cabeça.
Se ela insiste em continuar atuando na sua forma costumeira, o problema deveria
ser dela. Eis que o Ministro não deve ser mais realista do que ... a Rainha. O
melhor seria pôr-se ao largo com dignidade. Para que não mais seja confundido com
os bobos da Corte.
Aliás da
seriedade da situação nacional, não há que duvidar. Se incertezas tivera, elas
caíram quando li – e também na Folha – passagem de artigo hodierno de Delfim
Netto guindada aos holofotes da primeira página: “O ajuste fiscal falhou porque
faltou reconhecimento imediato e explícito de Dilma que, subestimara,
sistematicamente, dificuldades causadas pelo voluntarismo de sua gestão. Quem
tinha de convencer a sociedade que mudou o entendimento sobre os problemas
econômicos não era o ministro da Fazenda ‘sombra’ mas ela mesmo.”
A
cacofonia desaparece ou pelo menos se atenua, se atentarmos para a coluna de
Miriam Leitão, que parece saída de outra realidade. Não há risinhos maldosos da
chamada Schadenfreude[1],
nem tentativas que afetam um certo détachement[2] de
uma realidade que é apresentada como adversa (embora se tenha a impressão de
que os seus efeitos negativos não concernem quem opina...)
É um prazer
ler Miriam Leitão, primo porque ela
sabe de o que está falando e secondo não teme em apontar os erros e em sugerir
saídas. Com o que escreve na sua coluna
hodierna, é difícil não concordar. Seria melhor que Levy continuasse, é a
solução do bom senso. Infelizmente, estamos onde estamos não por causa de bom
senso e bom governo. Não se pode presumir soluções corretas, de um governo
Dilma Rousseff. Quanto ao ponto (2), saltam aos céus os riscos ( e os custos)
da saída de Joaquim Levy. Miriam tem carradas de razão em dizer que ele pode
ser maior do que o Governo está
imaginando. Mas infelizmente caber perguntar: porque chegamos onde estamos? Por
um misto de ignorância militante e por total falta de prudência. Quanto ao
embate Levy x Barbosa a causadora nós sabemos quem é. Não foi por acaso que
tivemos o Dilma I. O Dilma II é apenas uma consequência. Por isso, não há mais
espaço para um diálogo racional se mantivermos tais premissas...
( Fontes: Folha de S. Paulo; O
Globo )
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