sexta-feira, 25 de setembro de 2015

Impeachment ou Desastre financeiro ?

                            

        Sob a premissa de que o Brasil enfrenta um desastre financeiro, análise de operador da Bloomberg nos relata o mal e maneiras de enfrentá-lo. Tentarei abaixo resumo desse artigo, em que encontrei argumentos e franqueza que não topara nos comentários especializados dos jornalões.

        A premissa: o Brasil atravessa desarticulação financeira de mercado emergente. Pensara-se que tal fenômeno houvesse sido deixado para trás na década de oitenta e começo dos anos 2000.

        Se não for reprimido por um ‘circuit breaker’ (mecanismo das bolsas que interrompe as operações em momentos de oscilações muito bruscas) esse ciclo autossustentável poderá ganhar força, com o efeito de expor o país a choques econômicos que afetarão, sobretudo os pobres, e contribuirão para a disfunção política.

       Na sua resposta à saída de recursos dos fundos de investimento e a aceleração da fuga de capitais, os três principais mercados financeiros do Brasil estão presos em processo de reforço mútuo de destruição de valor.

       Que resulta deste processo?  Temos combinação terrível  de grande desvalorização cambial e aumento de custos de empréstimos externos e dos juros domésticos.

       Tais tendências agravam a ameaça de dois ciclos viciosos adicionais. O primeiro liga o Governo ao setor corporativo. Quanto mais os bônus soberanos e a moeda são pressionados, maior a ameaça de contágio para o setor corporativo.

       Rebaixamento da nota de crédito do Brasil.  Essa rebaixa, efetuada pela Agência de Avaliação de Risco Standard & Poor’s, pondo o Brasil no grau especulativo, provocou também a redução das classificações de empresas do país, aumentando os custos dos empréstimos a refinanciamentos de forma generalizada.

       Por outro lado, o escândalo da Petrobrás, a maior empresa brasileira, induz temores de que o Estado poderá ver-se forçado  a intervir com socorro financeiro, o que agravará as preocupações do mercado com a situação financeira do país.

       O segundo ciclo liga o setor financeiro às perspectivas econômicas.  Quanto maior a perturbação nos mercados financeiros, maior o risco para a economia em geral. Tenha-se presente que já aqui se luta contra a recessão e a inflação elevada. As consequências desse ciclo podem ser: disparada dos custos de produção, queda da atividade, aumento do desemprego, queda dos salários reais, diminuição do consumo e aceleração da fuga de capital.

       Quando não se faz nada, tais tipos de ligações se auto-alimentam, expondo o país  ao que os economistas chamam de ‘equilíbrio múltiplo’, vale dizer, o risco de em vez de reverter para a média  (encontrar-se  o caminho de volta à estabilidade) a economia do Brasil se deteriorar ainda mais, aumentando o risco de deslize para a situação ainda mais grave.

       O Brasil precisa, portanto, de um ‘circuit breaker’ para eliminar a crescente ameaça de consequências negativas em cascata. A melhor maneira de conseguir isso seria através de uma série de decisões oficiais definidas pelo Governo e aprovadas pelo Congresso, que restabeleçam a dinâmica de crescimento, contenham a deterioração fiscal e revertam as crescentes pressões inflacionárias.

      Tentativa do Pacote Fiscal do Ministro Levy. Tais medidas levariam a uma nor malização bem rápida dos mercados financeiros, resultando em uma valorização cambial e redução notável dos custos dos empréstimos, doméstica e internacionalmente. Tendo tal em mente, o Governo Dilma II submeteu uma série de propostas fiscais ao Congresso Nacional. Infelizmente a disfunção política da Administração Dilma II, a falta de controle efetivo sobre maiorias existentes no papel, mas não na realidade do jogo político, tornaram as perspectivas da aprovação nada animadoras, como de fato ocorreu com o chamado Pacote Levy, com o malogre de seu Ajuste Fiscal.

      Aí, como mostra o articulista entram em ação outros fatores que tornam extremamente problemática a implementação do dito ‘circuit breaker’ doméstico. Lamentavelmente (digo eu) essa função em potencial é transferida – pelo menos parcialmente – para atores externos, incluindo organizações multilaterais lideradas pelo FMI. E a demagogia interna, combinada com a desestruturação do governo Dilma II, torna muito mais amargos e com cada vez menor anuência interna dos remédios exógenos.

      Em consequência, quanto mais demorar essa combinação de medidas externas e domésticas para aglutinar-se, mais duras tenderão a ser as reformas a serem aceitas pelos líderes políticos e a população do país  (o caso da Grécia é um bom exemplo).

     Dessarte, sem a rápida implementação de ‘circuit breakers’, uma estabilização das condições financeiras do Brasil dependerá  do reengajamento em grande escala do capital externo e do retorno do capital em fuga. Isto não deve acontecer enquanto os preços dos ativos brasileiros e o valor de sua moeda não despencarem  para níveis ainda mais baixos. Com a rebaixa generalizada, serão dadas as condições para que os investidores estrangeiros julguem vantajosos (ajustados aos riscos maiores enfrentados) e portanto interessantes para a sua aquisição. Assinale-se que esta foi a situação no quatro trimestre de 2002, quando o temor a cercar a eleição do esquerdizante Lula da Silva quase provocou um caro ‘default’ do Brasil.

           A conclusão do articulista mostra o quanto tem presente a fraqueza do governo. Com melhor governança, não seria preciso muita coisa para recuperar uma economia promissora.

           A ansiedade envolve a possibilidade de mais uma vez a classe política deixar de servir os cidadãos de maneira adequada, provocando sofrimento para os segmentos mais vulneráveis da economia.

            A minha conclusão quanto a essa apresentação sombria da economia brasileira é de que ela é substancialmente veraz.

            Para trazê-la um tantinho mais à realidade é que semelha deveras precário confiar em máquina que já deu sobejas indicações da respectiva disfuncionalidade. Como a base é ruim, toda emenda se ressentirá desse fator elementar.

             Há demasiadas indicações de que um conserto pela metade não contribuirá para resultado satisfatório.

            Por isso, as conclusões são óbvias. O impeachment seria o nosso circuit breaker. Com ele se implica o fim de um ciclo, com o afastamento de Dilma et caterva.

 

 

( Fonte:  Valor Econômico )

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