Sob a premissa de que o Brasil
enfrenta um desastre financeiro, análise de operador da Bloomberg nos relata o mal e maneiras de enfrentá-lo. Tentarei
abaixo resumo desse artigo, em que encontrei argumentos e franqueza que não
topara nos comentários especializados dos jornalões.
A premissa: o
Brasil atravessa desarticulação financeira de mercado emergente. Pensara-se que
tal fenômeno houvesse sido deixado para trás na década de oitenta e começo dos
anos 2000.
Se não for
reprimido por um ‘circuit breaker’ (mecanismo das bolsas que interrompe as
operações em momentos de oscilações muito bruscas) esse ciclo autossustentável
poderá ganhar força, com o efeito de expor o país a choques econômicos que
afetarão, sobretudo os pobres, e contribuirão para a disfunção política.
Na sua resposta
à saída de recursos dos fundos de investimento e a aceleração da fuga de
capitais, os três principais mercados financeiros do Brasil estão presos em
processo de reforço mútuo de destruição de valor.
Que resulta
deste processo? Temos combinação
terrível de grande desvalorização
cambial e aumento de custos de empréstimos externos e dos juros domésticos.
Tais tendências
agravam a ameaça de dois ciclos viciosos adicionais. O primeiro liga o Governo
ao setor corporativo. Quanto mais os bônus soberanos e a moeda são
pressionados, maior a ameaça de contágio para o setor corporativo.
Rebaixamento da
nota de crédito do Brasil. Essa rebaixa,
efetuada pela Agência de Avaliação de Risco Standard
& Poor’s, pondo o Brasil no grau especulativo, provocou também a
redução das classificações de empresas do país, aumentando os custos dos
empréstimos a refinanciamentos de forma generalizada.
Por outro lado,
o escândalo da Petrobrás, a maior empresa brasileira, induz temores de que o
Estado poderá ver-se forçado a intervir
com socorro financeiro, o que agravará as preocupações do mercado com a
situação financeira do país.
O segundo ciclo
liga o setor financeiro às perspectivas econômicas. Quanto maior a perturbação nos mercados
financeiros, maior o risco para a economia em geral. Tenha-se presente que já
aqui se luta contra a recessão e a inflação elevada. As consequências desse
ciclo podem ser: disparada dos custos de produção, queda da atividade, aumento
do desemprego, queda dos salários reais, diminuição do consumo e aceleração da
fuga de capital.
Quando não se
faz nada, tais tipos de ligações se auto-alimentam, expondo o país ao que os economistas chamam de ‘equilíbrio
múltiplo’, vale dizer, o risco de em vez de reverter para a média (encontrar-se
o caminho de volta à estabilidade) a economia do Brasil se deteriorar
ainda mais, aumentando o risco de deslize para a situação ainda mais grave.
O Brasil precisa, portanto, de um ‘circuit breaker’ para eliminar a crescente
ameaça de consequências negativas em cascata. A melhor maneira de conseguir
isso seria através de uma série de decisões oficiais definidas pelo Governo e
aprovadas pelo Congresso, que restabeleçam a dinâmica de crescimento, contenham
a deterioração fiscal e revertam as crescentes pressões inflacionárias.
Tentativa do Pacote Fiscal do Ministro
Levy. Tais medidas levariam a uma nor malização bem rápida dos mercados
financeiros, resultando em uma valorização cambial e redução notável dos custos
dos empréstimos, doméstica e internacionalmente. Tendo tal em mente, o Governo
Dilma II submeteu uma série de propostas fiscais ao Congresso Nacional.
Infelizmente a disfunção política da Administração Dilma II, a falta de
controle efetivo sobre maiorias existentes no papel, mas não na realidade do
jogo político, tornaram as perspectivas da aprovação nada animadoras, como de
fato ocorreu com o chamado Pacote Levy, com o malogre de seu Ajuste Fiscal.
Aí, como mostra
o articulista entram em ação outros fatores que tornam extremamente
problemática a implementação do dito ‘circuit breaker’ doméstico.
Lamentavelmente (digo eu) essa função em potencial é transferida – pelo menos
parcialmente – para atores externos, incluindo organizações multilaterais
lideradas pelo FMI. E a demagogia interna, combinada com a desestruturação do
governo Dilma II, torna muito mais amargos e com cada vez menor anuência
interna dos remédios exógenos.
Em consequência,
quanto mais demorar essa combinação de medidas externas e domésticas para
aglutinar-se, mais duras tenderão a ser as reformas a serem aceitas pelos
líderes políticos e a população do país
(o caso da Grécia é um bom exemplo).
Dessarte, sem a
rápida implementação de ‘circuit breakers’, uma estabilização das condições
financeiras do Brasil dependerá do
reengajamento em grande escala do capital externo e do retorno do capital em
fuga. Isto não deve acontecer enquanto os preços dos ativos brasileiros e o
valor de sua moeda não despencarem para
níveis ainda mais baixos. Com a rebaixa generalizada, serão dadas as condições
para que os investidores estrangeiros julguem vantajosos (ajustados aos riscos
maiores enfrentados) e portanto interessantes para a sua aquisição. Assinale-se
que esta foi a situação no quatro trimestre de 2002, quando o temor a cercar a
eleição do esquerdizante Lula da Silva quase provocou um caro ‘default’ do
Brasil.
A
conclusão do articulista mostra o quanto tem presente a fraqueza do governo.
Com melhor governança, não seria preciso muita coisa para recuperar uma
economia promissora.
A ansiedade envolve a possibilidade de
mais uma vez a classe política deixar de servir os cidadãos de maneira
adequada, provocando sofrimento para os segmentos mais vulneráveis da economia.
A minha conclusão quanto a essa apresentação sombria da economia brasileira é
de que ela é substancialmente veraz.
Para trazê-la um tantinho mais à realidade é que semelha deveras
precário confiar em máquina que já deu sobejas indicações da respectiva
disfuncionalidade. Como a base é ruim, toda emenda se ressentirá desse fator
elementar.
Há demasiadas indicações de que um conserto pela metade não contribuirá
para resultado satisfatório.
Por isso, as conclusões são óbvias. O impeachment seria o nosso circuit
breaker. Com ele se implica o fim de um ciclo, com o afastamento de Dilma et caterva.
( Fonte: Valor Econômico )
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