A impressão se reforça de que para
alguns não são só poucas decisões
importantes que reserva o futuro, mas que a mor parte de o que está por vir
será escrita em Curitiba.
O que está acontecendo em Brasília, com o
Palácio do Planalto não mais comandando as atenções, dá a crescente impressão
de que é levado por corrente sobre a qual parece não ter controle.
Há poucas
centenas de metros, o sítio do Congresso, com os dois simbólicos pratos,
confunde mais do que tranquiliza. A crise, hora de juízos conflitantes e
imprevisíveis, é a senhora do momento, e não há harúspice que se atreva a
ler-lhe as vísceras, embora, em patéticos esforços, um poder presidencial
ameaçado, como há de cuidar das contas do Estado, sob a perspectiva de gastos
desatinados que esse poder cambaleante e desmoralizado não dá a impressão de conseguir evitar.
Seja o
parâmetro de Toynbee[1] em
que a autoridade legal não mais conduz, e sim é conduzida pela corrente, e
assim todos os desatinos como as pautas-bomba, o aumento bilionário do
Judiciário, surgem pimpantes na ordem-do-dia, na hora em que a fraca raínha[2]
enfraquece não só a boa gente e suas instituições, mas também o bom-senso.
Será nesta hora
do desgoverno que aparecem as bestas-feras, como as pautas-bomba e o aumento do
Judiciário, uma assombração só crível em tais horas.
Por isso,
voltemos rápido a Curitiba, onde jovem juiz com letra firme escreve sentenças que
prenunciam, inda que com o inelutável vagar da Justiça, um tempo melhor para a
Pátria brasileira e sua gente.
Como hoje diz
cronista – com que nem sempre concordo – “se Lula desconfiava (...) de que o
objetivo final da Operação Lava-Jato é ele, ontem o ex-presidente deve ter tido
certeza disso. Nunca a Lava-Jato chegou tão perto dele, por enquanto apenas na
retórica de seus procuradores ou do próprio juiz Sérgio Moro, mas com ações que
se aproximam cada vez mais de denúncias que envolvem diretamente Lula no
esquema de desvio de dinheiro da
Petrobrás.”
Sugestivamente,
se dá início a mais uma fase da Lava-Jato – desta feita chamada de forma
sugestiva ‘Nessun dorma’ (que ninguém durma) – e, a propósito, o
Procurador-Regional da República, Carlos Fernando dos Santos Lima afirma em
entrevista coletiva que “não tem dúvida nenhuma” de que os escândalos de
corrupção na história recente do país – mensalão, petrolão e Eletronuclear –
tiveram origem na Casa Civil do governo Lula, cujo titular mais famoso, o
ex-Ministro José Dirceu baixou à prisão pela segunda vez.
Tem-se presente
que a ‘Nessun dorma’ apura a propina recebida na diretoria internacional da
Petrobrás de 2007 a 2013, ocupada por Nestor
Cerveró, que negocia uma delação premiada com o Ministério Público.
Assinale-se, a propósito, que a primeira negociação com Cerveró não foi aceita,
por imprecisões nas informações desse ex-diretor da Petrobrás. Nesse contexto,
a lente do Ministério Público percorre ações como as negociatas da Eletrobrás,
e também o superfaturamento do contrato da sonda Vitória 10.000. Esta última
irregularidade foi feita, segundo Cerveró, a mando do próprio Presidente da Petrobrás na época,
i.e., José Sérgio Gabrielli, para saldar dívidas de campanha de Lula com o grupo Schahin.
Na proposta
de Cerveró para a delação premiada – ainda não aceita – ele afirma que
Gabrielli lhe disse que a dita ordem veio ‘do
homem de lá de cima’ – numa clara referência ao então presidente Lula
da Silva.
Segundo
reporta ao final o colunista, este caso da construtora Schahin está ligado a um
outro, mais nebuloso, que se reporta ao assassínato do prefeito Celso
Daniel. O caso foi supostamente
revelado à época do Mensalão, em tentativa malsucedida do lobista Marco Valério de fazer
delação premiada para se livrar da pena de mais de quarenta anos, a que foi
condenado no contexto da Ação Penal 450.
( Fontes:
O Globo, Coluna de Merval
Pereira, A.J. Toynbee (A Study of History) )
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