terça-feira, 22 de setembro de 2015

Está Faltando Um

                                                

        A impressão se reforça de que para alguns  não são só poucas decisões importantes que reserva o futuro, mas que a mor parte de o que está por vir será escrita em Curitiba.

        O que está acontecendo em Brasília, com o Palácio do Planalto não mais comandando as atenções, dá a crescente impressão de que é levado por corrente sobre a qual  parece não ter controle.

        Há poucas centenas de metros, o sítio do Congresso, com os dois simbólicos pratos, confunde mais do que tranquiliza. A crise, hora de juízos conflitantes e imprevisíveis, é a senhora do momento, e não há harúspice que se atreva a ler-lhe as vísceras, embora, em patéticos esforços, um poder presidencial ameaçado, como há de cuidar das contas do Estado, sob a perspectiva de gastos desatinados que esse poder cambaleante e desmoralizado não dá  a impressão de conseguir evitar.

       Seja o parâmetro de Toynbee[1] em que a autoridade legal não mais conduz, e sim é conduzida pela corrente, e assim todos os desatinos como as pautas-bomba, o aumento bilionário do Judiciário, surgem pimpantes na ordem-do-dia, na hora em que a fraca raínha[2] enfraquece não só a boa gente e suas instituições, mas também o bom-senso.

       Será nesta hora do desgoverno que aparecem as bestas-feras, como as pautas-bomba e o aumento do Judiciário, uma assombração só crível em tais horas.

       Por isso, voltemos rápido a Curitiba, onde jovem juiz com letra firme escreve sentenças que prenunciam, inda que com o inelutável vagar da Justiça, um tempo melhor para a Pátria brasileira e sua gente.

       Como hoje diz cronista – com que nem sempre concordo – “se Lula desconfiava (...) de que o objetivo final da Operação Lava-Jato é ele, ontem o ex-presidente deve ter tido certeza disso. Nunca a Lava-Jato chegou tão perto dele, por enquanto apenas na retórica de seus procuradores ou do próprio juiz Sérgio Moro, mas com ações que se aproximam cada vez mais de denúncias que envolvem diretamente Lula no esquema de  desvio de dinheiro da Petrobrás.”

       Sugestivamente, se dá início a mais uma fase da Lava-Jato – desta feita chamada de forma sugestiva ‘Nessun dorma’ (que ninguém durma) – e, a propósito, o Procurador-Regional da República, Carlos Fernando dos Santos Lima afirma em entrevista coletiva que “não tem dúvida nenhuma” de que os escândalos de corrupção na história recente do país – mensalão, petrolão e Eletronuclear – tiveram origem na Casa Civil do governo Lula, cujo titular mais famoso, o ex-Ministro José Dirceu baixou à prisão pela segunda vez.

       Tem-se presente que a ‘Nessun dorma’ apura a propina recebida na diretoria internacional da Petrobrás de 2007 a 2013, ocupada por Nestor Cerveró, que negocia uma delação premiada com o Ministério Público. Assinale-se, a propósito, que a primeira negociação com Cerveró não foi aceita, por imprecisões nas informações desse ex-diretor da Petrobrás. Nesse contexto, a lente do Ministério Público percorre ações como as negociatas da Eletrobrás, e também o superfaturamento do contrato da sonda Vitória 10.000. Esta última irregularidade foi feita, segundo Cerveró, a mando  do próprio Presidente da Petrobrás na época, i.e., José Sérgio Gabrielli, para saldar dívidas de campanha de Lula com o grupo Schahin.

          Na proposta de Cerveró para a delação premiada – ainda não aceita – ele afirma que Gabrielli lhe disse que a dita ordem veio ‘do homem de lá de cima’ – numa clara referência ao então presidente Lula da Silva.

          Segundo reporta ao final o colunista, este caso da construtora Schahin está ligado a um outro, mais nebuloso, que se reporta ao assassínato do prefeito Celso Daniel.  O caso foi supostamente revelado à época do Mensalão, em tentativa malsucedida do lobista Marco Valério de fazer delação premiada para se livrar da pena de mais de quarenta anos, a que foi condenado no contexto da Ação Penal 450. 

 

 

 ( Fontes:  O  Globo, Coluna de Merval Pereira, A.J. Toynbee (A Study of History) )




[1] A.J. Toynbee, A Study of History.
[2] Camões, Os Lusíadas.

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