quinta-feira, 10 de setembro de 2015

Leviandade e Estupidez


                                   

         Sólida ignorância econômica conjugada com suma leviandade fiscal consegue levar à breca uma economia que ía bem obrigado, e o real que se distinguira por largo tempo como a divisa que mantivera a respectiva paridade junto ao dólar estadunidense.     

         Mais se aprofunde o exame dos graves erros cometidos por Dilma Rousseff no seu primeiro mandato, é difícil, árduo mesmo, reprimir a própria revolta diante de um comportamento tão rudimentar e mesmo estúpido adotado pela neófita política,  que, dada a condição de eleitorado nutrido pela Bolsa-Família  se sagrara vencedora graças à indicação interesseira do magno coronelão, Lula da Silva, que assim pensara realizar golpe de grande sagacidade política.

        Como a dita lulesca esperteza tinha os pés de barro de lamentável desconhecimento estratégico, conjugado com torpe egoismo, o resultado foi o que se nos deparou nos comícios do ano passado, com a reeleição da pupila.

       Além do gigantesco tapete, imprescindível para ocultar o descalabro e a roubalheira do Petrolão, houve mister igualmente de construir a plataforma da candidata na base das mentiras e do descarado cinismo. A receita de João Santana funcionou porque arrimada em instância da Justiça Eleitoral que denegou a Marina o direito de resposta às inverdades de um filmete sobre a autonomia do Banco Central, que na distorcida visão do mago tiraria a comida da mesa dos pobres. Enquanto isso, a petulante Presidenta, ao se saber com as costas quentes, dizia, com a desfaçatez que absorvera de seus mestres, que tudo ía muito bem no seu reino da fantasia.

      Agia com a desenvoltura de quem parece desconhecer as pernas curtas de dona Lorota, e o ‘triunfo’ no segundo turno logo se traduziria em rosário de desmentidos e escândalos. Nunca tão poucos enganaram tantos. Mas como o amanhã da falsidade é o travo acerbo da realidade, o pós-eleição seria longa jornada de grande desmascaramento, conjugado com a hora da verdade do regime caracterizado por insano empreguismo e tão extensa, quanto profunda corrupção.

       Por isso, mesmo não sendo católica, o segundo mandato para ela se transmutaria em vale de lágrimas, lágrimas essas causadas pelos passados erros e pela falsidade de sua plataforma eleitoral.

      Para geral espanto, sequer um orçamento equilibrado – como é praxe naqueles países que para a dílmica propaganda estariam em nível similar ao do Brasil. Não é só a desordem fiscal que permanece. Por ordens de soberana que ainda não semelha convencida de que a regra comezinha da contabilidade pública de que nesse documento crédito e débito são iguais acabou surgindo um mostrengo com cerca de trinta bilhões de déficit. Tal se deve à circunstância de o Ministro do Planejamento Nelson Barbosa, depois do puxão de orelha quanto ao salário mínimo, não mais ousou cortar despesas, mesmo que acima dos haveres.

       A cara fechada do Ministro da Fazenda se deve a esse monstro contábil que a teimosia de Dilma apresentou à Nação, eis que todos os programas de assistência aos mais desfavorecidos, fosse qual fosse o respectivo montante, deveriam ser preservados.

       Manda o bom senso que o ecônomo – aquele que cuida da economia respectiva – deve tratar de equilibrar o orçamento. Contudo,  no caso em tela, por determinação da Presidenta, todos os programas com as características acima, voltada para o estímulo das categorias menos favorecidas, precisam ser mantidos. Pouco importa que venha o déficit!

        Nesse caso não se trata de falta de flexibilidade.  É o bom senso – juntamente com a imemorial prática orçamentária – que dispõe sobre a necessidade de que batam as contas do Governo federal.

       Orçamento deficitário é  peça de um governo sem rumo, que não respeita a mais elementar e comezinha regra de contabilidade pública.

       Não sei como vai terminar essa estória. Impedido de cancelar programas de estímulo, o senhor Joaquim Levy agora tem  a idéia de aumentar os impostos pagos pelo funcionalismo. À desídia – ou incapacidade política – de resolver a questão orçamentária podando os programas de apoio a todos os menos favorecidos, que permanece apesar de tudo como a determinação da Soberana, o senhor Levy sugere elevar os impostos sobre a renda. Atendida a circunstância de que a fome do Leão não é módica – como parece pensar o Senhor Ministro da Fazenda -, o que se está pensando constitui verdadeiro arrocho tributário, para permitir que programas muitos dos quais demagógicos sejam mantidos, enquanto se depena o funcionalismo federal.

        Se pensarmos que toda essa desorganização fiscal surgiu das desonerações determinadas pelo capricho distributivo de uma aprendiz nas finanças públicas, a autoridade responsável deveria cortar na carne de seus programas demagógicos para que se restabeleça ordem fiscal digna desse nome.

         Metida em página interna da Folha, temos a extensão do prejuízo causado ao Erário público pela irresponsabilidade – decorrente de seu aventureirismo fiscal – da Presidenta gastadora: desde 2011 as desonerações (ou renúncias fiscais) somam até 2016 inclusive, R$ 392,9 bilhões. Se mantidas as de 2017 e 2018, ainda custariam à Nação R$ 64,9 bilhões.

          Não estranha, portanto, que movida por estultas presunções de ativação miraculosa da capacidade fiscal da Nação (capacidade essa que seria multiplicada pelas brutais desonerações fiscais, vale dizer, reduções fiscais !).

          Como todas essas dádivas fiscais só serviram para empobrecer a Nação, não surpreende a crise que ora atravessamos. O Brasil é realmente um grande país, a ponto de aguentar gestoras desse quilate!

          Outros teriam quebrado, com tanta roubalheira e tamanha desoneração fiscal! 

           E o remédio para a crise fiscal que ora se delineia diante dos grandes quadros da Nação, qual é ?    

           Mais impostos, ora pois, e sobre os funcionários públicos (cujos vencimentos, seja dito de paso, já são taxados pesadamente pela chamada Viúva...

       

( Fonte: Folha de S. Paulo )

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