Em
seus discursos nesta Assembléia Geral das Nações Unidas, tanto Barack Obama, quanto Vladimir Putin
responsabilizam o adversário como o principal responsável pela continuação
indefinida da guerra civil síria. Assistindo com atenção aos respectivos
cogentes argumentos dessas duas partes, seja da Superpotência, seja da
Federação Russa, se tem a tentação de concordar ... com ambos.
Com efeito,
Obama terá perdido uma boa oportunidade de reforçar a União de combatentes
contra o ditador sírio, ao negar apoio ao plano das principais autoridades
americanas de defesa para armar a resistência dessa Liga contra Bashar
al-Assad.
Por outro lado,
ao dar condições à permanência de Assad, para lograr novas bases militares na
Síria, Putin também trabalhou pela estagnação da guerra civil naquele país,
pela piora considerável de suas condições existenciais e por dar ensejo à
entrada no conflito do Exército Islâmico. A crise dos refugiados sírios, que
tantas vítimas indefesas tem feito, a par de constituir sério desafio às
condições de União Europeia de dar resposta coerente aos seus princípios no
acolhimento aos reféns humanos, constitui o outro lado dessa magna questão, de
que a força aumenta por ser a parte
inocente de um problema deixado por
guerra civil inacabada.
Pelo visto,
Vladimir Putin deseja ‘resolver’ tal questão com estratégia em que parece
desconhecer a história relativamente recente de conflagrações militares que se
pensara ‘solucionar’ com a chamada fuga
para a frente (‘fuite en avant’).
Para aumentar a sua base em Latakia – que Putin acredita estratégica no
esquema de retorno da Rússia à respectiva afirmação mundial – o presidente
russo, valendo-se do aliado e dependente Bashar, conta enviar tropas para, na
prática, limpar o terreno dos rebeldes opositores do ditador alauíta, ao mesmo
tempo, em que tenciona atacar o Exército Islâmico (E.I.)
Levantando
questões que mais caberiam serem computadas pelo responsável, gospodin Putin,
aumenta a Federação Russa de forma exponencial o seu comprometimento bélico,
com o envio de soldados para sustentar Assad, e combater os seus opositores.
Dessarte, além do dispêndio material envolvido, crescem as possibilidades, como
assinala Issa Goraieb, colunista do Estadão, de um tráfico inverso, sumamente
danoso à popularidade do grande chefe, qual seja um fluxo de body bags para a mãe pátria, com
previsíveis, mas desastrosos reflexos .
Note-se que a
despeito dos planos imperiais de Moscou, a URSS como que deixou de existir por
cometimento excessivo dos respectivos meios ao longo dos anos. Agora, a
Federação – que é um país grande, mas não tem nem de longe o equivalente da
estrutura da antiga superpotência - se
lança a aventura, enquanto as cotações de sua principal matéria de exportação
(o petróleo) padecem enorme baixa, e a própria situação economico-financeira
sofre, um pouco por causa das sanções pontuais (motivadas pela ilegal anexação
da Crimeia e a guerra contra a Ucrânia).
Aqui não se
trata, é claro, de ter presente a advertência de Garrincha (combinaram com os
russos?), mas a questão se cinge em simples cômputo aritmético, que
desaconselharia vivamente o Presidente Putin a enfrentar essa magna tarefa:
apoiar o fraco Assad para mantê-lo em Damasco (contra a opinião de Washington e
de outros mais), neutralizar a guerrilha contra a ditadura síria, participar da guerra contra o ISIS, que se
pretenderia erradicar. Além disso associar-se ao regime alauíta, Putin compra a
animosidade de grande parte da corrente sunita (que é majoritária no mundo
árabe).
Pelo
reforço da base nas águas quentes do Mediterrâneo oriental, o presidente russo
dispende demasiados recursos, além dos
efetivos humanos que já está despejando na velha terra da passagem.
Ao fazer
isso, contraria igualmente políticas e ambições de segmentos muçulmanos de que
a Rússia tem um verdadeiro cinturão no Cáucaso.
Toda essa gente vai assistir indiferente aos seus irmãos na fé serem trucidados?
( Fontes: Estado de S.
Paulo, Issa Goraieb ; The New York Times)
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