Ao contrário dos prognósticos da
imprensa, dois azarões sem vínculos com o Partido Republicano tem dominado as
atenções e - o que é pior para os políticos profissionais – e também a
preferência dos militantes e do público republicano.
Igualmente
desmentindo que o chamado fenômeno Donald Trump seria algo passageiro,
até o presente o milionário hoteleiro prevalece nas pesquisas, conquanto a sua
curva na preferência popular tenha sofrido um pouco, mas se mantém nos trinta
por cento. Para quem era descontado como típico fenômeno do verão, Trump
encontra um público que concorda com muitas de suas idéias, a começar pela do
muro que visaria a barrar a imigração mexicana.
Aliás,
escarmentada por muitos erros (como se a proposta do tal muro fosse coisa de
louco), a mídia passou a ser mais cautelosa no que tange às posições de Donald
Trump.
No pelotão dos
demais pretendentes à nomination
republicana, o segundo em importância é o médico Ben Carson. Ao contrário
do borbulhante Trump, a carta do afro-americano Carson é diferente. Depois de
bem-sucedida carreira médica – ele exerceu a residência médica nos anos setenta
no Hospital John Hopkins e se tornou, aos trinta e três anos o mais jovem chefe
de departamento pediátrico de neurocirurgia nos Estados Unidos. Outro galardão
profissional foi haver sido o primeiro a separar cirurgicamente duas gêmeas
siamesas.
Carson é um
tipo simpático, chegando a não se importar que no seu começo profissional os
pacientes o tinham como um enfermeiro, e não médico de alta especialização. Ele
achava este não-reconhecimento de sua posição como um erro natural – que outros homens negros a gente vê nos
hospitais?
Com toda a sua
equanimidade, o Dr. Carson tem opiniões bastante sombrias. Ele gosta de
descrever os Estados Unidos como Nação que se acha no pináculo, mas está
prestes a ser rebaixada pela decadência moral. Por trás do seu sorriso, tem
opiniões inquietantes. Para ele, a ‘correção
política’ é empregada para impedir que os conservadores possam invocar ou a
escravidão ou o nazismo, palavras que ele cita de forma abundante. Para Carson, ‘o Obamacare ( palavra pejorativa, utilizada pelos partidários do Tea Party e também do GOP, para referir-se à Lei da Reforma da
Assistência Sanitária, a maior realização da presidência Obama) é a pior coisa que poderia ter acontecido
nesta nação desde a escravidão (sic)’.
Por outro
lado, tampouco desperta espanto que o público ache natural que alguém com o
currículo acadêmico do Dr. Carson não acredite na teoria da evolução,
e que ache a mudança climática ‘um fenômeno irrelevante’.
Outro aspecto
interessante (talvez no sentido chinês) é que Trump, com 30% das preferências, e Carson,
com cerca de 18%, dominam o campo
republicano, apesar de não serem inscritos no partido, nem nunca terem tido
experiência político-partidária.
Assim,
aqueles antes considerados como favoritos, como Jeb Bush (filho e irmão de Presidente) até agora amargam na penumbra
das posições secundárias. Semelha até que na atualidade no GOP o relevante é não
ter militância partidária.
Defronte
dessa situação, o restante do pelotão (que inclui o Senador Ted Cruz, Scott
Walker, Marco Rubio, Carly Fiorina, Mike Huckabee, John Kasich, Rand Paul e Chris
Christie) parece estar revoltado, a ponto de partirem, como neste último
debate, a pesadas investidas contra o front-runner
Trump, apelando para o deboche e tentativas de ridicularização.
Não é por
acaso que grande número de eleitores se
tem identificado, seja com Trump, seja com Carson. Ambos são outsiders (pessoas no caso fora do seio
de Abraão), e por isso as opiniões de Trump e também as mais bem-comportadas
(no figurino do GOP) de Carson têm
calado fundo na mente do eleitor comum.
Para eles,
Jeb Bush, com toda a sua ostentação de genealogia e parentesco, é figura distante e pouco
motivante. Por isso, não lhes diz muita coisa no que concerne à experiência do
eleitor. Já as opiniões de Trump e Carson lhes parecem mais próximas,
e o que lhes é mais importante, eles
compartilham vivência e realidade
que fazem muito sentido para o povo americano...
( Fonte: Informando
sobre o Dr. Carson, artigo de Amy Davidson, para o New Yorker )
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