quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Panorama do GOP

                                     

        Ao contrário dos prognósticos da imprensa, dois azarões sem vínculos com o Partido Republicano tem dominado as atenções e - o que é pior para os políticos profissionais – e também a preferência dos militantes e do público republicano.

        Igualmente desmentindo que o chamado fenômeno Donald Trump seria algo passageiro, até o presente o milionário hoteleiro prevalece nas pesquisas, conquanto a sua curva na preferência popular tenha sofrido um pouco, mas se mantém nos trinta por cento. Para quem era descontado como típico fenômeno do verão, Trump encontra um público que concorda com muitas de suas idéias, a começar pela do muro que visaria a barrar a imigração mexicana.

        Aliás, escarmentada por muitos erros (como se a proposta do tal muro fosse coisa de louco), a mídia passou a ser mais cautelosa no que tange às posições de Donald Trump.

        No pelotão dos demais pretendentes à nomination republicana, o segundo em importância é o médico Ben Carson. Ao contrário do borbulhante Trump, a carta do afro-americano Carson é diferente. Depois de bem-sucedida carreira médica – ele exerceu a residência médica nos anos setenta no Hospital John Hopkins e se tornou, aos trinta e três anos o mais jovem chefe de departamento pediátrico de neurocirurgia nos Estados Unidos. Outro galardão profissional foi haver sido o primeiro a separar cirurgicamente duas gêmeas siamesas.

       Carson é um tipo simpático, chegando a não se importar que no seu começo profissional os pacientes o tinham como um enfermeiro, e não médico de alta especialização. Ele achava este não-reconhecimento de sua posição como um erro natural – que outros homens negros a gente vê nos hospitais?

       Com toda a sua equanimidade, o Dr. Carson tem opiniões bastante sombrias. Ele gosta de descrever os Estados Unidos como Nação que se acha no pináculo, mas está prestes a ser rebaixada pela decadência moral. Por trás do seu sorriso, tem opiniões inquietantes. Para ele, a ‘correção política’ é empregada para impedir que os conservadores possam invocar ou a escravidão ou o nazismo, palavras que ele cita de forma abundante.  Para Carson, ‘o Obamacare ( palavra pejorativa, utilizada pelos partidários do Tea Party e também do GOP, para referir-se à Lei da Reforma da Assistência Sanitária, a maior realização da presidência Obama) é a pior coisa que poderia ter acontecido nesta nação desde a escravidão (sic)’.

        Por outro lado, tampouco desperta espanto que o público ache natural que alguém com o currículo acadêmico do Dr. Carson não acredite na teoria da evolução, e que ache a mudança climática ‘um fenômeno irrelevante’.

        Outro aspecto interessante (talvez no sentido chinês) é que Trump, com 30% das preferências, e Carson, com cerca de 18%, dominam o campo republicano, apesar de não serem inscritos no partido, nem nunca terem tido experiência político-partidária.

         Assim, aqueles antes considerados como favoritos, como Jeb Bush (filho e irmão de Presidente) até agora amargam na penumbra das posições secundárias. Semelha até que na atualidade no GOP o relevante é não ter militância partidária.

           Defronte dessa situação, o restante do pelotão (que inclui o Senador Ted Cruz, Scott Walker, Marco Rubio, Carly Fiorina, Mike Huckabee, John Kasich, Rand Paul e Chris Christie) parece estar revoltado, a ponto de partirem, como neste último debate, a pesadas investidas contra o front-runner Trump, apelando para o deboche e tentativas de ridicularização.

          Não é por acaso que  grande número de eleitores se tem identificado, seja com Trump, seja com Carson. Ambos são outsiders (pessoas no caso fora do seio de Abraão), e por isso as opiniões de Trump e também as mais bem-comportadas (no figurino do GOP) de Carson têm calado fundo na mente do eleitor comum.

          Para eles, Jeb Bush, com toda a sua ostentação de genealogia e parentesco, é figura distante e pouco motivante. Por isso, não lhes diz muita coisa no que concerne à experiência do eleitor.  Já as opiniões  de Trump e Carson lhes parecem mais próximas, e o que lhes é mais importante,  eles compartilham vivência e  realidade que fazem muito sentido para o povo americano...

 

( Fonte: Informando sobre o Dr. Carson, artigo de Amy Davidson, para o New Yorker )

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