Campanha eleitoral
No campo
democrata, Hillary Clinton viu cair
a sua antes folgada liderança nas pesquisas de 66% para 42%. Além de outros
pré-candidatos, tanto novos quanto velhos, Hillary terá de atribuir à sua
própria inabilidade a circunstância de que o seu tratamento do famoso servidor
privado de e-mail, utilizado quando foi Secretaria de Estado a perseguiu por
meses a fio, sem que lhe dispensasse a atenção que gritava aos céus o tópico –
na sua aparente insignificância para a pré-candidata – fazia por merecer e de
forma urgente junto a seu eleitorado.
De início, Hillary pensou resolvê-lo pelo desprezo,
como se fora coisa de somenos que não merecia a sua atenção. Mas os seus adversários não desperdiçaram a
oportunidade criada pela imprevista inépcia política da tarimbada Hillary
Clinton.
Ignorando o
tópico, ou dele pensando desfazer-se através de ironia, a pré-candidata parecia
não estar consciente das características do povo americano, em que a verdade e
o relato escrupuloso dos respectivos procederes não deve ser tratado como se
fossem questões de lana caprina.
Esqueceu-se a
sua segura e bem-sucedida gestão porque o público americano começou a
desconfiar do porquê ela não confrontava a tal questão do servidor privado de e-mails. Por tratar o assunto de forma
superficial, ela ignorou a máxima da pequena política: não se deve deixar ao
relento uma questão que possa ser suscetível de aproveitamento pelo adversário,
que a apresentará com versões pejorativas, apontando-a como falsa ou mentirosa.
Estranha que
política tarimbada como Hillary Clinton tenha deixado fermentar por tanto tempo
sem resposta adequada a famigerada
questão do servidor privado de e-mail. Se ela tivesse dada a atenção que a questão
merecia, menos pela sua importância intrínseca (que é pequena), mas por causa
da respectiva distorção e hipertrofia que foi dada pelos rivais, Hillary teria
sepultado de vez a tal falsa questão, que ora ainda sobrevive por causa de sua
estranha negligência. Com a sua lassitude, ela deixou entrar na sala de espera
dos seus possíveis eleitores, os velhos clichês da Hillary mentirosa.
O futuro
dirá se o Povo americano se reconciliará com o fato de que ela é a melhor candidata.
Têm crescido as preferências pelo Senador Bernie Sanders, que é ótimo orador,
mas não me parece um bom candidato se os democratas desejam escolher um
vencedor. Os seus comícios tem sido sucesso de público, pela sua qualidade
oratória e pelas respectivas idéias populistas. Mas os seus pendores
socialistas, ainda que matizados (socialista democrata), revelam em uma
sociedade conservadora como a americana uma grande e potencial
vulnerabilidade. Ele poderá vencer as
primárias de Iowa e de New Hampshire, cuja importância está menos no número de
delegados (esses estados são pequenos) do que na circunstância de indicarem uma
tendência já no começo da campanha. Mas dificilmente a Convenção democrata o
escolheria como candidato, pois ao partido interessa escolher um vencedor
nacional.
No
entanto, a súbita fraqueza de Hillary (que só não é inesperada por sua obstinada
e errônea decisão de menosprezar a questão do servidor privado de e-mail, o que representou um crasso erro
político) tem atraído outros mouros às costas democratas. O vice Joe Biden,
depois de retirar-se da campanha, ao julgar Hillary imbatível, mudou de idéia
ao ver a campanha dela em crise, e fez circular a notícia de que está ‘reconsiderando’.
O Secretário de Estado John Kerry é outro has
been, com que os americanos qualificam antigos candidatos (ele foi derrotado
por George W. Bush).
Hillary – que é uma grande lutadora – tem,
portanto, pela frente adversários temíveis e até populares, como Bernie Sanders, mas eles tampouco devem
esquecer que Hillary Clinton é política experiente e tenaz (como demonstrou
quando enfrentou a força da natureza que é Barack Obama). Como não se vê no
cenário de Tio Sam nenhum contendor que se compare ao atual Presidente
estadunidense, no meu entender Hillary
continua a ter boa chance de tornar-se a
primeira mulher presidente dos Estados Unidos. Mas a sua nomination vai implicar em luta acirrada.
Diálogo Russo-americano sobre a Síria
A dezoito do corrente se
iniciou o chamado diálogo russo-americano sobre questões militares no conflito
sírio.
Se Putin
não logrou desta feita elevar as conversações a nível presidencial, do
exercício à distância participam o Secretário da Defesa, Ashton Carter, e pela
Federação Russa, o seu homólogo, gospodin
Sergei Shoigu.
Foi
definida como ‘construtiva’ a conferência telefônica, em que se discorreu sobre áreas onde as perspectivas dos Estados
Unidos e da Federação Russa coincidem, e acerca de áreas onde há divergências.
Foram
discutidos meios e modos para evitar problemas na coordenação das ações das
duas partes na Síria. Foi igualmente
tratada a campanha aérea contra o Estado Islâmico.
Dada a
liderança americana – partindo agora de bases na Turquia, bastante mais
próximas do que as do Golfo Pérsico – nos ataques aéreos contra o EI, há
suspeitas de que as forças russas pretendam atuar com suas aeronaves militares
contra o ISIS, no intento de ajudar o
cambaleante regime de Bashar al-Assad.
Nesse
sentido, consta que a Rússia já tenha deslocado para a base de Latakia quatro
caças.
( Fonte: Folha de S.
Paulo )
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