segunda-feira, 21 de setembro de 2015

Notícias de Tio Sam (VII)

                                    

Campanha eleitoral

 

         No campo democrata, Hillary Clinton viu cair a sua antes folgada liderança nas pesquisas de 66% para 42%. Além de outros pré-candidatos, tanto novos quanto velhos, Hillary terá de atribuir à sua própria inabilidade a circunstância de que o seu tratamento do famoso servidor privado de e-mail, utilizado quando foi Secretaria de Estado a perseguiu por meses a fio, sem que lhe dispensasse a atenção que gritava aos céus o tópico – na sua aparente insignificância para a pré-candidata – fazia por merecer e de forma urgente junto a seu eleitorado.

         De início, Hillary pensou resolvê-lo pelo desprezo, como se fora coisa de somenos que não merecia a sua atenção.  Mas os seus adversários não desperdiçaram a oportunidade criada pela imprevista inépcia política da tarimbada Hillary Clinton.

         Ignorando o tópico, ou dele pensando desfazer-se através de ironia, a pré-candidata parecia não estar consciente das características do povo americano, em que a verdade e o relato escrupuloso dos respectivos procederes não deve ser tratado como se fossem questões de  lana caprina.

         Esqueceu-se a sua segura e bem-sucedida gestão porque o público americano começou a desconfiar do porquê ela não confrontava a tal questão do servidor privado de e-mails. Por tratar o assunto de forma superficial, ela ignorou a máxima da pequena política: não se deve deixar ao relento uma questão que possa ser suscetível de aproveitamento pelo adversário, que a apresentará com versões pejorativas, apontando-a  como falsa ou mentirosa.

          Estranha que política tarimbada como Hillary Clinton tenha deixado fermentar por tanto tempo sem  resposta adequada a famigerada questão do servidor privado de e-mail.  Se ela tivesse dada a atenção que a questão merecia, menos pela sua importância intrínseca (que é pequena), mas por causa da respectiva distorção e hipertrofia que foi dada pelos rivais, Hillary teria sepultado de vez a tal falsa questão, que ora ainda sobrevive por causa de sua estranha negligência. Com a sua lassitude, ela deixou entrar na sala de espera dos seus possíveis eleitores, os velhos clichês da Hillary mentirosa.

           O futuro dirá se o Povo americano se reconciliará com o fato de que ela é a melhor candidata. Têm crescido as preferências pelo Senador Bernie Sanders, que é ótimo orador, mas não me parece um bom candidato se os democratas desejam escolher um vencedor. Os seus comícios tem sido sucesso de público, pela sua qualidade oratória e pelas respectivas idéias populistas. Mas os seus pendores socialistas, ainda que matizados (socialista democrata), revelam em uma sociedade conservadora como a americana uma grande e potencial vulnerabilidade.  Ele poderá vencer as primárias de Iowa e de New Hampshire, cuja importância está menos no número de delegados (esses estados são pequenos) do que na circunstância de indicarem uma tendência já no começo da campanha. Mas dificilmente a Convenção democrata o escolheria como candidato, pois ao partido interessa escolher um vencedor nacional.

                 No entanto, a súbita fraqueza de Hillary (que só não é inesperada por sua obstinada e errônea decisão de menosprezar a questão do servidor privado de e-mail, o que representou um crasso erro político) tem atraído outros mouros às costas democratas. O vice Joe Biden, depois de retirar-se da campanha, ao julgar Hillary imbatível, mudou de idéia ao ver a campanha dela em crise, e fez circular a notícia de que está ‘reconsiderando’. O Secretário de Estado John Kerry é outro has been, com que os americanos qualificam antigos candidatos (ele foi derrotado por George W. Bush).

                 Hillary – que é uma grande lutadora – tem, portanto, pela frente adversários temíveis e até populares, como Bernie Sanders, mas eles tampouco devem esquecer que Hillary Clinton é política experiente e tenaz (como demonstrou quando enfrentou a força da natureza que é Barack Obama). Como não se vê no cenário de Tio Sam nenhum contendor que se compare ao atual Presidente estadunidense,  no meu entender Hillary continua a ter  boa chance de tornar-se a primeira mulher presidente dos Estados Unidos. Mas a sua nomination vai implicar em luta acirrada.

 

Diálogo Russo-americano sobre a Síria

                  

              A dezoito do corrente se iniciou o chamado diálogo russo-americano sobre questões militares no conflito sírio.

              Se Putin não logrou desta feita elevar as conversações a nível presidencial, do exercício à distância participam o Secretário da Defesa, Ashton Carter, e pela Federação Russa, o seu homólogo, gospodin Sergei Shoigu.

              Foi definida como ‘construtiva’ a conferência telefônica, em que se discorreu  sobre áreas onde as perspectivas dos Estados Unidos e da Federação Russa coincidem, e acerca de áreas onde há divergências.

               Foram discutidos meios e modos para evitar problemas na coordenação das ações das duas partes na Síria.  Foi igualmente tratada a campanha aérea contra o Estado Islâmico.

               Dada a liderança americana – partindo agora de bases na Turquia, bastante mais próximas do que as do Golfo Pérsico – nos ataques aéreos contra o EI, há suspeitas de que as forças russas pretendam atuar com suas aeronaves militares contra o  ISIS, no intento de ajudar o cambaleante regime de Bashar al-Assad.

                Nesse sentido, consta que a Rússia já tenha deslocado para a base de Latakia quatro caças.           

 

( Fonte: Folha de S. Paulo )         

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