Ainda que fora do comum, acaso surpreende a inusitada
investida do Primeiro Ministro David Cameron contra o novo líder do Partido
Trabalhista, Jeremy Corbyn? Em época de mediocridades na política britânica – o
que refletirá talvez a atual posição do Reino Unido – a gratuita acusação do
líder conservador contra o novo chefe de outro tradicional partido de Sua
Majestade, marca, além da extrema falta de cortesia devida aos recém-chegados,
uma hipérbole que até ao velho leão semelharia despropositada e fora de
contexto.
Partindo
para investida cujo radicalismo, mais espanta do que assusta, não sei a que se
propõe o fraco Cameron. Dentre da tradição de primeiros ministros ingleses, a
posição do atual chefe do gabinete de Sua Majestade será a de um peso muito
leve.
A sua
vitória nos últimos comícios surpreendeu a muitos. O fator escocês terá
contribuído, mas também os erros de seus adversários liberal e trabalhista.
Outra característica
de Cameron é a de encalacrar-se desnecessariamente. Não aquilatando a
relevância que possui até a União Européia para o bem-estar e prosperidade do
povo inglês, prometeu literalmente de graça realizar referendo sobre a presença
ou não do Reino Unido em Bruxelas. Nada o levava a comprometer-se com tanta
antecipação a um resultado que será extremamente aleatório. Não obstante,
assinou essa promissória que lhe será cobrada mais adiante... Que lucro
político teve com isso? Foi tendente a zero. Mas alimentou um inimigo certo,
que pode fazer grande mal à sua Majestade (Heath e outros, o que diriam desse
inútil risco antecipado?).
Em mensagem
pelo Twitter Cameron escreveu: ‘o
partido trabalhista é agora uma ameaça à segurança nacional, à nossa segurança
econômica e à segurança de suas famílias’.
Definido como
perigoso radical, em linguagem que parece inapropriada para os tempos
correntes, em que as ameaças são mais sociais do que de Estados, terá campanha
difícil pela frente para quem tem sólido apoio dentro de seu partido (maioria
de 59,9% dos militantes), com programa contra a guerra e a austeridade.
Temeroso da mensagem de Jeremy Corbyn, o deputado ‘tory’ Andrew Mitchell convocou os correligionários a ‘ocupar o centro
político’ e defender as virtudes do ‘capitalismo de consumo’.
Por sua vez,
seguindo a tradição parlamentar inglesa, Corbyn cuida de formar o seu shadow cabinet (gabinete sombra). Assim,
como ‘Secretário dos negócios estrangeiros’ Hilary Benn, e Andy Burnham (seu
principal rival na eleição para chefe partidário) como Secretário do Interior.
Além disso,
contrastando com o pessimismo do Primeiro Ministro, o líder do Labour pretende promover a unidade no
Partido, além de ampla participação feminina.
( Fonte : O Estado de S. Paulo )
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