terça-feira, 15 de setembro de 2015

David Cameron ataca

                                  

 
          Ainda que fora do comum, acaso surpreende a inusitada investida do Primeiro Ministro David Cameron contra o novo líder do Partido Trabalhista, Jeremy Corbyn? Em época de mediocridades na política britânica – o que refletirá talvez a atual posição do Reino Unido – a gratuita acusação do líder conservador contra o novo chefe de outro tradicional partido de Sua Majestade, marca, além da extrema falta de cortesia devida aos recém-chegados, uma hipérbole que até ao velho leão semelharia despropositada e fora de contexto.

           Partindo para investida cujo radicalismo, mais espanta do que assusta, não sei a que se propõe o fraco Cameron. Dentre da tradição de primeiros ministros ingleses, a posição do atual chefe do gabinete de Sua Majestade será a de um peso muito leve.

           A sua vitória nos últimos comícios surpreendeu a muitos. O fator escocês terá contribuído, mas também os erros de seus adversários liberal e trabalhista.

           Outra característica de Cameron é a de encalacrar-se desnecessariamente. Não aquilatando a relevância que possui até a União Européia para o bem-estar e prosperidade do povo inglês, prometeu literalmente de graça realizar referendo sobre a presença ou não do Reino Unido em Bruxelas. Nada o levava a comprometer-se com tanta antecipação a um resultado que será extremamente aleatório. Não obstante, assinou essa promissória que lhe será cobrada mais adiante... Que lucro político teve com isso? Foi tendente a zero. Mas alimentou um inimigo certo, que pode fazer grande mal à sua Majestade (Heath e outros, o que diriam desse inútil risco antecipado?).

          Em mensagem pelo Twitter Cameron escreveu: ‘o partido trabalhista é agora uma ameaça à segurança nacional, à nossa segurança econômica e à segurança de suas famílias’.

         Definido como perigoso radical, em linguagem que parece inapropriada para os tempos correntes, em que as ameaças são mais sociais do que de Estados, terá campanha difícil pela frente para quem tem sólido apoio dentro de seu partido (maioria de 59,9% dos militantes), com programa contra a guerra e a austeridade. Temeroso da mensagem de Jeremy Corbyn, o deputado ‘tory’ Andrew Mitchell convocou os correligionários a ‘ocupar o centro político’ e defender as virtudes do ‘capitalismo de consumo’.

          Por sua vez, seguindo a tradição parlamentar inglesa, Corbyn cuida de formar o seu shadow cabinet (gabinete sombra). Assim, como ‘Secretário dos negócios estrangeiros’ Hilary Benn, e Andy Burnham (seu principal rival na eleição para chefe partidário) como Secretário do Interior.

          Além disso, contrastando com o pessimismo do Primeiro Ministro, o líder do Labour pretende promover a unidade no Partido, além de ampla participação feminina.

 

( Fonte :  O Estado de S. Paulo )

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