Intitulado ‘Última Chance’ e
publicado em primeira página, com grande destaque, e ocupando praticamente um
terço da folha de rostro, o editorial da Folha
de S. Paulo não mede palavras tanto em assumir a gravidade da situação
nacional, quanto a responsabilidade do Governo de Dilma Rousseff.
Sob o título ‘Última
Chance’ é o que concede à Presidente. “A presidente abusou do direito
de errar. Em menos de dez meses de segundo mandato, perdeu a credibilidade e
esgotou as reservas de paciência que a sociedade lhe tinha a conferir.”
No
entendimento desse prestigioso diário de São Paulo ela “precisa agora
demonstrar que ainda tem capacidade política de apresentar rumos para o país no
tempo que lhe resta de governo.”
Não é somente em Dilma Rousseff que recai
essa magna responsabilidade: “Medidas extremas precisam ser tomadas. Impõe-se
que a presidente as leve quanto antes ao Congresso – e a este, que abandone a
provocação e a chantagem em prol da estabilidade econômica e social.”
Se não deixa
dúvidas sobre as graves falhas da Presidente, tampouco deixa de assinalar a
responsabilidade do Congresso: “ Também dos parlamentares depende o fim desta
aflição; deputados e senadores não podem se eximir de suas responsabilidades,
muito menos imaginar que serão preservados caso o país sucumba.”
E no mesmo tom,
sem poupar golpes, a Folha assevera: “É
imprescindível conter o aumento da dívida pública e a degradação
econômica. Cortes nos gastos terão de
ser feitos com radicalidade sem precedentes, sob pena de que se tornem realidade pesadelos ainda
piores, como o fantasma da inflação descontrolada.”
Na cacofonia
presente, em que de um lado a Administração Dilma Rousseff enterra a cabeça na
areia, como se a crise não houvera, e o Congresso, de outro, como se a
capacidade do Tesouro Nacional fosse inexaurível, na sua concessão de
benefícios, o editorial da Folha não recua diante da desastrosa realidade: “ A contenção das despesas deve se concentrar
em benefícios perdulários da Previdência, cujas regras estão em descompasso não
só com a conjuntura mas também com a evolução demográfica nacional. Deve mirar
ainda subsídios a setores específicos da economia e desembolsos para parte dos
programas sociais.”
Sem temor nem
exceções, a Folha investe igualmente contra as vacas sagradas: “As
circunstâncias dramáticas também demandam uma desobrigação parcial e temporária
de gastos compulsórios com saúde e educação, que se acompanharia de criteriosa
revisão desses dispêndios no futuro.”
Recomenda em
seguida medidas de “fácil legibilidade, como a simbólica redução de ministérios e dos
cargos comissionados, devem-se providenciar mecanismos legais que resultem em
efetivo controle das despesas – incluindo salários para o funcionalismo –
condicionando sua expansão ao crescimento do PIB.”
Ao cabo,
declara que não há “como fugir de aumento de impostos, recorrendo-se a novas
alíquotas sobre a renda dos mais privilegiados e à ampliação emergencial de taxas
sobre combustíveis”, se verifica, com pesar, que as exigências – na hora da
onça beber água – se tornam mais cuidadosas. Nada se fala sobre a evasão legal
de impostos, como aquela nas sociedades anônimas, em que os diretores não pagam
tributos, porque os dividendos estão isentos de taxação. Não será com esse tipo
de mágica interesseira que se levará a questão. E tampouco se lê uma referência
sequer, tíbia que seja, ao escandaloso aumento geral da magistratura, que a sociedade
civil acaba de presenciar.
Presumir
que a Presidenta esteja à altura
desse receituário, ela que “abusou do direito de errar” semelha exigência mais
retórica do que realista. Ao falar das ‘resistências da sociedade’ a tais
iniciativas, o Editorial – e isto vá a seu crédito – assinala: “A Presidente
Dilma Rousseff tampouco (tem escolha): não lhe restará, caso se dobre sob o
peso da crise, senão abandonar suas responsabilidades presidenciais e,
eventualmente, o cargo que ocupa.”
( Fonte - Folha de
S. Paulo )
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