terça-feira, 22 de setembro de 2015

Más Notícias para a Lava Jato?

                    
 
       Em blog de segunda-feira, 14 de setembro corrente, sob o título de ‘Más Notícias?’, me ocupei notadamente da decisão do Ministro Teori Zavascki, e das preocupações que forçosamente provocou.

       Integrante da força-tarefa da Lava Jato, o Procurador da República Carlos Fernando dos Santos Lima manifestou preocupação de que a decisão do Supremo Tribunal Federal de dividir parte da investigação ameace o futuro  da operação. Nesse sentido, enfatizou o Procurador Lima à Folha de S. Paulo: “Pode significar o fim da Lava Jato tal qual a conhecemos”.

       O responsável pelos inquéritos do caso no Supremo, entendeu o Ministro Teori Zavascki que suspeitas contra a senadora Gleisi Hoffmann (PT-PR) por desvios  no Ministério do Planejamento não tem conexão com o restante da Lava Jato, que trata de corrupção na Petrobrás. Por isso, ele decidiu que o caso da ex-Chefe da Casa Civil de Dilma Rousseff no primeiro mandato desta pode ser julgado por outro ministro, e o processo foi redistribuído para Dias Toffoli.

       Qual é o temor do Procurador Santos Lima? A sua lógica é simples e irrefutável:  a partir (dessa decisão monocrática) a investigação sobre essa etapa (e inclusive várias outras, que não tratem da Petrobrás) seja remetida para outra vara federal, até mesmo fora do Paraná, e deixe de ser conduzida pela força-tarefa da operação.

       O que queremos mostrar é que não estamos investigando a Petrobrás. Estamos desvelando a compra de apoio político-partidário pelo governo federal, por meio de propina institucionalizada nos órgãos públicos”, declarou o Procurador da República Santos Lima.

         Em sua entrevista à imprensa, o Procurador Santos Lima afirmou, outrossim, ainda acreditar que o esquema investigado pela Lava Jato foi gestado dentro da Casa Civil do governo Lula (2003-2010), comandada à época pelo ex-ministro José Dirceu, também preso na operação.

         O seguinte comentário do Procurador Carlos Fernando dos Santos Lima tem um tom necessariamente didático e não o é por acaso : “Mensalão, petrolão, [desvios na] Eletronuclear são todos eles conexos, porque dentro deles está a mesma organização criminosa. No ápice dessa organização, estão pessoas ligadas a partidos e, não tenho dúvida, à Casa Civil do governo Lula”.

         Não é decerto por acaso que o Procurador Lima faz referência expressa ao governo do Presidente Lula. A implícita gravidade da decisão do Ministro Teori Zavascki induz a tal sinalização. Como refere, a propósito, a notícia da Folha: “Nos bastidores, investigadores temem que a decisão do STF tenha tido influência política, com o objetivo de refrear a operação." 

          Foi  tendo presente a seriedade desse trâmite processual, que a Procuradoria Geral da República recorreu da decisão do Ministro-relator Teori Zavascki, mas até agora não conseguiu revertê-la. Assim, o Presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, denegou um primeiro recurso, na semana passada. A intenção da Procuradoria persiste, no entanto, em que o caso da senadora Gleisi Hoffmann permaneça como parte integrante da Lava Jato.

               Nesta segunda-feira, dia 21 de setembro,  foi deflagrada mais uma fase da Lava Jato, voltada para apurar suspeitas de desvios em contratos da estatal Eletronuclear. Foram presas duas pessoas: o sócio da Engevix, José Antunes Sobrinho, e João Augusto Rezende Henriques, apontado como operador ligado ao PMDB.

              É de notar-se que Sobrinho já é réu em outro processo por suspeitas de participação no esquema de corrupção  da estatal. A reação de seu advogado, feita em nota, afirma que a prisão desta segunda-feira causa ‘perplexidade’ e que seu cliente, José Antunes Sobrinho não procurou qualquer testemunha para “produzir, ocultar ou alterar prova”. A Eletronuclear já tinha sido alvo de fase anterior da Lava Jato, no fim de julho.

              Por fim, a nota explicativa da Folha se refere à 19ª Fase da Lava Jato, a chamada “Nessun Dorma” (que ninguém durma), que é o título de ária da ópera Turandot, do italiano Giacomo Puccini.   

              É de esperar-se, por conseguinte, que as ponderações da Procuradoria-Geral da República sejam atendidas. Não é firula processual. Dentro da Lava Jato, os procuradores e os delegados da P.F. elevam bem alto a tocha da  Justiça.

            É compreensível que as resistências cresçam, com o escopo de refrear essa grande Operação, à medida que a Lava Jato adentre os mais altos gabinetes da República.  É o que também hoje refere o principal colunista político de O Globo, como oportunamente assinalado no blog 'Está Faltando Um'.

            A quem serve a fragmentação da Lava-Jato? Dada a obviedade de que não é para atender ao interesse da Justiça, se insinua a dúvida de que haja influência política, em desesperada tentativa de refrear uma operação que é seguida não só com grande interesse mas com o forte apoio da Opinião Pública Nacional.    

   

( Fonte:  Folha de S. Paulo )

Nenhum comentário: