sábado, 5 de setembro de 2015

A Raínha está nua


                                           

         A grande e pesada responsabilidade de colocar Dilma Rousseff na presidência da república, pessoa objetivamente incapaz para o cargo, cabe exclusivamente a Luiz Inácio Lula da Silva que, por julgar tal gesto fosse de interesse próprio, de forma irresponsável ignorou personalidades petistas que, mesmo descontados os eventuais defeitos, teriam muito mais condições de exercer o mais alto cargo da República.

        Por interesse próprio e pensando que a indicação lhe seria proveitosa a seu tempo, o presidente Lula ignorou advertências de figurões petistas – como assinalou em sua respeitada coluna de O Globo Ricardo Noblat  - e foi em frente com a sua pouco responsável iniciativa. Para tanto, ela foi apresentada como se a circunstância de ser Chefe de Gabinete implicasse numa ascendência sobre o ministério, com a capacidade de  chefe de governo (como ao deixar o Planalto José Dirceu, sob o fantasma do Mensalão, mencionaria).

        Lula cometeu o seu primeiro poste, como depois não teria o pejo de gabar-se, para não colocar no governo quem pudesse lhe fazer sombra e dificultar-lhe a volta. A ironia da história está em que mesmo uma presidenta que trouxe a inflação de volta e a bagunça nas contas do Estado, teria condições de barrar-lhe o caminho, pois ela achou que poderia reeleger-se, como efetivamente ocorreu.

       Não tenho dúvidas de que Marina Silva a teria derrotado. Mas tudo foi feito – e não faltaram mentiras – para afastá-la do segundo turno, ficando um adversário mais fraco, a quem venceu por cerca de 3% dos sufrágios.

       Politica e sociologicamente falando, é interessante como Lula se referia aos candidatos por ele eleitos. Designou como postes tanto a Dilma, quanto a Fernando Haddad, e terá tido, além do menosprezo do eleitorado, outras razões políticas.

      Talvez seja eu um dos poucos a bater na tecla da responsabilidade de Lula. Ele só indica a quem lhe consulta os interesses, e tem por tais candidatos o respeito que o substantivo poste indica.  

       Como já disse, a coisa funciona como se ele fora um super-coronel nordestino determinando às hordas obedientes que votem em quem ele manda. E tal se deve não à bolsa-família (que é um sucedâneo dessa situação), mas à implícita e acabrunhante submissão das massas à ordem do chefe, em quem confiam cegamente (até o eventual surgimento de valor mais alto em termos clientelísticos).

       Que ainda se faça confiança a Dilma em termos de compromissos e promessas, é problema de quem nela acredita. Miriam Leitão mostra – se necessário fora – em que importou a obra da Rousseff no primeiro mandato e também no segundo. A Lei da Responsabilidade Fiscal já capenga, e tal não surpreende, porque na sua ânsia de derribar ou demolir a obra anterior – de que participou até Lula da Silva – ela foi até a abóbada, com o ataque à Lei da Responsabilidade Fiscal.

       O pior de certos governantes não é a circunstância de que nada façam, mas sim, como no seu figurino, guiada pela falta de critérios ou querendo ressuscitar um estúpido desenvolvimentismo, ela se empenha em desmantelar o que de pé encontra.

        Por isso, as suas promessas não têm valor.  Joaquim Levy pode arrancar-lhe isto ou aquilo, mas tenha presente que ela logo tratará de desfazer o que prometeu. Ninguém jamais chegou por segunda vez à presidência em condições tão precárias. Depois do Mensalão, veio o Petrolão. Como ele está tocado com responsabilidade,  seu avanço é lento, quiçá demasiado lento para livrar-nos dos avantesmas que o seu desgoverno  nos trouxe .  

        Como estamos em democracia – e é bem que assim seja – o avanço é necessariamente lento, enquanto se dá condições, mesmo não querendo, que o desgoverno permaneça.

       Compreende-se então a angústia dos que contribuíram para o que está ainda por vir. E mais ainda perderá o sono quem – sabe-se lá por que – se reputa mais responsável do que os outros.

      Um a um, no entanto, eles irão caindo. Ontem, ou trás ant’ontem, Michel Temer falou o óbvio. A soberana, com toda a sua pompa e magnificência, não é que está nua?

       Às vezes, como no episódio lendário, uma criança, na respectiva inocência, dirá alto o que a corte e a gente miúda cala.

       Mas dadas as circunstâncias, os papéis podem ser intercambiáveis, e a verdade sempre aparece.

        E que venha logo, minha gente, antes que as agências de risco – e similares –depenem a nós todos, mesmo àqueles que não elegeram postes, nem receberam pixilecos.

 

 ( Fontes: Ricardo Noblat, O Globo, Folha de S. Paulo, Rede Globo )

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