domingo, 20 de setembro de 2015

Lula e a Salvação de Dilma

                                      

        Os que acompanham o cenário político, terão presente que nos últimos tempos tem crescido a irritação do ex-presidente Lula com a sua ex-discípula e atual presidente da república.

       As relações dos dois se azedaram com a negação de Dilma em ceder a vez ao seu patrono. Com isso, o elaborado e sofisticado esquema que Lula da Silva montara indicando Dilma para sucedê-lo (a despeito de indicações contrárias a ele sinalizadas por graúdos do PT, que julgaram ter o partido melhores elementos), e o porquê de ele ter ido em frente  com a sua candidata de algibeira.

       A carta no bolso do colete que Lula escondia ao patrocinar a sua chefe de gabinete se reportaria ao fato de que contava com a decisão de Dilma de não pleitear a reeleição. Esperava, portanto, que ela lhe abrisse caminho e não insistisse na própria reeleição.  Foi neste ponto que falhou o raciocínio de Lula, porque não contou com a capacidade de resistência da sucessora. O seu erro básico teria sido subestimar o poder de presidente em funções em lograr postular a própria reeleição.[1]

        Não é mistério que Lula é, de longe, o melhor quadro do PT. Se pode parecer pilhado às vezes, o ex-presidente tem procurado trabalhar por onde pode para preservar o mandato de sua pupila, que sabe estar deveras ameaçado por sua (dela) incompetência política.

        Não lhe falta, de resto, a visão de que não haveria salvação para o PT se Dilma for apeada do poder. Embora diga e repita que impeachment é golpe (e deveria nesse sentido ter mais cuidado pelo número de vezes em que procurou acuar o seu grande rival FHC com esse mesmo instrumento político), o que ele tem bem presente é que boa ou má, competente ou não, se Eduardo Cunha for em frente com o processo, as chances de Dilma Rousseff em concluir normalmente o respectivo mandato começariam a entrar em fase pré-terminal.

         Diante das mediocridades petistas (incluída a Presidenta) que circundam a sua ex-candidata de algibeira, não há de surpreendê-lo que as coisas venham marchando de forma tão negativa para o partido.

         Dificilmente Lula – em situação similar – se teria indisposto com Michel Temer. Por outro lado, forçoso é reconhecer que se Dilma dele desconfiava fundada na tradição dos vices de trair, ela trabalhou com competência em alijá-lo das negociações políticas, e, por conseguinte, irritar o peemedebista a ponto de que ele emitisse o seu virtual comunicado de ruptura, feito na Paulicéia.

          Lula sabe muito bem que política não é coisa de comadres, com seus arrufos, desfeitas e prevenções. A lealdade é o grande trunfo de Aloisio Mercadante, mas o que o indispõe com Lula é a sua incompetência política. O quadro para Dilma começou a piorar de vez na derrota de Arlindo Chinaglia para Eduardo Cunha, mas ainda teria salvação se gente do ramo a houvesse orientado  a não indispor-se de forma grave com o novo presidente da Câmara.

          E como em outros pontos chave, ao enunciar-se as graves lacunas de Dilma Rousseff para encarnar um presidente com estatura e capacidade, seria como se apertássemos um botão, que reenvia a questão da vez para o presidente Luiz Inacio Lula da Silva, para ver se há possibilidade de a questão seja examinada e resolvida pelo ex-presidente, atendida a circunstância de que ele é o responsável pela presença de Dilma na Presidência da República. E o velho ditado – quem criou Mateus... – continua pertinente e mais do que isso, válido.

           É nesse sentido que devemos tirar o chapéu em reconhecimento do empenho de Lula em salvar Dilma e a turma do PT. Na verdade, é trabalho gigantesco. O prestígio do Partido dos Trabalhadores – aquele partido ético e jacobino, fundado por um operário, cercado por alguns grandes intelectuais e a ala igrejeira, com poucos mas grandes nomes – virou mais uma vítima da Lei de Lord Acton (o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe absolutamente). O Ministro Gilmar Mendes afirmou, segundo O Globo, que o PT tinha “um plano perfeito” para se “eternizar no poder”, (mas isso) foi interrompido pela Operação Lava-Jato.” E continuou o Ministro do Supremo: “A Lava-Jato estragou tudo. Evidente que a Lava-Jato não estava nos planos, porque o plano era perfeito, mas não combinaram com os russos.”  Segundo a interpretação do magistrado, o esquema revelado pela Operação Lava-Jato mostrou que foi instalado no país uma cleptocracia.[2]     

            Lula deixou por ora de ser o oposicionista raivoso do Planalto, para tentar cumprir o magno trabalho de salvar Dilma das forcas caudinas do Impeachment. Nesse sentido, foi visitar em hora matinal o Presidente da Câmara (Eduardo Cunha nega, mas os seus próximos confirmam). Lula pede por Dilma que não tramite o processo do impeachment. Com isso, talvez ganhe o ex-presidente algum tempo para a sua pupila. Cunha, no entanto, sabe que tem batata quente nas mãos, sendo o pedido feito pelo Dr.Hélio Bicudo, um homem íntegro, respeitado por todos. Não é pedido qualquer, e por isso o que Lula quer é ganhar tempo, pelo simples fato de que o varão que largou o PT por causa do Mensalão é um símbolo, e por isso deve ser tratado com cuidado. Não é passível de rejeição.  ( a continuar)

              

( Fontes: Ricardo Noblat,  O Globo, Folha de S. Paulo )




[1] O raciocínio acima foi retirado na sua parte inicial, inclusive no fato de Lula haver recebido indicações de notáveis do PT quanto a que seria melhor solução indicar um grande quadro petista, e não Dilma, sem qualquer experiência em cargo político eletivo de envergadura. Conquanto julgue que a parte seguinte da hipótese esteja implícita na informação do artigo de Ricardo Noblat, devo frisar que é apenas hipótese minha construída sobre os fundamentos da tese do citado jornalista.
[2] Sistema de Estado que é governado por ladrões (do grego kléptes,  ladrão)

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