Os que acompanham o cenário
político, terão presente que nos últimos tempos tem crescido a irritação do
ex-presidente Lula com a sua ex-discípula e atual presidente da república.
As relações dos
dois se azedaram com a negação de Dilma em ceder a vez ao seu patrono. Com
isso, o elaborado e sofisticado esquema que Lula da Silva montara indicando
Dilma para sucedê-lo (a despeito de indicações contrárias a ele sinalizadas por
graúdos do PT, que julgaram ter o partido melhores elementos), e o porquê
de ele ter ido em frente com a sua
candidata de algibeira.
A carta no
bolso do colete que Lula escondia ao patrocinar a sua chefe de gabinete se
reportaria ao fato de que contava com a decisão de Dilma de não pleitear a
reeleição. Esperava, portanto, que ela lhe abrisse caminho e não insistisse na
própria reeleição. Foi neste ponto que
falhou o raciocínio de Lula, porque não contou com a capacidade de resistência
da sucessora. O seu erro básico teria sido subestimar o poder de presidente em
funções em lograr postular a própria reeleição.[1]
Não é mistério que Lula é, de longe, o
melhor quadro do PT. Se pode parecer pilhado
às vezes, o ex-presidente tem procurado trabalhar por onde pode para preservar
o mandato de sua pupila, que sabe estar deveras ameaçado por sua (dela)
incompetência política.
Não lhe falta, de resto, a visão de que não
haveria salvação para o PT se Dilma for apeada do poder. Embora diga e repita
que impeachment é golpe (e deveria
nesse sentido ter mais cuidado pelo número de vezes em que procurou acuar o seu
grande rival FHC com esse mesmo instrumento político), o que ele tem bem
presente é que boa ou má, competente ou não, se Eduardo Cunha for em frente com
o processo, as chances de Dilma Rousseff em concluir normalmente o respectivo
mandato começariam a entrar em fase pré-terminal.
Diante das
mediocridades petistas (incluída a Presidenta) que circundam a sua ex-candidata
de algibeira, não há de surpreendê-lo que as coisas venham marchando de forma
tão negativa para o partido.
Dificilmente
Lula – em situação similar – se teria indisposto com Michel Temer. Por outro
lado, forçoso é reconhecer que se Dilma dele desconfiava fundada na tradição
dos vices de trair, ela trabalhou com competência em alijá-lo das negociações
políticas, e, por conseguinte, irritar o peemedebista a ponto de que ele
emitisse o seu virtual comunicado de ruptura, feito na Paulicéia.
Lula sabe
muito bem que política não é coisa de comadres, com seus arrufos, desfeitas e
prevenções. A lealdade é o grande trunfo de Aloisio Mercadante, mas o que o
indispõe com Lula é a sua incompetência política. O quadro para Dilma começou a
piorar de vez na derrota de Arlindo Chinaglia para Eduardo Cunha, mas ainda
teria salvação se gente do ramo a houvesse orientado a não indispor-se de forma grave com o novo
presidente da Câmara.
E como em outros pontos chave, ao enunciar-se
as graves lacunas de Dilma Rousseff para encarnar um presidente com estatura e
capacidade, seria como se apertássemos um botão, que reenvia a questão da vez
para o presidente Luiz Inacio Lula da Silva, para ver se há possibilidade de a
questão seja examinada e resolvida pelo ex-presidente, atendida a circunstância de que ele é o responsável pela presença de
Dilma na Presidência da República. E o velho ditado – quem criou Mateus... –
continua pertinente e mais do que isso, válido.
É nesse
sentido que devemos tirar o chapéu em reconhecimento do empenho de Lula em
salvar Dilma e a turma do PT. Na verdade, é trabalho gigantesco. O prestígio do
Partido dos Trabalhadores – aquele partido ético e jacobino, fundado por um
operário, cercado por alguns grandes intelectuais e a ala igrejeira, com poucos
mas grandes nomes – virou mais uma vítima da Lei de Lord Acton (o poder corrompe, e o poder absoluto corrompe
absolutamente). O Ministro Gilmar Mendes afirmou, segundo O Globo, que o PT tinha “um plano perfeito” para se “eternizar no
poder”, (mas isso) foi interrompido pela Operação
Lava-Jato.” E continuou o Ministro do Supremo: “A Lava-Jato estragou tudo.
Evidente que a Lava-Jato não estava nos planos, porque o plano era perfeito,
mas não combinaram com os russos.”
Segundo a interpretação do magistrado, o esquema revelado pela Operação
Lava-Jato mostrou que foi instalado no país uma cleptocracia.[2]
Lula deixou por ora de ser o oposicionista
raivoso do Planalto, para tentar cumprir o magno trabalho de salvar Dilma das forcas caudinas do Impeachment. Nesse sentido, foi visitar em hora matinal o
Presidente da Câmara (Eduardo Cunha nega, mas os seus próximos confirmam). Lula
pede por Dilma que não tramite o processo do impeachment. Com isso, talvez ganhe o ex-presidente algum tempo
para a sua pupila. Cunha, no entanto, sabe que tem batata quente nas mãos,
sendo o pedido feito pelo Dr.Hélio Bicudo, um homem íntegro, respeitado por
todos. Não é pedido qualquer, e por isso o que Lula quer é ganhar tempo, pelo
simples fato de que o varão que largou o PT por causa do Mensalão é um símbolo,
e por isso deve ser tratado com cuidado. Não é passível de rejeição. ( a
continuar)
( Fontes: Ricardo
Noblat, O Globo, Folha de S. Paulo )
[1] O raciocínio acima foi
retirado na sua parte inicial, inclusive no fato de Lula haver recebido
indicações de notáveis do PT quanto a que seria melhor solução indicar um
grande quadro petista, e não Dilma, sem qualquer experiência em cargo político
eletivo de envergadura. Conquanto julgue que a parte seguinte da hipótese
esteja implícita na informação do artigo de Ricardo Noblat, devo frisar que é apenas
hipótese minha construída sobre os fundamentos da tese do citado jornalista.
[2] Sistema de Estado que é
governado por ladrões (do grego kléptes,
ladrão)
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