As estimativas otimistas de que Hillary Clinton ganharia facilmente a nomination para ser a candidata
democrata à Presidência em 2016, por enquanto, parecem ser ilusões da primavera
e do verão boreal.
Tem-se a
impressão de que a experiência de governo de Hillary – os seus quatro exitosos
anos no Departamento de Estado – de um momento para outro deixou de ter a importância de antes.
Apesar das
várias investigações feitas a respeito da tragédia em Benghazi – em que o
embaixador americano John Christopher Stevens, foi assassinado, em 12 de
setembro de 2012, junto com mais três funcionários americanos – os republicanos
continuam insatisfeitos. Comissão após comissão surge na Câmara de
Representantes – onde o GOP continua a ter sólida maioria – com o aparente
objetivo de determinar algo que nessa tragédia americana possa incriminar a ex-Secretária de Estado. Malgrado ingentes
esforços, nenhuma das comissões produziu algo que levantasse alguma eventual
responsabilidade de Hillary. No entanto, a maioria republicana na Casa de
Representantes continua tentando...
Talvez o
problema principal de Hillary esteja na circunstância de que ela seja candidata
tarimbada (já enfrentou a dura prova da disputa com Barack Obama em 2008), com participação relevante na administração
do marido Bill Clinton, quando cuidou de um projeto de reforma de saúde por
muitos considerado como assaz superior à lei aprovada por Obama, quando os
democratas ainda detinham a maioria em Câmara e Senado.
Foi objeto
também de ataque respeitável conduzido pelo promotor especial Ken Starr a
respeito de Whitewater. O alvo
principal era Bill Clinton, mas os republicanos não descuraram de até
convocá-la a um Grand-Jury, de que ela saíu indene. Tanta atenção negativa
pressupõe um grande temor do GOP
pelas suas qualidades positivas.
E os
republicanos não estão sozinhos nessa empresa.
Outro grande ‘amigo’ é o jornalão da costa leste, nada menos que o New York Times, que no passado apoiou a
Ken Starr, sempre no fracassado processo de Whitewater,
o escândalo que não foi.
No diligente
fabrico de issues (questões) que
possam prejudicá-la o New York Times tem levantado muitas matérias, inclusive a
respeito do irmão de Hillary, além de dúvidas do envolvimento da ex-Secretária
de Estado com a Fundação de Bill
Clinton, e o seu financiamento. Malgrado o comovente empenho, até agora nenhum
coelho saíu dessas moitas tão esforçadamente revistadas.
Por
enquanto, foram intentadas investigações quanto ao seu alegado uso ilegal do
servidor de e-mails do State Department (até agora sem maiores
resultados). Foram censuradas as suas respostas demasiado breves a essa
questão. Pergunto-me se elas forem longas, certa mídia pode criticá-la por
falta de objetividade. Igualmente, os intentos de Hillary de empregar ironia
nesse tópico mereceram da mídia um puxão de orelhas, supostamente por não dar a
devida importância ao tópico.
Tem-se a
impressão de que continuem tentando encontrar algo que possa afastá-la da
trilha da candidatura. Talvez a crescente irritação desses observadores
interessados se deva à circunstância de que até agora a questão que lhes
permitiria derrubar-lhe a candidatura não deu as caras.
No momento
presente, há dois concorrentes que merecem maior atenção: o Senador
Bernie Sanders, que nas
pesquisas para a primária de New Hampshire está por ora à frente de Hillary. No
entanto, muitos comentaristas o consideram um fenômeno de verão, que
não teria gás para enfrentá-la em campanha mais longa. O outro adversário é o Vice
Joe Biden, famoso por suas gafes. Depois de lançar a própria
candidatura, a retirou, dada a força de Hillary. No entanto, meses mais tarde,
fez amicavelmente saber através da imprensa de que estava reconsiderando o
assunto. Essa mudança de atitude do Vice-presidente só poderia ser interpretada
como decorrente das dificuldades de Hillary pela questão de seu uso do e-mail privado, quando Secretária de
Estado, o que é incômodo para a ´pré-candidata.
Todos esses contratempos
têm forçado Hillary a fazer correções nas suas apresentações, com o escopo de
aproximá-la do eleitor comum. Se a sua maior experiência em termos políticos os
adversários tentem transformar contrario
sensu em uma suposta falta de maior sensibilidade com as preocupações do
eleitor, tudo isso vem contribuindo para tentativa de Hillary em ser mais
aberta em todas as questões, inclusive no que tange ao uso do e-mail privado,
por mais que a insistência no tópico lhe haja irritado no passado.
Em resumo,
por ora Hillary Clinton continua a favorita para alcançar a nomination,
mas a disputa está mais acirrada, e a ex-Secretaria de Estado enfrenta um
desafio, mormente pela circunstância de que, no momento presente, não mais
dispõe da folgada vantagem anterior, e é até derrotada no pequeno estado de New Hampshire, que como o Iowa tem importância pela sua sinalização
como que antecipada acerca da respectiva força dos pré-candidatos.
( Fonte: The New York Times )
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