terça-feira, 8 de setembro de 2015

Problemas de Hillary


                                       

        As estimativas otimistas de que Hillary Clinton ganharia facilmente a nomination para ser a candidata democrata à Presidência em 2016, por enquanto, parecem ser ilusões da primavera e do verão boreal.

        Tem-se a impressão de que a experiência de governo de Hillary – os seus quatro exitosos anos no Departamento de Estado – de um momento para outro deixou de ter  a importância de antes.

         Apesar das várias investigações feitas a respeito da tragédia em Benghazi – em que o embaixador americano John Christopher Stevens, foi assassinado, em 12 de setembro de 2012, junto com mais três funcionários americanos – os republicanos continuam insatisfeitos. Comissão após comissão surge na Câmara de Representantes – onde o GOP continua a ter sólida maioria – com o aparente objetivo de determinar algo que nessa tragédia americana possa incriminar  a ex-Secretária de Estado. Malgrado ingentes esforços, nenhuma das comissões produziu algo que levantasse alguma eventual responsabilidade de Hillary. No entanto, a maioria republicana na Casa de Representantes continua tentando...

         Talvez o problema principal de Hillary esteja na circunstância de que ela seja candidata tarimbada (já enfrentou a dura prova da disputa com Barack Obama em 2008),  com participação relevante na administração do marido Bill Clinton, quando cuidou de um projeto de reforma de saúde por muitos considerado como assaz superior à lei aprovada por Obama, quando os democratas ainda detinham a maioria em Câmara e Senado.

          Foi objeto também de ataque respeitável conduzido pelo promotor especial Ken Starr a respeito de Whitewater. O alvo principal era Bill Clinton, mas os republicanos não descuraram de até convocá-la a um Grand-Jury, de que ela saíu indene. Tanta atenção negativa pressupõe um grande temor do GOP pelas suas qualidades positivas.

          E os republicanos não estão sozinhos nessa empresa.  Outro grande ‘amigo’ é o jornalão da costa leste, nada menos que o New York Times, que no passado apoiou a Ken Starr, sempre no fracassado processo de Whitewater, o escândalo que não foi.

          No diligente fabrico de issues (questões) que possam prejudicá-la o New York Times tem levantado muitas matérias, inclusive a respeito do irmão de Hillary, além de dúvidas do envolvimento da ex-Secretária de Estado com a Fundação  de Bill Clinton, e o seu financiamento. Malgrado o comovente empenho, até agora nenhum coelho saíu dessas moitas tão esforçadamente revistadas.

          Por enquanto, foram intentadas investigações quanto ao seu alegado uso ilegal do servidor de e-mails do State Department (até agora sem maiores resultados). Foram censuradas as suas respostas demasiado breves a essa questão. Pergunto-me se elas forem longas, certa mídia pode criticá-la por falta de objetividade. Igualmente, os intentos de Hillary de empregar ironia nesse tópico mereceram da mídia um puxão de orelhas, supostamente por não dar a devida importância ao tópico.

          Tem-se a impressão de que continuem tentando encontrar algo que possa afastá-la da trilha da candidatura. Talvez a crescente irritação desses observadores interessados se deva à circunstância de que até agora a questão que lhes permitiria derrubar-lhe a candidatura não deu as caras.

          No momento presente, há dois concorrentes que merecem maior atenção: o Senador Bernie Sanders,  que nas pesquisas para a primária de New Hampshire está por ora à frente de Hillary. No entanto, muitos comentaristas o consideram um fenômeno de verão, que não teria gás para enfrentá-la em campanha mais longa. O outro adversário é o Vice Joe Biden, famoso por suas gafes. Depois de lançar a própria candidatura, a retirou, dada a força de Hillary. No entanto, meses mais tarde, fez amicavelmente saber através da imprensa de que estava reconsiderando o assunto. Essa mudança de atitude do Vice-presidente só poderia ser interpretada como decorrente das dificuldades de Hillary pela questão de seu uso do e-mail privado, quando Secretária de Estado, o que é incômodo para a ´pré-candidata.

         Todos esses contratempos têm forçado Hillary a fazer correções nas suas apresentações, com o escopo de aproximá-la do eleitor comum. Se a sua maior experiência em termos políticos os adversários tentem transformar contrario sensu em uma suposta falta de maior sensibilidade com as preocupações do eleitor, tudo isso vem contribuindo para tentativa de Hillary em ser mais aberta em todas as questões, inclusive no que tange ao uso do e-mail privado, por mais que a insistência no tópico lhe haja irritado no passado.

          Em resumo, por ora Hillary Clinton continua a favorita para alcançar a  nomination, mas a disputa está mais acirrada, e a ex-Secretaria de Estado enfrenta um desafio, mormente pela circunstância de que, no momento presente, não mais dispõe da folgada vantagem anterior, e é até derrotada no pequeno estado de New Hampshire, que como o Iowa tem importância pela sua sinalização como que antecipada acerca da respectiva força dos pré-candidatos.

 

( Fonte: The New York Times )

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