terça-feira, 1 de setembro de 2015

Bagunça Fiscal

                                               

         Foi muito mal recebida a apresentação pelo Executivo – Dilma II de Proposta do Orçamento da União com um déficit  de R$ 30,5 bilhões.

          Caracteriza o orçamento que as despesas previstas sejam atendidas pela receita. O equilíbrio do orçamento entre débito e crédito é o traço mais importante do orçamento. Em todos os países com tradição nas contas públicas é essa a imutável e burocrática característica.

         Em consequência, ao apresentar a proposta de Orçamento da União com déficit, o Executivo de Dilma II mostra o tamanho da desorganização das finanças públicas no país. Essa desorganização é ainda mais enfatizada pela determinação da Presidente de manter dispêndios que não são compatíveis com a atual situação, o que é acrescido pela esdrúxula tentativa de empurrar para o Legislativo uma tarefa que sempre coube ao Executivo, e para o qual o Congresso não está preparado.

         Não se trata de jogo de empurra, porque em tal hipótese as duas Partes disporiam do conhecimento que as habilitaria a se encarregar da tarefa. No caso presente, o Legislativo nunca se ocupou de tal tarefa, e o mais provável, portanto, é que a repasse ao Executivo.

         Ainda nesse sentido, a Oposição criticou duramente o Orçamento e cobrou do Presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL) sua devolução ao Executivo.

         Nesse contexto, o presidente nacional do PSDB, Senador Aécio Neves (MG) referiu que o efeito mais danoso para os brasileiros será o rebaixamento da nota de crédito e a perda do grau de investimento do país.

         A respeito, acrescentou: “O improviso é a marca das ações daqueles que ainda acham que governam o Brasil.  A Presidência da República quer dividir com o Congresso uma responsabilidade que era exclusivamente dela, fazer os cortes e os ajustes para equilibrar o Orçamento.  O Governo coloca sobre si o atestado de incompetência.”

          O próprio Vice-Presidente Michel Temer, diante do apelo de Dilma Rousseff  aos congressistas para que encontrem saída para equilibrar as contas, declarou no próprio dia 31 de agosto: “Não há possibilidade de aumentar impostos, é preciso cortar gastos do governo.”

         Com o Ministro da Fazenda, Joaquim Levy, escanteado, o Ministro Nelson Barbosa pensa agradar à Presidente mantendo rubricas relativas a programas custosos e o que é pior sem custeio visível. O seu descompasso não poderia ser maior: para Levy, o Governo tem o desafio de cortar gastos, enquanto, afinado com Dilma (que pediu soluções ao Congresso) Barbosa afirma que reduções adicionais cabem ao Congresso.

         O desgoverno é a marca da Administração do Dilma II (no que repete, necessariamente em condições mais desfavoráveis o Dilma I).   

        Além do prejuízo causado por um trabalho mal feito – apresentar por primeira vez um orçamento em que as receitas não cobrem os dispêndios e, em consequência intranquilizar o mercado, com o dólar subindo para R$ 3,629a visão de uma Dilma II bem-comportada em termos de finanças públicas pertence decerto às estórias da Carochinha.

         Por outro lado, em análise sobre a questão a Folha, em artigo de Gustavo Patu, assinala aspectos relevantes sobre o ‘realismo’ de suas três disparatadas projeções para o saldo da contas do Tesouro Nacional em 2016. Em abril, se previu poupança (!) de R$ 104,6 bilhões; em julho, a meta despenca para saldo de R$ 34 bilhões; e em agosto último, com um mês de diferença, portanto, o que era saldo vira déficit de R$ 30,5 bilhões !

         Nesse sentido, e diante de tanta imprecisão, calculada por um exército de técnicos do Executivo, como se pode imaginar, pergunta Patu, um Legislativo sem liderança vá produzir um Orçamento equilibrado até dezembro ?  

          Essa piedosa esperança de Dilma e Nelson Barbosa – Joaquim Levy nada tem a ver com isso, pois sugeriu que a solução fosse pelo corte em programas dispendiosos – dificilmente se sustentará como frisa Patu: Se com a redemocratização do país o Congresso ganhou novos poderes para deliberar sobre a programação das despesas federais, mas nunca quis saber de discutir prioridades e muito menos buscar fontes palpáveis de recursos.

           Por outro lado – e esse será o aspecto mais inquietante,  fora do risco assumido pelo Governo Dilma de criar um impasse político – a proposta de Orçamento indica cerca de  R$ 50 bilhões em receitas ainda obscuras. Estão nesse grupo R$ 37,3 bilhões em recursos a serem obtidos com a venda de imóveis, ações de estatais, concessões de serviços públicos, leilão da folha de pagamento e cobrança de dívidas.

           Como sublinha Patu, expectativas de recursos do gênero são recorrentes em estimativas orçamentárias, e os resultados concretos têm sido invariavelmente abaixo do previsto. Num cenário de recessão, as chances de êxito na venda  de patrimônio são ainda menores.

           Nessa linha de otimismo oficial, os gastos com juros da dívida pública –a despesa que mais cresce em 2015 – são  estimados em 7,2% do PIB em 2015, e 6,2% em 2016. No entanto, no período de doze meses que acaba de encerrar-se em julho último, a conta ficou em 7,9% do produto nacional bruto.  

            As idéias confusas, o otimismo sempre apregoado a despeito das realidades que o  põem por terra, a confusão operacional, e a desorganização daí decorrente são características que ressaltam, mesmo em leitura de um papel como o da Proposta de Orçamento para 2016.

            Daí fica mais fácil não só entender as Pedaladas em interminável e decerto burocrático exame pelos juízes do colendo Tribunal de Contas da União, e agora as confusões da Proposta de Orçamento para 2016, proposta esta de que há um grande ausente, posto que não de vontade própria: o Ministro da Fazenda Joaquim Levy.

            No seu lugar, prevalecem os conciliábulos, as ordens, contraordens e desordens  tão tipicas do Dilma II.

           E continuam a proclamar que Deus é brasileiro. 

 

( Fontes:  Folha de S. Paulo (artigo de Gustavo Patu), O  Globo )

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