quarta-feira, 16 de setembro de 2015

A Raínha Fraca

                                          

        Ainda ressoa em muitos ouvidos a frase de Lionel Brizola, colhida no manancial camoniano, que o rei fraco torna fraca a forte gente.

        O ocaso do grande líder gaúcho começou quando um novo chefe político, Lula da Silva, fundado no novel partido dos trabalhadores, o superou em cerca de quinhentos mil votos, ganhando o direito de disputar o segundo turno com o dito algoz dos marajás, Fernando Collor.

        Se bem sabemos como essa estória terminou, é oportuno precisar que antes, ainda no declinante reino de quem gostava de ser chamado João Figueiredo, por cruel manobra do mago Golbery, o ex-exilado Brizola teve denegado o retorno ao velho PTB, que foi dado de bandeja à deputada conservadora Yvete Vargas.

       Barrado à entrada da antiga base, mal disfarçando a raiva, Brizola fundou o PDT, que até hoje perdura, sem nunca ter tido o papel do PTB, com seus grandes líderes do passado, como Alberto Pasqualini. 

       Na reação contra a crise, confrontada com um Congresso gastador e irresponsável, diante das pautas-bomba, desde a vitória de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e, sobretudo, a fragorosa derrota do candidato do PT, Arlindo Chinaglia (SP), de resto um bom quadro, o governo Dilma se viu órfão diante da Câmara – e por um tempo, também no Senado – diante de maiorias desgovernadas, que ajudara  a eleger.

       A sua queda na popularidade – em função da reação às mentiras que lhe pautaram a vitória no segundo turno – preparou o terreno para o quase total descontrole do Legislativo, que partiu para ilimitada gastança, como se o fim das maiorias parlamentares seja enfraquecer o Erário, meio que levantando a tampa e os haveres da Previdência. Na desenfreada demagogia, os deputados e até senadores pensaram que o cofre estatal é inexaurível, e por seus procederes (junto com as irresponsáveis pautas-bomba) tornam possível a falência da Previdência Estatal, como ocorreu em Portugal.

       O desatino fiscal, no entanto, não tem sido patrimônio apenas do Legislativo. Ao barrar a proposta de Joaquim Levy, que favorecia projeto razoável, conforme aos apertos do presente, e ao invés, encenando a feitura de incrível proposta orçamentária com déficit embutido (apoiada pela maioria dos seus fidelíssimos, Nelson Barbosa e Aloizio Mercadante) a mais uma vez desastrada Dilma deu de bandeja à Standard & Poors’ o pretexto de que carecia para o rebaixamento de nossa economia, que de há muito já formigava nos dedos da turma de Wall Street.

       Há de convir-se que mandar para esse Congresso proposta orçamentária desequilibrada, com trinta bilhões de déficit, não é um desafio, mas um senhor mau-passo, que cheira à provocação, malgrado a falta de qualquer sentido na jogada, que mais parece um bisonho tiro no pé.  

       Os parlamentares da hoje defunta base aliada, inclusive os mais chegados, sequer se pejaram em guardar silêncio na reunião convocada por Dilma. Não é com irresolução e  insegurança, que se vai lograr coser  base mínima de sustentação. Ao primeiro arreganho de discordância, a antiga Presidenta já tem repensamentos, como se bastassem arreganhos de parlamentares – que semelham ter como emblema o MAIS, como se os fundos da Viúva fossem inesgotáveis – para que principie a vacilar, e a pôr em perigo o pacote costurado para evitar o pior.

         Não se distingue, infelizmente, nessa hora extrema a férrea vontade, que não trepida em pôr as cousas a limpo, e com as costas na parede dos seus pouquíssimos dígitos de remanescente apoio, age e fala como se deles tivesse as burras cheias.

         Não é para sucessivos vacilos que a Senhora foi reeleita. Tem a legitimidade republicana, e tal até prova em contrário. Se lutar e mostrar que não há escolha, a mágica caravana poderá continuar no seu caminho. A força dessa reação está justamente na falta de qualquer outra opção.

         Não será recuando e se desdizendo, que atravessará esse corredor polonês com que pensam submetê-la.

        Não é com hesitações, ou com meias palavras, que se logra mostrar tanto a gravidade da hora, quanto a falta de outros meios.

        O seu rosto, corpo e linguagem gestual não pode ser um papel carbono que tudo mostra e, ao cabo, nada significa.

         Contra a parede, que ela lhe sirva de apoio e anteparo nesta hora extrema, e não de símbolo de quem não tem saída.

         Como deve saber, não me conto entre seus partidários, mas o meu voto sempre foi dado em favor do Brasil. Por isso, se a senhora acreditar em si mesma, e em cortando na carne deixar claro qual é a sua escolha, não tenho dúvidas que afirmará o seu direito, e outros muitos trará para a sua causa, desde que escarmentada das passadas loucuras.

       O P.T. é passageiro e dele cuida a Justiça. A senhora é a Presidente do Brasil e se tiver isso bem presente, e agir em consequência, terá o meu apoio.

 

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