Ainda ressoa em muitos ouvidos a
frase de Lionel Brizola, colhida no manancial camoniano, que o rei fraco
torna fraca a forte gente.
O ocaso do
grande líder gaúcho começou quando um novo chefe político, Lula da Silva,
fundado no novel partido dos trabalhadores, o superou em cerca de quinhentos
mil votos, ganhando o direito de disputar o segundo turno com o dito algoz dos
marajás, Fernando Collor.
Se bem sabemos
como essa estória terminou, é oportuno precisar que antes, ainda no declinante
reino de quem gostava de ser chamado João
Figueiredo, por cruel manobra do mago
Golbery, o ex-exilado Brizola teve denegado o retorno ao velho PTB, que foi
dado de bandeja à deputada conservadora Yvete
Vargas.
Barrado à
entrada da antiga base, mal disfarçando a raiva, Brizola fundou o PDT, que até
hoje perdura, sem nunca ter tido o papel do PTB, com seus grandes líderes do
passado, como Alberto Pasqualini.
Na reação
contra a crise, confrontada com um Congresso gastador e irresponsável, diante
das pautas-bomba, desde a vitória de Eduardo Cunha (PMDB/RJ) e, sobretudo, a
fragorosa derrota do candidato do PT, Arlindo
Chinaglia (SP), de resto um bom quadro, o governo Dilma se viu órfão diante
da Câmara – e por um tempo, também no Senado – diante de maiorias
desgovernadas, que ajudara a eleger.
A sua queda na
popularidade – em função da reação às mentiras
que lhe pautaram a vitória no segundo turno – preparou o terreno para o quase
total descontrole do Legislativo, que partiu para ilimitada gastança, como se o
fim das maiorias parlamentares seja enfraquecer o Erário, meio que levantando a
tampa e os haveres da Previdência. Na desenfreada demagogia, os deputados e até
senadores pensaram que o cofre estatal é inexaurível, e por seus procederes
(junto com as irresponsáveis pautas-bomba) tornam possível a falência da
Previdência Estatal, como ocorreu em Portugal.
O desatino
fiscal, no entanto, não tem sido patrimônio apenas do Legislativo. Ao barrar a
proposta de Joaquim Levy, que favorecia projeto razoável, conforme aos apertos
do presente, e ao invés, encenando a feitura de incrível proposta orçamentária
com déficit embutido (apoiada pela maioria dos seus fidelíssimos, Nelson
Barbosa e Aloizio Mercadante) a mais uma vez desastrada Dilma deu de bandeja à Standard & Poors’ o pretexto de que
carecia para o rebaixamento de nossa economia, que de há muito já formigava nos
dedos da turma de Wall Street.
Há de convir-se
que mandar para esse Congresso proposta orçamentária desequilibrada, com trinta
bilhões de déficit, não é um desafio,
mas um senhor mau-passo, que cheira à provocação, malgrado a falta de qualquer
sentido na jogada, que mais parece um bisonho tiro no pé.
Os
parlamentares da hoje defunta base aliada,
inclusive os mais chegados, sequer se pejaram em guardar silêncio na reunião
convocada por Dilma. Não é com irresolução e insegurança, que se vai lograr coser base mínima de sustentação. Ao primeiro
arreganho de discordância, a antiga Presidenta já tem repensamentos, como se
bastassem arreganhos de parlamentares – que semelham ter como emblema o MAIS,
como se os fundos da Viúva fossem inesgotáveis – para que principie a vacilar,
e a pôr em perigo o pacote costurado para evitar o pior.
Não se
distingue, infelizmente, nessa hora extrema a férrea vontade, que não trepida
em pôr as cousas a limpo, e com as costas na parede dos seus pouquíssimos
dígitos de remanescente apoio, age e fala como se deles tivesse as burras
cheias.
Não é para
sucessivos vacilos que a Senhora foi reeleita. Tem a legitimidade republicana,
e tal até prova em contrário. Se lutar e mostrar que não há escolha, a mágica
caravana poderá continuar no seu caminho. A força dessa reação está justamente
na falta de qualquer outra opção.
Não será
recuando e se desdizendo, que atravessará esse corredor polonês com que pensam
submetê-la.
Não é com
hesitações, ou com meias palavras, que se logra mostrar tanto a gravidade da
hora, quanto a falta de outros meios.
O seu rosto,
corpo e linguagem gestual não pode ser um papel carbono que tudo mostra e, ao
cabo, nada significa.
Contra a
parede, que ela lhe sirva de apoio e anteparo nesta hora extrema, e não de
símbolo de quem não tem saída.
Como deve
saber, não me conto entre seus partidários, mas o meu voto sempre foi dado em
favor do Brasil. Por isso, se a senhora acreditar em si mesma, e em cortando na
carne deixar claro qual é a sua escolha, não tenho dúvidas que afirmará o seu
direito, e outros muitos trará para a sua causa, desde que escarmentada das
passadas loucuras.
O P.T. é
passageiro e dele cuida a Justiça. A senhora é a Presidente do Brasil e se
tiver isso bem presente, e agir em consequência, terá o meu apoio.
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