domingo, 6 de setembro de 2015

Desafio Migratório à União Europeia


                      
        A presente crise migratória, na verdade, se compõe de vertentes  médio-oriental (Síria), africana, europeia e asiática. Em muitos casos, são guerras civis mal-resolvidas (Síria, Afeganistão), o flagelo da corrupção e dos estados falidos (Somália, Eritréia, Líbia e um vastíssimo etc.).

        A ação desestabilizante do ISIS (que atua na Síria oriental e no Iraque (norte e ocidental) e o maciço ingresso de refugiados na Turquia e Jordânia, e no Líbano e Iraque, representa ulterior desafio para esses países,  de que a Turquia, por ser o estado mais rico e com maior extensão, é o que tem acolhido maior número, quase equivalente à incomparavelmente maior e mais rica União Europeia.

         A União Europeia se defronta com tal problema dada a sua relativa proximidade dos focos de emigração, assim como, e sobretudo, pela diferença de padrão de vida. A própria Itália, que está mais exposta através do Mediterrâneo – onde atuam os cruéis traficantes de carne africana, que chegam a cobrar preços escorchantes aos infelizes para, ao cabo, abandoná-los em mar que é bem mais amplo e traiçoeiro do que muitos à distância supõem.

          Se o peso dessa migração é muito lamentado pelas instâncias migratórias italianas que, sob quase todos os aspectos, não estão preparadas para lidar com  afluxo, tão incessante, quanto miserável. Verifica-se que o aporte de Roma  situa-se no quarto país mais procurado (atrás de Alemanha, França e Suécia).

         O que se reclama de Bruxelas é que a U.E. logre dar resposta tanto à altura da crise, e que seja com a possível urgência,      quanto sustentável a longo prazo.

         Um dos países mais procurados pelos refugiados é o Reino Unido, e os esforços para lá chegar envolvem por vezes riscos impensáveis, que infelizes pagam com a morte, seja a travessia em trem de aterrissagem de avião, seja no intento de penetrar por túneis ferroviários (entre França e Inglaterra).

         Nos possíveis abrigos, como se verifica de forma agressiva, a repulsa à gente tangida pelas catástrofes (humanas e naturais) se afigura maior nos domínios do Senhor Viktor Orbán, o Primeiro Ministro da Hungria, com o regime de direita do Partido    Fidezs, que margeia a extrema direita, e que torna a antiga parceira da Áustria um ente pouco à vontade nos corredores e salas de Bruxelas. O quase-ditador Orban parece saído do figurino da [1]Mitteleuropa do entre-guerras, em que líderes fascistóides conviviam com a perigosa companhia de Hitler e Mussolini. Daí,  sua recusa de ajuda ao imigrante (que se viu na maneira insensível com que foram tratados os infelizes  forçados a utilizar a terra magyar como via de passagem para lugares mais convidativos e humanos).

          Entende-se, outrossim, que os refugiados prefiram os países maiores como a Alemanha, o Reino Unido e a França, embora a Suécia e a Itália também tenham contigentes consideráveis.

          A súbita vinda desses infelizes sem dúvida coloca um problema ético e social para os estados comunitários, que desfrutam de um nível de vida incomparável para seres que são literalmente expulsos de seus lares e que partem para o desafio da incógnita nas respectivas desistências. Encontrarão muitas sociedades em que mingua a presença de crianças e adolescentes, e cresce o egoismo e o comodismo das velhas gerações. Obviamente, as exceções, para conforto de poucos e, em alguns felizes casos, de muitos, sempre existirão.

             Esse improvisado êxodo constitui decerto um desafio. Todos, no entanto, com diferentes quotas de interesse, deverão dar o seu aporte. Mesmo o autoritário Orbán deve comparecer, porque isentá-lo seria premiar o egoismo e, por que não, a própria insensível boçalidade do regime.      

 

(  Fonte:  Folha de S. Paulo )



[1] Europa central.

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