A presente
crise migratória, na verdade, se compõe de vertentes médio-oriental (Síria), africana, europeia e
asiática. Em muitos casos, são guerras civis mal-resolvidas (Síria, Afeganistão),
o flagelo da corrupção e dos estados falidos (Somália, Eritréia, Líbia e um
vastíssimo etc.).
A ação
desestabilizante do ISIS (que atua na Síria oriental e no Iraque (norte e
ocidental) e o maciço ingresso de refugiados na Turquia e Jordânia, e no Líbano
e Iraque, representa ulterior desafio para esses países, de que a Turquia, por ser o estado mais rico e
com maior extensão, é o que tem acolhido maior número, quase equivalente à
incomparavelmente maior e mais rica União Europeia.
A União Europeia se defronta com tal problema
dada a sua relativa proximidade dos focos de emigração, assim como, e
sobretudo, pela diferença de padrão de vida. A própria Itália, que está mais
exposta através do Mediterrâneo – onde atuam os cruéis traficantes de carne
africana, que chegam a cobrar preços escorchantes aos infelizes para, ao cabo,
abandoná-los em mar que é bem mais amplo e traiçoeiro do que muitos à distância
supõem.
Se o peso
dessa migração é muito lamentado pelas instâncias migratórias italianas que,
sob quase todos os aspectos, não estão preparadas para lidar com afluxo, tão incessante, quanto miserável. Verifica-se
que o aporte de Roma situa-se no quarto
país mais procurado (atrás de Alemanha, França e Suécia).
O que se reclama
de Bruxelas é que a U.E. logre dar resposta tanto à altura da crise, e que seja
com a possível urgência, quanto
sustentável a longo prazo.
Um dos países
mais procurados pelos refugiados é o Reino Unido, e os esforços para lá chegar
envolvem por vezes riscos impensáveis, que infelizes pagam com a morte, seja a
travessia em trem de aterrissagem de avião, seja no intento de penetrar por
túneis ferroviários (entre França e Inglaterra).
Nos possíveis
abrigos, como se verifica de forma agressiva, a repulsa à gente tangida pelas
catástrofes (humanas e naturais) se afigura maior nos domínios do Senhor Viktor
Orbán, o Primeiro Ministro da Hungria, com o regime de direita do Partido Fidezs, que margeia a extrema direita, e que
torna a antiga parceira da Áustria um ente pouco à vontade nos corredores e
salas de Bruxelas. O quase-ditador Orban parece saído do figurino da [1]Mitteleuropa do entre-guerras, em que
líderes fascistóides conviviam com a perigosa companhia de Hitler e Mussolini.
Daí, sua recusa de ajuda ao imigrante
(que se viu na maneira insensível com que foram tratados os infelizes forçados a utilizar a terra magyar como via
de passagem para lugares mais convidativos e humanos).
Entende-se,
outrossim, que os refugiados prefiram os países maiores como a Alemanha, o
Reino Unido e a França, embora a Suécia e a Itália também tenham contigentes consideráveis.
A súbita
vinda desses infelizes sem dúvida coloca um problema ético e social para os
estados comunitários, que desfrutam de um nível de vida incomparável para seres
que são literalmente expulsos de seus lares e que partem para o desafio da
incógnita nas respectivas desistências. Encontrarão muitas sociedades em que
mingua a presença de crianças e adolescentes, e cresce o egoismo e o comodismo
das velhas gerações. Obviamente, as exceções, para conforto de poucos e, em
alguns felizes casos, de muitos, sempre existirão.
Esse
improvisado êxodo constitui decerto um desafio. Todos, no entanto, com
diferentes quotas de interesse, deverão dar o seu aporte. Mesmo o autoritário
Orbán deve comparecer, porque isentá-lo seria premiar o egoismo e, por que não,
a própria insensível boçalidade do regime.
( Fonte:
Folha de S. Paulo )
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