No seu último dia em Washington, Papa
Francisco pronunciou, em inglês, e por cinquenta minutos – e trinta
interrupções por aplausos - o esperado discurso perante o Congresso americano.
Recebido pelo republicano John Boehner, o Speaker da Câmara de Representantes, e católico praticante – em
cujo grande salão a sessão conjunta se realiza tradicionalmente – o primeiro
Pontífice romano a dirigir-se aos congressistas reunidos pronunciou alocução
franca e considerada contundente em certas passagens. A sessão repleta, teve a
co-presidência, como é praxe, do também católico Joe Biden que, como
Vice-Presidente, preside o Senado. O sucessor de Pedro foi acolhido aos gritos por diversos
congressistas. O seu modo simples e direto, e a grande simpatia, impressionaram
aos americanos, e muitos que se dizem afastados da comunhão religiosa podem
voltar ao aprisco. O problema talvez esteja na circunstância de que quem estiver
a esperá-los será o mesmo clero, com as características conhecidas.
O Santo Padre
não hesitou em versar temas sensíveis, ao defender a imigração. Assinalou que o
mundo vive uma crise de refugiados de “magnitude não vista desde a Segunda
Guerra Mundial”. No contexto, defendeu os imigrantes que vivem nos Estados
Unidos, lembrando que os povos do Continente não devem temer os estrangeiros, “porque
a maioria de nós foi estrangeiro um dia.”
Não temeu,
outrossim, adentrar no seu discurso o tema do aborto, que como se sabe é
prática legalizada e constitucional nos Estados Unidos por sentença do Supremo,
desde a década de setenta. A posição católica é conhecida e é próxima da
defendida por parte dos republicanos.
Mais adiante,
Francisco pediu a ‘abolição global da pena de morte’, que ainda é aplicada em
31 dos cinquenta estados americanos. Sua Santidade reportou-se de modo crítico
ao casamento homoafetivo, recentemente legalizado pela Suprema Corte. Fê-lo no
contexto da família: “Relacionamentos fundamentais estão sendo colocados em
questão, assim como as bases do casamento e da família. Eu apenas posso
reiterar a importância e, sobretudo, a riqueza e a beleza da vida familiar.”
A crítica à
indústria de armamentos e a falta de regras para preservar a população
constituíu outra parte forte de sua alocução: “Por que armas mortais estão
sendo vendidas para aqueles que planejam infligir sofrimento incalculável a
indivíduos e sociedade? Infelizmente, a resposta, como todos sabemos, é
simplesmente o dinheiro. Dinheiro que está encharcado de sangue, muitas vezes
sangue inocente. Diante deste silêncio vergonhoso e culpado, é nosso dever
confrontar o problema e por um termo ao
comércio de armas.”
Após o
discurso, Papa Francisco participou na
área central de Washington de um almoço para os sem-teto, na Igreja de Saint Patrick. Eram trezentos
convidados, todos moradores de rua e voluntários de instituições caritativas.
No fim da
tarde, o Papa viajou de Washington para New York, onde rezou oração na Catedral
de Saint Patrick, na Quinta Avenida. Foi
preparado um esquema de segurança especial, para ensejar o trajeto do
Papamóvel. Uma multidão se espremeu na área de passagem, e apareceram alguns
cartazes de protesto contra o Papa e a Igreja Católica.
Dentro da
Catedral, convidados ouviram o lamento
do Santo Padre pela morte dos peregrinos em Meca, e seu agradecimento pelo
trabalho de freiras e padres que “sofreram em um passado não muito distante por
terem que suportar a vergonha provocada por alguns irmãos.”
( Fontes: O Globo,
Folha de S. Paulo )
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