quarta-feira, 7 de novembro de 2018

Quê presidência Bolsonaro ?


                             

          Ora direis, as urnas falaram, e é necessário dar um tempo ao novo Presidente. O problema é que Sua Excelência nos desvenda um programa que não é apenas direitista, eis que semelha ansioso de negar a tônica da diplomacia brasileira, pensando trazê-la para outros campos que os herdeiros do Barão do Rio Branco - e não me refiro decerto àquela paralela conduzida por assessores petistas nos tempos de Dilma Rousseff e até mesmo Lula - mas sim à presença de grandes nomes - e tampouco me reporto decerto a nomes da dita carrière que estariam ávidos de sentar-se na cadeira de Rio Branco, carregados apenas pela ambição e eventuais menções da mídia.
             O problema é que Sua Excelência parece ter esquecido que cá houve um presidente de nome Jânio Quadros, que quebrou as paredes de vidro da diplomacia do alinhamento automático, e que trouxe um sopro de independência para a respeitada Casa de Rio Branco.
              E não se vá dizer que mestre Vasco Leitão da Cunha fosse alguém que desconhecesse a tradição da Casa...
              O Itamaraty, no entanto, não é o dos yes men, e sim uma instituição que merece respeito, enquanto a uma posição que não considere a nossa tradição diplomática como falta de imaginação.  Carece evitar os erros sobretudo aqueles advindos da crassa ignorância do governo de Dilma Rousseff, que chegou a tentar rasgar a tradição de Rio Branco de respeito ao traço das fronteiras, como ao mandar votar a favor do rape da Crimeia, em um misto de militante ignorância e de sanhuda vontade de agradar a gospodin Vladimir V. Putin - a ponto de que professores da Fundação Getúlio Vargas manisfestassem nas páginas de O Globo a devida preocupação diante dessa leviandade.
                As posições do Itamaraty não são decorrência de caprichos extemporâneos, nem da sede de ocupar posições para nelas melhor comprazer aos poderosos do dia.
                 Tampouco devemos estimular, tangidos pelo açodamento burocrático-ministerial, que como bem-comportados muares principiemos a aplaudir mudanças insensatas como o apoio a Jerusalém como capital de Israel. Depois de levantar a flâmula da independência na diplomacia - mas decerto com o tempero do saber e da prudência - não nos deixemos, por ignorância, tentar instrumentalizar, como se fosse algo descartável, as chamadas mudanças repentinas - sobretudo aquelas que vão contra uma longa tradição de liderança fundada em tratados e na diplomacia, e, em consequência, nunca   consentir a sermos levados por ideias cozidas pela metade, que podem aproveitar a país que é um verdadeiro pária internacional, mas que decerto não casam com a diplomacia de Alexandre de Gusmão e do próprio Barão do Rio Branco.  Não foi decerto por acaso que tanto a de quem desenhou o Tratado de Madrid (a ponto de que o texto de suas instruções  despertasse no negociador do Rei de Espanha a admiração que se deve ao saber não de oportunidade, mas fundado no trabalho e na leitura dos velhos mapas) tenha deixado aos pósteros esse grande, descomunal marco, que chegaria a desconhecer a tentativa posterior de desconhecê- lo. Eis que a sua obra foi tamanha que, a despeito das mudanças dinásticas, ela se firmaria nos séculos, como as raízes do carvalho que ignora as eventuais tempestades.
                     E eis aí, senhor presidente-eleito, está o que singulariza a diplomacia nacional, que nasce com Alexandre de Guzmão, moço de escrivaninha de Dom João V, Rei de Portugal. Por isso, Excelência, a diplomacia brasileira não está a reboque de ninguém, e daí o seu peso e a respectiva influência, que pouco ou nada tem a ver com os poderosos do dia. Ao invés, ela se abebera nos Tratados e se guia pela coerência, e jamais pela improvisação. Rio Branco não se tornaria o benemérito da Pátria e não venceria  tantas decisões territoriais e diplomáticas, que riscaram com o traço firme da legalidade e da chancela internacional as nossas longas, longuíssimas fronteiras, se fosse um sigisbeu e oportunista de plantão.  O Barão do Rio Branco é o nosso guia,  não pelas mesuras e eventuais agrados aos poderosos, mas pela dedicação ao estudo e pela própria competência, refletida em tantas decisões internacionais.
                      E tais características, senhor presidente-eleito, elas não se ganham através de mesuras e salamaleques, mas sim pelo estudo, e mais estudo, a que se associa a sua companheira experiência.
                       A diplomacia ela se forma e se estabelece pelas raízes deste estudo e pela decorrente experiência, que se funda e reflete no exame acurado dos precedentes e dos Tratados.    

                         A improvisação é uma planta que não cresce nos gabinetes de ideias fáceis, demasiado ansiosas para agradar aos poderosos do dia. O brasileiro Alexandre de Guzmão e o próprio Barão nos ensinam que não há soluções mágicas em diplomacia.  Por isso, esses grandes, colossais nomes, não os encontraremos naqueles que privilegiam a ação sobre a ponderação e o consequente estudo.

                          A posição do Brasil e do Itamaraty não é uma de oportunismo, mas de estudo (dos tratados e dos precedentes).  A pressa pouco tem a ver com a diplomacia. Sobretudo, a precipitação pode ser nociva, como, se me permite dizê-lo,  a aparente disposição de Vossa Excelência em acreditar num catecismo à la Donald Trump.  Não vejo nada de perene nas  estrondosas  e supostas modificações desse Senhor, que acaba de amargar a perda de maioria na Câmara dos Representantes.  
                            Nesses termos,  proclamar Jerusalém como capital de Israel é um erro, em que os prógonos da independência israelense (Ben Gourion, Golda Meir) jamais ousariam incorrer.  

                           Tais disposições açodadas nos lembram o destino de grandes poemas escritos à beira do mar...



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