terça-feira, 27 de novembro de 2018

O quê fazer do Brexit ?


                              
         Não se sabe o quê a aventura do Brexit trará para o povo da Inglaterra,  mas quanto ao exorbitante preço há poucas dúvidas.
           Agora que a festa acabou,  há que computar o exorbitante preço que aquele estranho plebiscito de um povo que optou por regredir irá trazer para a velha Álbion.
            Pois a aventura da Senhora May, ultimada no domingo, pelo menos no que tange à cúpula dos lideres que vieram despedir-se do filho pródigo,  está longe de terminar.
            Segundo análise do principal centro de estudos econômicos da velha Inglaterra, esse acordo do Brexit fechado entre a Primeira Ministra Theresa May e os líderes de 27 países da União Europeia que ficam irá custar a bagatela de cem bilhões de libras esterlinas, para a economia de Sua Majestade na próxima década.       
             Mas a par do preço, a análise acerca do Acordo sugere que a Grã-Bretanha, pelo capricho estival do Brexit terá perdido 3,9% em crescimento da própria economia - o que decerto não é pouco, pois equivale ao PIB do País de Gales.
                O desastre anunciado não se limita a tais previsões. É de notar-se que a economia  britânica tem desacelerado,  desde a aprovação do Brexit em 2016, de acordo com as  projeções feitas pelo instituto antes do referendo.
                  Ontem, 26 de novembro, a Primeira Ministro  informou, diante da Câmara dos Deputados, que o assunto deverá ser votado pelo Parlamento britânico no dia onze de dezembro. "Os deputados terão de decidir se desejam ou não que respondamos ao voto do Povo britânico, que decidiu pelo Brexit", declarou a May em um debate no Parlamento, onde tentou convencer os deputados a apoiarem seu acordo, que foi recebido com grande ceticismo.
                    Nesse sentido, a Primeira-Ministra de Sua Majestade Britânica começou intensa campanha para convencer os mais céticos  de que "não há melhor acordo possível". No entanto, uma fonte disse ontem que May admitiu, em Bruxelas, não ter maioria parlamentar para aprovar o pacto, mas advertiu aos deputados rebeldes que pelo menos metade deles corre o risco de perder as próximas eleições se o Acordo não for aprovado...
                       Segundo comenta o Economist, a prestigiosa revista inglesa, antes que o Acordo possa entrar em vigor, ele precisa ser aprovado por um grupo muito mais exigente (que os líderes da Comunidade Europeia):  o Parlamento Britânico.
                         A votação está marcada para o dia onze e os números são complicados para a Primeira Ministra.  Os trabalhistas e outros partidos de Oposição devem votar contra, conforme se espera.  Sem embargo, o que torna as coisas realmente difíceis é que talvez de setenta a oitenta dos parlamentares conservadores planejam se unir a eles, junto com os unionistas da Irlanda do Norte.  Se tais cômputos forem confirmados, o Acordo obviamente não será aprovado.
                                A Primeira Ministra  está fazendo o que pode - e quiçá o que não pode - para persuadi-los. Na semana passada, lançou ofensiva de relações públicas, dando entrevistas e respondendo a perguntas dos ouvintes de rádio sobre os termos do acordo. Também organizações empresariais se mostraram a favor, ainda que de maneira pouco entusiasmada. Os representantes dos partidos estão empregando, de sua parte,  todas as suas artes ocultas,  enquanto distribuem favores e ameaças aos deputados indecisos.
                                  Os dissidentes da linha dura estão indignados com o fato de que a Grã-Bretanha fará parte de uma união aduaneira com a UE, até nova ordem, para evitar a reintrodução de uma fronteira na Irlanda.  Os dissidentes preferem sair sem acordo do que com o apresentado pela Primeira Ministra, e, nesse sentido, esperam que votando contra alcancem esse resultado. O restante, contudo, ainda espera que toda a coisa possa ser  cancelada se o acordo de May for rejeitado.
                                    De forma embaraçosa para a May, os dois lados têm sua razão.  É tarde demais para renegociar novos acordos de saída da Grã-Bretanha, como o Labour afirma que faria. Então se o acordo não passar no Parlamento, a Grã-Bretanha pode acabar caindo no extremo de sair sem um acordo, ou então ter de realizar uma segunda votação para resolver a bagunça. Enquanto essas duas opções parecerem estar sobre a mesa, poucos deputados britânicos estarão dispostos a aceitar o compromisso da May.
                                   Há um velho ditado de um país longínquo da Inglaterra que poderia ter algum sentido para a barafunda em vias de formar-se que alguém que disponha de algum faro político se sentiria deveras arriscado a pronunciar o seguinte palpite:  se todas as manobras e saltos mortais de Theresa May forem para o brejo, não pareceria possível que toda essa confusão  do Brexit, solução impossível  aprontada em clima de vilegiatura, não seja despachada alhures, como foi o triste caso na estória de um filmeco francês de muitas décadas atrás - Une fille pour l´été  ?[1]  Não é que a garota desaparece, e tudo fica como dantes no quartel de Arantes ?

( Fontes:  O Estado de S. Paulo,  The Economist )
 


[1] Uma garota para o Verão

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