domingo, 25 de novembro de 2018

Na Sala de Espera do Sonho Americano


                 
       Vindos na maioria de Honduras,  cerca de três mil imigrantes pacientam em acampamento improvisado em centro esportivo de Tijuana, cidade mexicana na fronteira com o ambicionado destino dos Estados Unidos da América.
        Parte da espera é feita em barracas de camping, ou de cobertor, que servem de abrigo. Diante delas o gigantesco muro-símbolo, que explica duas coisas: a enorme diferença de renda entre América del Sur y Estados Unidos, que motiva a empresa; e a embutida trágica ironia da rejeição.
         A vista em si já é uma provocação: o enorme Muro de Trump pode ser o fim de uma viagem de quase dois meses de caravana.  O desespero foi o guia dessa insana caminhada.
          Como seria de prever, a tensão domina em atmosfera de cansaço, que a longa, interminável espera condiciona.  Neste sábado 24 de novembro, a Casa Branca fez um acordo com a equipe de López-Obrador, ainda presidente-eleito de México, para manter naquele país os migrantes que anseiam por refúgio em Estados Unidos, enquanto seus pedidos são analisados. O tal acordo contraria a muitas regras da cruel burocracia que lida com as vidas das pessoas, mas na emergência é aceito. Para Olga Sanchez Cordero, futura ministra de López Obrador, que afinal assume a 1º de dezembro, o entendimento com a Casa Branca é "uma solução para o curto prazo" (segundo o Washington Post). Se o mecânico hondurenho Ever Montes começa a pensar em voltar à terra natal, esta não é opção para o também hondurenho Edgardo Garcia. Veio com a mulher e três filhos."Tinha casa própria, carro, minha mecânica e um restaurante. Estou jurado de morte pelas duas gangues de lá", por não conseguir pagar o imposto de guerra exigido pelos criminosos.
          Dentre os trabalhadores que se moviam em busca de emprego, está o eletricista Robinson Sabillón, 25. Também o motiva a ânsia do trabalho, mas ele tem medo dos mexicanos e dos cartéis de droga. "Dizem que há muito sequestro aqui".  Aliás, nesse último fim de semana, centenas de moradores de Tijuana protestaram contra a chegada dos imigrantes.

(Extraído da reportagem de Fernanda Ezabella,  da Folha de S. Paulo)

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