Não se sabe o quê a aventura do Brexit
trará para o povo da Inglaterra, mas quanto
ao exorbitante preço há poucas dúvidas.
Agora que a festa acabou, há que
computar o exorbitante preço que aquele estranho plebiscito de um povo que
optou por regredir irá trazer para a velha Álbion.
Pois a aventura da Senhora May, ultimada no domingo, pelo menos no que
tange à cúpula dos lideres que vieram despedir-se do filho pródigo, está longe de terminar.
Segundo análise do principal centro de estudos econômicos da velha
Inglaterra, esse acordo do Brexit
fechado entre a Primeira Ministra Theresa May e os líderes de 27 países da
União Europeia que ficam irá custar a bagatela de cem bilhões de libras esterlinas, para a economia de Sua Majestade
na próxima década.
Mas
a par do preço, a análise acerca do Acordo sugere que a Grã-Bretanha, pelo
capricho estival do Brexit terá
perdido 3,9% em crescimento da própria economia - o que decerto não é pouco,
pois equivale ao PIB do País de Gales.
O desastre anunciado não se limita a tais previsões. É de notar-se que a
economia britânica tem
desacelerado, desde a aprovação do Brexit em 2016, de acordo com as projeções feitas pelo instituto antes do
referendo.
Ontem, 26 de novembro, a Primeira Ministro informou, diante da Câmara dos Deputados, que
o assunto deverá ser votado pelo Parlamento britânico no dia onze de dezembro.
"Os deputados terão de decidir se desejam ou não que respondamos ao voto
do Povo britânico, que decidiu pelo Brexit", declarou a May em um debate
no Parlamento, onde tentou convencer os deputados a apoiarem seu acordo, que
foi recebido com grande ceticismo.
Nesse sentido, a Primeira-Ministra de Sua Majestade Britânica começou
intensa campanha para convencer os mais céticos
de que "não há melhor acordo possível". No entanto, uma fonte
disse ontem que May admitiu, em Bruxelas, não ter maioria parlamentar para
aprovar o pacto, mas advertiu aos deputados rebeldes que pelo menos metade
deles corre o risco de perder as próximas eleições se o Acordo não for
aprovado...
Segundo comenta o Economist, a prestigiosa revista
inglesa, antes que o Acordo possa entrar em vigor, ele precisa ser aprovado por
um grupo muito mais exigente (que os líderes da Comunidade Europeia): o Parlamento Britânico.
A votação está marcada
para o dia onze e os números são complicados para a Primeira Ministra. Os trabalhistas e outros partidos de Oposição
devem votar contra, conforme se espera.
Sem embargo, o que torna as coisas realmente difíceis é que talvez de
setenta a oitenta dos parlamentares conservadores planejam se unir a eles,
junto com os unionistas da Irlanda do Norte.
Se tais cômputos forem confirmados, o Acordo obviamente não será
aprovado.
A Primeira
Ministra está fazendo o que pode - e
quiçá o que não pode - para persuadi-los. Na semana passada, lançou ofensiva de
relações públicas, dando entrevistas e respondendo a perguntas dos ouvintes de
rádio sobre os termos do acordo. Também organizações empresariais se mostraram
a favor, ainda que de maneira pouco entusiasmada. Os representantes dos
partidos estão empregando, de sua parte,
todas as suas artes ocultas,
enquanto distribuem favores e ameaças aos deputados indecisos.
Os
dissidentes da linha dura estão indignados com o fato de que a Grã-Bretanha
fará parte de uma união aduaneira com a UE, até nova ordem, para evitar a
reintrodução de uma fronteira na Irlanda.
Os dissidentes preferem sair sem acordo do que com o apresentado pela
Primeira Ministra, e, nesse sentido, esperam que votando contra alcancem esse
resultado. O restante, contudo, ainda espera que toda a coisa possa ser cancelada se o acordo de May for rejeitado.
De forma
embaraçosa para a May, os dois lados têm sua razão. É tarde demais para renegociar novos acordos
de saída da Grã-Bretanha, como o Labour
afirma que faria. Então se o acordo não passar no Parlamento, a Grã-Bretanha
pode acabar caindo no extremo de sair sem um acordo, ou então ter de realizar
uma segunda votação para resolver a bagunça. Enquanto essas duas opções
parecerem estar sobre a mesa, poucos deputados britânicos estarão dispostos a
aceitar o compromisso da May.
Há
um velho ditado de um país longínquo da Inglaterra que poderia ter algum
sentido para a barafunda em vias de formar-se que alguém que disponha de algum
faro político se sentiria deveras arriscado a pronunciar o seguinte
palpite: se todas as manobras e saltos
mortais de Theresa May forem para o
brejo, não pareceria possível que toda essa confusão do Brexit,
solução impossível aprontada em clima de
vilegiatura, não seja despachada alhures, como foi o triste caso na estória de
um filmeco francês de muitas décadas atrás - Une fille pour l´été ? Não é que a garota desaparece, e tudo fica
como dantes no quartel de Arantes ?
(
Fontes: O Estado de S. Paulo, The Economist )