segunda-feira, 2 de abril de 2018

Pode-se levar Trump a sério ?


                                       

        Colocado na Presidência por estranho capricho do destino, talvez caiba a pergunta por que este blog insista tanto em levantar a sorte madrasta ou a má-fé enquistada, como explicação para o desastroso governo de Donald Trump.
         Mais escreva sobre esse acidente da História, mais me convenço da inutilidade da prática.
          O caráter errático e, não obstante, voluntarista desta presidência enche o futuro de interrogações que só serão resolvidas ou pelo decurso de prazo, ou por eventos que estejam fora da perspectiva de uma opinião pública cada vez mais atônita e desesperançada.
          A sequência de exonerações e de mudanças radicais de política, só tende a encher o público daquilo que o italiano denomina de sgomento[1]. O que se pode fazer diante de uma situação anormal na política, causada por defeitos radicais em personalidade dirigente, que parece privilegiar a imprevisibilidade e a ausência da constância lógica?
           O presidencialismo americano, criado por constituintes do século XVIII, já confrontou muitas crises, e a resposta do sistema tem sido até o presente satisfatória.
           Mas poder-se-ía dizer o mesmo com relação ao atual morador da Casa Branca ?
           De um governo morno, a que o eleitorado vira com uma certa disposição favorável, que se manteve nos médios diapasões, eis que se passa de súbito - embora não lhe tenha faltado o sobreaviso - para outro que substitui a falta de planos por imanente sensação de inelutável mediocridade, os Estados Unidos se arrastam contrafeitos para mais uma consulta popular, ainda que nela exista uma sensação de passagem, de provisório, tudo  isso trazendo no seu bojo quem sabe uma insinuação de mudança, posto que desajeitada e incompleta?
            O Povo americano não encontra nas eleições intermediárias quem sabe so-luções dramáticas e definitivas, mas não se pode excluir que o desacerto presente venha a causar reações inesperadas, ainda que previstas por tanta gente a ponto de escolher momentos intermediários para a postagem de recados raivosos e muita vez ríspidos.
             Recordo-me do desastroso biênio inicial da presidência Obama, que, com-parado com o presente, semelha brincadeira de criança. Na realidade, o novato inexperiente - e me perdoem, por necessário, o pleonasmo - Barack Obama se refugiou nos seminários acadêmicos da Casa Branca discutindo disso e daquilo, enquanto a realidade estadunidense fervia com os irmãos  Charles e David Koch  e associados na gestação do Tea Party - movimento de raivosa quase extrema-direita, que iria conjuminar o monstro que daria à luz o gerrymander oportunista do censo de então, e as consequências de longa e lástimável duração do controle pelo GOP da Casa de Representantes.
                A confusão e a travessia pelos caminhos da desrazão do governo Donald Trump - e basta atentar para as insanas mudanças da "equipe" da Casa Branca - constituem sem dúvida uma razão para o impeachment.  Considerar o DACA como morto  mostra uma postura lamentável, pois os imigrantes abrangidos pelo tópico fazem por merecer melhor sorte.  Talvez Obama se haja comportado de maneira pouco realista, como se o problema pudesse ser resolvido pelas próprias características do ingresso do grupo nos Estados Unidos. Não me parece, de resto, que a liderança democrática no Senado se haja caracterizado por grande ativismo na matéria, agindo talvez como se os dreamers  tivessem assegurada a própria condição legal pela sua óbvia inocência na questão.
                   É o velho deixa estar para ver como é que fica, que não se acha apenas nos Estados Unidos da América. Pareceu-me, por isso, que a liderança democrata no Senado pecou na matéria por falta de empenho. Mas o adágio na política nos ensina que não há nada impossível nessa questão, por ser manifestamente justo o seu ingresso nos EUA e não pela porta dos fundos.
                    O que me impressiona em Trump é o caráter errático do próprio governo. Se segundo o sábio do Alvorada, nada é previsível no Subdesenvolvimento, será que, por apossar-se de métodos não consuetos no mundo desenvolvido, o atual 45º presidente traz para a Casa Branca uma perspectiva que cria o imprevisto pelo imprevisto, sem preocupar-se com a existência ou não de condições de um mínimo de coerência no seu programa de ação, se acaso dispõe de um, em condições de implementação.
(Fontes: Elizabeth Drew; The New York Times)


[1] palavra italiana que o Zingarelli define:  estado de turbação, depressão, causado por eventos externos.

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