domingo, 8 de abril de 2018

Ainda a Prisão de Lula


                                           

           Conduzido por anacrônico avião, que levou mais de hora para transportar Lula da pista de Congonhas para a do aeroporto Afonso Pena, em Curitiba, muitos terão engolido em seco ao serem informados pelas locutoras da Globo que se tratava de  monomotor, que voava, como antigamente, com o trem de aterrissagem  à mostra, e não recolhido, como usam as aeronaves modernosas.
            Não é só pelos presos que transporta, mas também pela própria tripulação da Polícia Federal, que faria por merecer substituição por outra aeronave que aproxime passageiros e policiais por um transporte mais moderno e que, por conseguinte, inspire mais segurança tanto aos infelizes que carrega para o xilindró, quanto ao pessoal da Federal (inclusive o nosso conhecido Japa da Federal, cuja presença teria sido vetada pela entourage, do ex-presidente).
            Como o leitor desse modesto blog já terá percebido seu autor não é um partidário enragé do ex-presidente Lula, mas tal não equivale a dizer que no seu modesto mister tenha outro compromisso que não seja com a verdade.
           Por isso, a posteriori folguei com o meu longo e voluntário plantão diante da televisão. Apesar de as câmeras e os locutores pertencerem à Rede Globo, pude verificar que, enquanto a cobertura do magno evento tenha tido uma característica fleuve, vale dizer as câmeras tudo (ou quase tudo) retratavam e filmavam, o que decerto ajuda a termos um quadro da realidade.  E com o passar das horas, querendo ou não, muita coisa vai caindo na metafórica rede do telespectador, que é, por vezes, recompensado na própria paciência em lograr captar, aqui e ali, alguma informação que, em geral, tende a desaparecer nas apressadas redes da compressão dos informes televisivos.
             Pode ser labuta de beneditina paciência, mas sempre algum enquadramento ou disparatada visão das câmeras - ou eventual comentário de algum jornalista de passagem ou não - tudo isso pode cair na tua, por vezes cansada, por vezes um pouco mais espevitada guarda - e quem sabe vá virar farinha na episódica moedura que, quase sempre devagar, nos vai ajudando a melhor entender essa por vezes confusa, e por outras algo estranhamente distinta,  de o que dona informação tanto se empenha, seja de maneira sinuosa, seja com a suavidade do paralelepípedo,  em informar-nos ou até doutrinar-nos.
               Será que sentar-se diante da tevê é modo recente de deformação da realidade, como que para alimentar a própria suspeita de plano geral de ludibriar o grande público, no que pareceria um sinistro projeto de mórbida interpretação da realidade, como sofrem os acometidos de paranoia?  Não me parece o caso, embora os armados da necessária paciência - como o atento minerador a escrutinar a sua velha peneira à cata de alguma especial pedra que possa modificar-lhe a existência dura e sofrida - podem colher prêmios inesperados, pelos voice over de já uns  cansados repórteres televisivos.
                  Daí que a imersão na verdade - ou na aparente modorrenta rotina do operador televisivo -  pode ajudar o eventual cansado telespectador a colher aqui e ali, quase sem dar-se conta, uma pedrinha da observação que poderá - quem sabe? - ajudar-te a cotejar com alguma outra informação, essa demasiado burilada nas oficinas do faz-de-conta, para que te regalem com algo que brilha um tanto mais, e de certa maneira - se tens a mente alerta e não sejas estranho aos quebra-cabeças - poderás até intuir que tens em mão qualquer coisa de concreto, que discrepa do leit-motif que a grande imprensa quer ou impingir-te, ou, de algum modo, abalar-te a própria segurança.
                  Ao cabo dessa ingente e por tantas vezes improfícua busca, alguém que quer saber, e se vê ao cabo tangido a reservar a própria opinião, qual deverá ser a sua postura:  ou investir, como novo dom Quixote, a lança em riste contra os ameaçadores gigantes - que na verdade eram moinhos - ou então, diante do circo amedrontado, exigir, como o fez o Cavaleiro da triste figura,  que abrissem, e de imediato, o cadeado com que encerravam na jaula o pobre Leão - no que o magro cavaleiro acaba  prevalecendo, a despeito da resistência encarniçada de quem tinha o molho de chaves.  E a despeito do terror dos guardas e do fremir das gentes, não é que o Leão se levanta lentamente, fareja o entorno das grades abertas, e ao cabo, se deixa cair junto das leoas, como se cruzar o portão da liberdade não fosse agora a melhor solução?

( Fontes: Rede Globo;  Dom Quixote, de Miguel de Cervantes )  
A

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