sábado, 7 de abril de 2018

O Sete de Abril de Lula


                                  

          Mais uma vez o esquema pós-condenação do ex-presidente Lula não pôde seguir à risca a programação prevista e, notadamente, a sua prisão, já acertada entre as Partes.
          Na tarde de hoje,  sua ida para Curitiba,  acordada com o Juiz Sérgio Moro e a Polícia Federal, sofreria um atraso devido, sobretudo, à resistência da militância em que o chefe do Partido dos Trabalhadores deixasse no horário previsto - por volta das três da tarde - São Bernardo do Campo no seu caminho para a prisão em Curitiba.
          Surpreendentemente, os militantes petistas prepararam de forma autônoma, e à revelia de Lula, uma ação ampla e com a força - que decerto não se encontrará em outros movimentos políticos - que refletia, melhor do que qualquer elogio partido dos seus antigos camaradas, o quanto lhe valorizam a liderança a ponto de descumprir-lhe a ordem e a respectiva disposição de seguir a determinação da sentença prolatada pelo Juiz Sérgio Moro.
          Dando prova da paixão - é o termo adequado - que lhe devotam, a qual será  diferente da postura de muitos oportunistas que acorrem nas ocasiões principais que marcam a sua liderança no PT, a militância tudo fez - e como de pronto se comprovaria, sem qualquer participação de Lula - para inviabilizar a partida do chefe político e partidário para a prisão em Curitiba. Com a ajuda das vielas que cercam a sede da mater do Partido - o sindicato em São Bernardo do Campo -  seus companheiros escreveriam proezas que são inimagináveis nos demais partidos brasileiros. Sem rebuços, os militantes mostraram o quanto sentem a importância  da liderança do companheiro e chefe.
         Tudo fizeram para tentar impedir a partida do ex-presidente no horário marcado da Sede do Sindicato dos Metalúrgicos. Lula já havia embarcado no carro que o levaria ao aeroporto de Congonhas, onde o esperava o avião da Polícia Federal para conduzi-lo ao Paraná, mas foi literalmente impossibilitado de seguir adiante, porque a militância petista cercou a sua viatura nas vielas em torno da sede sindical, de maneira a impossibilitar-lhe a saída de São Bernardo do Campo. Escreveram eles, companheiros anônimos, uma página que não se encontrará em jornal ou crônica.  Não só no Brasil, Lula não poderia receber uma demonstração mais intensa e genuína de o que significa a sua liderança para aqueles companheiros que se prodigaram em retê-lo, não por ordens de qualquer graúdo, mas por um impulso que vinha da admiração, do apreço e de uma reação que evidenciava o quanto o admiram e estimam a ponto de contrariá-lo na própria determinação de entregar-se à magistratura.
          Ao partirem para aquela desobediência à autoridade judiciária, sem decerto querer imiscuir-me no que significa tal atitude, só pensei em que os companheiros metalúrgicos e petistas de Lula estavam expressando, na sua forma própria, o maior elogio que o ex-presidente e, sobretudo, o chefe partidário poderia pensar pudesse receber naquele momento especialmente difícil para ele.
         Dada a liderança de Lula, os seus companheiros de motu proprio, muito provavelmente de forma de todo espontânea, escreveram em linhas tortas, até que ponto pensam possível traduzir no próprio comportamento a sua admiração pelo primeiro presidente operário do Brasil.
         Essa atitude dos partidários petistas reflete o grande respeito que a militância do Partido dos Trabalhadores tem por Luis Inácio Lula da Silva. Em verdade, devoção seria a palavra mais adequada, o que mostra a força da liderança de Lula, na medida em que chegaram a contrariá-lo na sua própria disposição, um fenômeno que mais poderia ser descrito por devoção, cuja pujança leva o militante a dizer não ao chefe, pensando que assim o protege mesmo contra a sua expressa vontade.

( Fonte:  cobertura pela Rede Globo )

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