segunda-feira, 9 de abril de 2018

Orbán e os dinossauros da direita


                                   

           À Hungria, desde o esfacelamento do Império Austro-Húngaro, uma das consequências da Primeira Guerra Mundial, estaria reservada, durante o hiato da Segunda Guerra, a permanência sob o domínio alemão, e com a derrota do Reich nazista, a participação forçada na área sob a suzerania soviética, até a dissolução causada pelo desaparecimento da URSS, no princípio da última década do século XX.
              Muitos desses pequenos países se associaram à entidade econômica e política constituída pela antiga CEE, e hoje formam a União Européia. Até o presente, Bruxelas representa um gigante econômico, mas é ainda, no seu conjunto, um não tão desenvolto ator político.
               Nesse aspecto, a Hungria constituía uma das partes da monarquia dual, com o crescimento do poder político de Viena, após o período das guerras napoleônicas, e a fugaz duração da hegemonia da França, com a derrota decisiva de Napoleão em 1815. O desaparecimento da monarquia dual, de que Budapeste e a Hungria representavam a parte agrícola do império dos Habsburgo, é a consequência político-territorial do grande desastre civilizacional iniciado pelo assassínio em Sarajevo, do herdeiro da coroa austríaca e de sua consorte, pelo terrorista sérvio Gavrilo Princip, em catorze de junho de 1914.
               Quando a Hungria postulou o seu ingresso em Bruxelas, ora sede da Comunidade Econômica Europeia, já viera bastante tosquiada, sobretudo em função da Grande Guerra, e das consequentes duras condições que costumam ser impostas pelas potências vencedoras às perdedoras, e também pela grande convulsão da Segunda Guerra Mundial.
                A Hungria, no carrossel dos séculos, caíu muita vez no lado dos vencidos da História, e todos sabemos o que isto significa, desde a Roma arcaica, com a frase do gaulês Breno aos Romanos - Vae victis[1]! Tal destino coube amiúde ao Reino da Hungria, e por isso se entende que haja encolhido ao longo das eras políticas.
                 É dentro desse quadro histórico que surge a liderança de Viktor Orbán para um provável terceiro mandato com super maioria no Parlamento. O regime autoritário instaurado, com os poderes especiais concedidos por tal maioria de dois terços no congresso húngaro, vige desde 2010, sendo confirmado em 2014 e agora, segundo as projeções, também alcançado em 2018.                                 
                  Segundo a avaliação do cientista político alemão Hajo Funke, da Universidade Livre de Berlin, o primeiro-ministro Orbán será o maior desafio para a União Europeia no próximo quadriênio.
                   Perguntado sobre as perspectivas políticas,  o professor Funke,  considerou que "Orbán será o maior desafio  para a U.E. , porque tem mostrado não ter nenhum escrúpulo diplomático ao criticar o bloco.  Além disso, ele será ainda mais o Cavalo de Troia do Kremlin na União Europeia."

                    A entrevistadora Graça Magalhães-Ruether referiu  que " a jornalista Anna Frenyo disse que a Hungria é criticada, mas faz o trabalho sujo da Europa ao fechar a rota dos refugiados com uma cerca. O Fidesz (partido de Orbán) integra a mesma bancada de Angela Merkel" (no parlamento europeu de Estrasburgo) "A distância entre os dois não é, então, tão grande?".

                     A que o entrevistado Hajo Funke respondeu: "Não concordo. A cerca foi alvo de muitas críticas. E a Hungria teve a sua participação no caos  de  2015, pois não tomou nenhuma medida para ajudar ou organizar o movimento dos refugiados. Orbán deixou a situação escalar de forma dramática. (Angela) Merkel é uma crítica de Orbán, embora o seu partido (CDU) faça parte do mesmo grupo no Parlamento Europeu."


( Fontes:  O Globo (Partido Xenófobo vence com folga na Hungria); July 1914, Sean McMeekin;  "Os Sonâmbulos - como a Europa entrou em guerra em 1914 ", por Christopher Clark ) (ambos os livros são de 2013).


[1]  Ai dos vencidos!

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