quinta-feira, 26 de abril de 2018

O desastre Cameron


               

          O Brexit surge e continua como o slogan vazio, que acena  para a inexistente saída fácil.  De que e para quê o Reino Unido - no caso, sob gabinete raso e falto de imaginação, que David Cameron presidiu -  não trepida em convocar às pressas, como se estivesse lidando com problema menor,  o insano projeto que tenta lançar no ferro velho a concepção da União Europeia.
          O pequeno líder, através da pífia jogada, pôs a perder o sonho de mais de uma geração, que pensara não ser ainda demasiado tarde - uma vez afastado o obstáculo do veto  de De Gaulle - lograr por fim o colimado objetivo de integrar a velha Inglaterra ao Continente, concretizando  a realidade da União Européia. 
          O projeto que consumira décadas para ser realizado -  predecessores seus que sentiram fundo o quão a pequena ilha de Britannia carecia  de assumir e integrar-se à velha Europa -  de súbito, e com comovente falta de imaginação quanto ao significado de grandioso projeto  - o soberbo Cameron põe a perder o ideal  dessa integração. Com a penada do inútil plebiscito - de que vale pôr um projeto que avança em risco ?  -  o arrogante e imprudente David Cameron se lança na  corrida de lemingues, em que o abismo de imprevisibilidade se substitui ao forjar, decerto gradual  mas seguro, de uma nova geração anglo-europeia.
           O anti-ideal está personificado na imagem do pequeno líder, que por não ter grandeza, convive com muito afano e dificuldade com o desafio de projetos de alcance continental. Difícil entender tal anti-ideia que é a encarnação da recusa e da volta aos velhos tempos que se nega ao desafio diante da civilização europeia, como se esta fosse um corpo estranho. Essa volta ao passado feita às pressas  e com a irresponsabilidade de ignorar  o trabalho de muitos lustros não se resolve com os truques baratos de slogans como esse do brexit.  O que fazer da saída da Comunidade Europeia diante desse erro? 
            Theresa May  ouve calada  de Barnier, o principal negociador da U.E., que, em termos de comércio, o Reino Unido depende mais do comércio do que o restante da U.E...
            Tampouco é fácil de entender que Londres se empenhe tanto em manter para a City o pleno acesso ao Mercado Único,  se na jogada irresponsável do brexit - enleados por uma ideia vazia -     tenham votado abraçar o falso enigma, que ao fim de contas lhes promete o que a velha Londres já tinha...  
               Lançar-se a loucas aventuras promete aos lemingues o desastre, ou a humilhação inútil que persegue aos tolos por terem enjeitado o que já possuíam.
             Ou o futuro dos medíocres e de seus companheiros imprudentes é conviver com o próprio erro, e sentir no abraço do cotidiano a sua gélida extensão.
                 Reinventar a roda nunca foi um bom projeto.

( Fonte:  The Independent )

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