segunda-feira, 20 de fevereiro de 2017

Trump seria só um palhaço ?

                              

          Cresce a convicção na mídia de que o Governo Trump seria uma mixórdia de incompetentes, como se terá visto na questão do Assessor de Segurança Nacional, Mr  Michael Flynn, que mentiu para o Vice-Presidente Pence. Por isso, foi afastado.
          No entanto, não se deve subestimar a capacidade da Administração Trump, como se fora associação de medíocres e incapazes.
          Há uma operação em curso que, em meio à aparente bagunça e medidas disparatadas, se propõe realizar uma virada de direita para valer.
          O Governo Trump pode dar a impressão de ser trapalhão e mesmo incapaz. No entanto, não se deve esquecer que, se Donald Trump não é apenas o candidato do verão - como muitos de seus adversários o rotularam, pensando logo poder descartá-lo, aqueles mesmos, que hoje amargam o isolamento da derrota - mas alguém que dispõe de aliados fortes, de partido estruturado (e com maioria nas duas Câmaras), e que, malgrado o próprio histrionismo, não é o paspalhão que se esforça em parecer. 
           Desmerecer de tal adversário é fazer exatamente o que ele quer. Os suecos riem do atentado terrorista - que nunca existiu - mencionado por Trump em Orlando. Há vários, por ele citados, que são reais. Mas o 45º presidente não tem problema em agregar outros, mesmo que sejam produto de confusões mentais. No entanto, o que lhe importa é manter viva a idéia da periculosidade do estrangeiro.
            Os governos, como o de Donald Trump, que é construído com base no repúdio ao estrangeiro e que afirmam defender a classe trabalhadora com baixo nível de educação (e a enganam com as ilusões de remontar as indústrias do cinturão da ferrugem) têm interesse em manipular o proletariado nacional de baixa escolaridade, porque são mais acessíveis às idéias enganosas, mas de encantadora simplicidade, da direita.
            No seu discurso de Orlando, na Flórida, Trump alinhou alegremente, a par as tragédias de Paris, Bruxelas e Nice, dentro de sua versão do terrorismo estrangeiro, mais uma ou duas, de pouca ou nenhuma consistência, como a alusão à Suécia e também à Alemanha.
              O que parece escapar à mídia - intenta em carimbá-lo como personagem ridículo, como todo paspalhão - é que Trump não  é o tolo que aparenta. Ele pode não ter o gênio de Glauber Rocha - com a sua câmera na mão e uma idéia na cabeça - mas o seu propósito de demonizar o estrangeiro, aquele que vem de fora, uma idéia infelizmente tão entranhada na história do bicho homem, aí está, espalhafatosamente presente.
                E para que demonizar o pobre do estrangeiro? Pela simples razão de quem vem de fora, tende não só a ser diferente. Além disso, por maior que seja o seu número, ele estará sempre em desvantagem. Ele não é do lugar, pode ser até diferente, e por isso através das idades do homem, o estrangeiro, o estranho, o emboaba, além de vir de fora, traz costumes diversos, língua diferente, até estranha, e por isso tende a ser visto como ameaça.  É difícil encontrar político que tenha a coragem de Angela Merkel. Os refugiados sírios encontram mais amiúde políticos como o Primeiro Ministro da Hungria, Viktor Orban, aquele que os repele como se fossem pesteados, com  milícia e  cercas de arame farpado.
                Por isso, o caminho fácil parecerá sempre o da direita. E vejam à própria volta, não só o Presidente Trump, que construiu a sua imagem de patriota americano lançando a suspeita sobre o mexicano, aquele que disse veio para a América para violentar a americana, ou então furtar do americano trabalhador, tirando-lhe o emprego.
               Esta é a construção do discurso do ódio e do medo, que essencialmente constitui a mensagem que a direita se empenha em difundir. Tal enganosa simplicidade não engana ninguém. Na verdade, Trump é um homem de uma nota só.
                Carece de uma muralha para afastar esse bicho-papão, que é o estrangeiro. Segundo Trump, esse muro é preciso para preservar a mulher americana do estuprador mexicano. Essa imagem saída da cabeça desse grande demagogo, serviu para demonizar um país vizinho. Para afastá-lo, ele carece de um muro! Em toda a história da Humanidade, essa inutilidade se repete! Olhem para o império romano, olhem para a China e agora, para os Estados Unidos!
                  Já se lêem as notícias das medidas tomadas pela Administração Trump para afastar os perigosos estrangeiros, quando na verdade eles são apenas uma peça em enorme engrenagem voltada para o bem-estar da comunidade americana. Muitos deles já estão integrados. Ninguém  sai  da sua terra por prazer. Eles lá estão  para atender as necessidades do Povo americano, e porque querem melhorar de vida !


( Fontes: Arnold Toynbee, A Study of History; Glauber Rocha) 

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