sábado, 18 de fevereiro de 2017

Trump ataca a imprensa

                              

       Como todo governante confuso e crescentemente encurralado pela própria incapacidade administrativa,  Donald John Trump não será exceção à regra, ao partir para o ataque, como se fora um touro enraivecido,  diante dos passes rápidos dos picadores e da montante solitude, em face de uma tourada com a imprensa e a opinião pública, que em vez de evoluir, começa a involuir de modo preocupante, para quem se julga como hábil orquestrador dos meios de comunicação.

      No entanto, no seu cafonismo de ricaço, Trump traz de volta, de certa forma, as maneiras e os gostos daquela época, na transição para o século XX, que Mark Twain chamaria de 'gilded age'. Os Estados Unidos da América chegavam estrepitosamente à riqueza dos grandes industriais, dos donos das ferrovias, com a sua cafonice, desperdicio de dinheiro e a arrogância dos novos ricos. Toda essa gente, com gostos duvidosos - não é à toa que ele a chama de 'gilded age' - o ouro que, na verdade, não é ouro - onde comparecem as grandes famílias enriquecidas com os "robber barons",  os barões ladrões dos Rockefeller (Standard Oil), Carnegie (Aço) Andrew Mellon  (finanças, petróleo), Andrew Carnegie (aço), John Jacob Astor (bens imobiliários, peles), Henry Clay Frick (Aço),J.P. Morgan (finanças, indústrias) e James Fisk (finanças). 
         Há 27 grandes empresários dessa belle époque que perfazem a lista dos chamados barões ladrões, e que formam a riqueza desses novos elementos, enriquecidos pelo petróleo, as vias férreas, a indústria (grandes usinas de aço em Pittsburgh), em que encontramos descendentes de grandes famílias e de novos ricos, todos eles com o vigor, o ímpeto, os modos imperiais dos que formaram grandes famílias, cresceram em riquezas ilimitadas, mas também os que desapareceriam pelo caminho, guardando da antiga riqueza apenas os ares imperiais e a arrogância dos que foram grandes capitalistas.
            De certo modo, Trump é um egresso longínquo dessa época bulhenta e buliçosa, em que a arrogância, a falta de cultura e a vulgaridade estão presentes.
                Há muitas suspicácias sobre os fundos dos Trump.  E as dúvidas maiores se vão delineando com mais força. O Prêmio Nobel  Paul Krugman, em sua coluna no New York Times versa questões de grande relevância.
                 Por enquanto - e grifem este por enquanto - não há crise constitucional. Não se pode negar, contudo, que Donald Trump terá pela frente com grande probabilidade  crise de legitimidade. A sua derrota no voto popular já foi suspeita, se levarmos em conta a intervenção de último minuto (bem no momento reservado ao voto antecipado dos eleitores) do diretor do FBI, o republicano James B. Comey, em contrário à candidata democrata, Hillary Clinton.
                  Como assinala Krugman, agora se sabe muito mais. Enquanto o FBI, através de seu diretor, transmitia a falsa impressão de escândalo em torno da candidata democrata, ele, James Comey se sentou sobre provas que apontavam, de forma alarmante, para estreitas relações  entre a campanha de Mr Trump e a Rússia de Putin.  Entrementes, cabe a pergunta: o que fazia Barack Obama, nos seus derradeiros dias de presidência? Nenhuma preocupação em controlar a própria Administração, nem a James Comey, que em momento de rara infelicidade ele nomeara para chefiar o Federal Bureau of Investigations?
                   A fortiori, nada que Trump haja feito depois de sua miraculosa eleição, poderá afastar que se adensem e se avolumem  os temores de que, na verdade,  o republicano não passe de fantoche do ditador de todas as Rússias,  Vladimir V. Putin.
                   Que autoridade teria um líder como Donald John Trump - sobre o qual tantas suspicácias de colusão e mesmo de sujeição a um inimigo dos Estados Unidos, gospodin Vladimir V. Putin - para mandar soldados americanos para a guerra, assim como que terá o direito de moldar a Corte Suprema por uma geração?
                     Paul Krugman sugere que  investigação ampla, bipartidária e sem quaisquer limites poderia determinar a real situação. Mas os republicanos neste Congresso que têm o poder de realizar esta devassa, não querem nem saber.
                     No entanto,  Krugman ainda crê possível que a minoria democrata se associe a alguns republicanos, que queiram fazer causa comum pela pátria americana, para chegar até a verdade.
                      Sem embargo, os tempos mudaram. A aliança entre democratas e republicanos, que fora possível no tempo de Watergate,  agora parece longínqua, longe do alcance do Congresso.
                     Antes, essa união pelos Estados Unidos tornara exequivel  o impeachment de Richard Nixon. E, no entanto, o escândalo hoje possível é muito mais grave do que Watergate. Por mais tenebroso e sinistro que fosse Nixon, não se consegue imaginá-lo tomando ordens de um autocrata estrangeiro.
                      Segundo Krugman,  é bastante difícil conceber hoje os Republicanos se levantando em defesa da Constituição, como seus distantes antecessores o fizeram.

                        O que aconteceu entre-tempos?  Não é porque, como afirma Krugman, existam mais anões morais no Congresso, embora tal também corresponda à realidade.  Watergate aconteceu  antes que o GOP começasse a sua longa marcha para a direita. Então havia muito menos polarização no Congresso do que agora. E por isso menor antagonismo e mais acordo  entre os dois partidos sobre postulações econômicas basicas, e muita concordância ideológica. Por isso, os republicanos não viam em perigo a manutenção da própria agenda partidária se eles tivessem de livrar-se de um presidente que não respeitasse a lei.

                            Também a polarização do eleitorado  prejudica o papel de um Congresso em condições de controlar de modo efetivo o Presidente em funções. Além do gerrymander na Câmara, que a torna - ainda que ilegalmente - um bastião do GOP,  o medo por ora dos deputados republicanos  - até que essa estrutura ilegal seja desfeita - se resume a serem contestados pelo Tea Party, ou seja a ultra-direita, incentivada pelos irmãos petroleiros Koch.

                             A América sempre se caracterizou pelos vigilantes da liberdade. Até o momento, ainda não apareceram, e a crise constitucional não surgiu por ora.  A frágil esperança, por ora,  é que um punhado de legisladores republicanos  queira fazer causa comum com os democratas, para salvar a pátria em perigo.  Seria um punhado de pessoas decididas a rasgar os véus que ocultam a verdade.  Para isso, é indispensável a causa comum com os democratas para exigir que a verdade, seja ela qual for, enfim surja.
                                Mas será que esses patriotas republicanos existem? E para Krugman - e não só para ele - eis-nos diante de um problema que é ainda mais terrível do que o eixo Trump - Putin.



( Fontes: artigo de  Paul Krugman; the  New York Times; internet: pesquisa sobre a Gilded Age )                           

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