quinta-feira, 23 de fevereiro de 2017

A Mentira como Arma Política

                               
         Leitor, o título do blog não esta aí por acaso. Na verdade, como a mídia aprendeu às suas próprias custas, a mentira, a falsidade consciente virou a arma política da Administração Trump.
         O 45º presidente não mente por acaso. Ele utiliza a inverdade como a sua arma predileta. Pelo que demonstra, é mais um chefe de estado para quem os fins justificam os meios.
         Há dois artigos muito interessantes em dois números da revista New Yorker. Reporto-me aos datados de 23 de janeiro e 6 de fevereiro de 2017.
         O anterior, de Emily Nussbaum, desenvolve a tese como "as piadas venceram a eleição", e o posterior é a propósito da visão da Administração Trump acerca das "guerras de informação".
         Em outras palavras, o presidente Donald Trump funciona como porta-voz - partindo do púlpito que Theodore Roosevelt - um longínquo predecessor deste presidente - tanto peso atribuíu pelo simples fato de transmitir a Verdade segundo a Casa Branca.
        Fundado nesse crédito que o público atribui à sede do Poder presidencial, o objeto desta nova Administração é de aproveitar o Zeitgeist (o espírito do tempo), e conforme o suposto respeito que é devido à palavra do Chefe da Nação, o escopo é o seguinte: como se fora uma conta da veracidade irrefutável, a Administração Trump, a exemplo de um correntista enlouquecido, decide retirar até o último crédito com aparência de verdade quanto aos procedimentos da Presidência. Fundado na crença popular de que o Chefe da Nação é depositário não só da verdade, mas também da confiança que lhe é outorgada pelo Povo, e sem qualquer escrúpulo ele parte para instrumentalizá-la da maneira mais cínica e cara de pau que imaginar-se possa.
          Estamos, como para alguém dotado de um mínimo de bom senso, de procedimento como se fora mercadoria com prazo de vencimento extremamente curto, eis que não é crível que o Presidente vire  simulacro do cavaleiro da mentira no folclore alemão, o Barão de Münchhausen, e que tudo fique por isso mesmo.
              Nesse contexto, o caráter mitômano do novo presidente fica ilustrado, conforme notícia do Times: em reunião com líderes do Congresso, Trump contou estória acerca da fraude na votação, que ele supostamente ouvira  de Bernhard Langer, o golfista alemão.  Langer não tardou em circular declaração em que repudia a estória de Trump.  
               Durante a semana, o Presidente repetiu a calúnia de que perdera no voto popular somente porque milhões de "ilegais" haviam votado por Hillary Clinton. Isso partirá da postura patológica de quem não possa admitir qualquer derrota, mas também serve aos esforços republicanos de criar dificuldades para os votos de 'latinos' e afro-americanos, através dos truques do GOP de exigir identidade com foto e outras leis estaduais voltadas para obstruir o sufrágio das minorias, que em geral - e por razões conhecidas - sói ser favorável a candidatos democratas.
                     Como a mitomania virou característica desse presidente, a mídia estuda como lidar com tal falsidade.  Muitos jornais e redes de notícia não trepidam em desmascarar as asserções inverídicas, que partem tanto do Chefão, o Presidente, quanto de seu pessoal.
                  Sem falar no desrespeito ao público, tampouco se pode deixar de mencionar a influência do nazi-fascismo cuja obviedade se nos mostra como no riso boçal de um desdentado. Se a postura de Mr Trump já tinha algo de mussolineano, com a sua empáfia profissional e os uniformes - que, por enquanto, Mr Trump se abstém de vestir - não se pode tampouco esquecer o dictum do Ministro da Propaganda do Reich, que a mentira mil vezes repetida ganha foros de verdade.
                     Também conforme ao quadro, como assinala o artigo do New Yorker, estão os agressivos ataques de Trump contra a mídia e a imprensa.  É sempre a característica desse tipo de regime da direita (e mesmo da esquerda, como se observou no Brasil nas diatribes do lulismo contra as "mentiras" e distorções da imprensa) a tentativa de pôr os órgãos de informação como se fossem um instrumento desestabilizador do programa e da visão do governo.
                       Nesse contexto,  o próprio Trump prevê esse embate como fenômeno permanente, a que a Administração procuraria energizar  através de encontros televisivos e até de tweets diários. O escopo seria transformá-lo numa espécie de Mussolini-light.
                           Tal embate tem de ser entendido à luz de ciclópica luta entre o campeão do Povo - no caso, o herói Trump - e a turba da oposição e da mentira, que carece de ser combatida por todos os meios.
                           Dada a aparente ignorância de Mr Donald Trump quanto ao fim desta estória, seria interessante que os seus gurus como Stephen Bannon informem Sua Excelência sobre os azares potenciais desta estratégia.


( Fontes: The New Yorker, 6 de fevereiro de 2017, The New York Times)

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