sexta-feira, 3 de fevereiro de 2017

Quanto dura o governo Trump?

                       

      A atitude agressiva do Presidente Donald Trump indica para muitos que ele não vai ficar muito tempo na Casa Branca. Para que se entenda bem, não é que ele pretenda descobrir outra morada para o presidente em exercício. O seu comportamento  tão fora do normal dos presidentes recém-empossados que a teoria de que Trump não queira ficar muito tempo em Washington ganha foros de verossimilhança.
     A pugnacidade presidencial é tamanha que muitos comentaristas já consideram a possibilidade de que a Administração Trump vai ser breve. A ideia pode parecer um tanto maluca para muitos, mas o que beira a loucura não são as impressões dos colunistas, mas sim o quadro proporcionado pelo  comportamento presidencial nesses primeiros dias.
     Não creio que haja parâmetros para tanta falta de bom senso, tantos erros de julgamento, as atitudes de um presidente que multiplica calinadas garrafais (os absurdos do decreto anti-islâmico que causou tanto sofrimento pessoal e alimentou tanta raiva pelas agressões gratuitas nas mais diversas partes do mundo, em um frenesi de que ainda se busca a razão prática de dessa política de pré-agressividade).
      Essa política de má-vizinhança, ele a multiplica ao cubo - e até aqui a imagem semelha insuficiente. Pensem na gratuidade: telefonema desaforado para o Primeiro Ministro da Austrália, que, estupefato talvez, procure agir pós-comunicação da maneira mais discreta possível (segundo a velha máxima de que loucos não se devem contrariar).
      Será que Trump está achando o máximo agir como um stronzo[1], um dick-head[2], ou será que a loucura cresceu, e ele pensa que pode ameaçar com Armageddon os ayatollahs do Irã, por experimentarem foguetes. O próprio Presidente mexicano, Enrique Peña Nieto continua a vítima do bullying habitual, ele que representa a ur-country das suas tiradas (o célebre muro, que é a salva inicial do canhão do que então parecia o estranho programa de governo de Mr Trump). Mimoseios hostis foram também distribuídos à Alemanha de Frau Angela Merkel, e a lista desses rompantes políticos só tenderá a aumentar.
     Pelas descrições feitas e pelos pranks que multiplica, é decerto difícil encontrar o fio da lógica nessa exaltada animação de Donald John Trump. Alguns se perguntarão se estará exagerando com certas drogas que desregram o comportamento.
      No entanto, por ora, é forçoso admitir que dentro desses acessos de insanidade, há uma certa lógica nos rompantes e nos tiroteios (por ora, verbais) do comportamento desse estranho animal presidencial.
      Que tipo de droga Mr Trump prefere?, perguntará alguém que acredita entrever nas suas atitudes alguns estágios da excitação produzida pela droga. Dentre os mais versados nesse campo, alguns pensarão em aconselhá-lo a fazer melhor as misturas, para que possa excitar-se mais e não desgastar-se tanto...
      Os favoritos de Mr Trump não devem ter a vida fácil.  Pense naquele em que o Times vê possibilidades de grande inspiração e mesmo predomínio, que o favorito da vez, Steve Bannon, por conta de quem velhos conselhos de grandes commis d'État[3] são transformados de modo irreconhecível, com a nova ordem trumpista substituindo os velhos políticos e os experientes militares. 
      Tampouco há nepotismo na Administração Trump. Se os parentes da nova geração Trump estão no governo, isso não é favoritismo, mas sim, para Mr President uma injeção de vigor jovem em velhos quadros.
       Como a spoiled brat[4] Trump há de pensar que governar é fazer tudo o que lhe venha à cabeça, e, assim, concentrará toda a atenção do mundo americano e adjacências.
       Ele se crê de direita e as idéias que tem para acabar com o rust belt[5] farão o deserto florescer e as velhas fábricas manufatureiras tornar a sua antiga grandeza. Tudo isso, como nos conta o Nobel de economia Paul Krugman, na primeira página do Times, não tem a menor possibilidade de prosperar. Assim, aqueles que ajudaram a eleger Mr Trump, acreditando nas suas estórias de que fará prosperar de volta as fábricas e toda a velharia manufatureira, varrida no último quarto de século por produtos mais baratos e eficientes lançados, em coligações internacionais, pela cavilosa indústria estrangeira, não vão sequer servir-se do prato de lentilhas de Esaú.
(a continuar)
( Fonte: The New York Times )



[1] indivíduo grosseiro e sem eduçação (italiano vulgar)
[2] indivíduo estúpido e tolo  (Partridge's Dictionary of Slang and unconventional English)
[3] altos funcionários de Estado.
[4] um estragado pirralho
[5] cinturão da ferrugem

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