sexta-feira, 10 de fevereiro de 2017

Estado (ruim) da União

                              

        De repente - para alguns, não tão de repente - há uma mudança sensível nos parâmetros da política federal. Crescem fundados temores de que a Lava-Jato esteja em perigo.
        Se Michel Temer não ousou até agora, a constelação da corrupção continua a caracterizar-se  caminhando, em casos vários, como se fosse considerada coalizão contrária à política nacional que, por excelência,está  em concordância com a Lava-Jato.
          Com efeito, não mais se daria crédito a consórcio político que sem mais aquela, calcasse sob os próprios pés a política de consolidação e continuada implementação da Lava-Jato.
           Por que se começa a crer em conspiração contra essa unanimidade nacional?
           Cruzadas contra a corrupção  em passado até recente tinham a duração das caídas ilusões, as quais costumam crescer de repente, e despencar em seguida, sem um gemido, como cousas costumeiras  de Pindorama.
             Pois assim não tem sido com a Lava-Jato.  Contra tudo e quase todos, ela cresceu, trazendo a sua imagem da limpeza dos carros para a consciência pátria, não mais o país do jeitinho, não mais a terra em que nada é para valer, mas sim uma diversa conscientização, em que a cadeia é para os culpados, estejam eles em altos, médios e baixos poleiros.
             Quem sabe, a maior criação da Operação Lava-Jato está na própria simplicidade. É a consciente união da Polícia Federal, do Ministério Público e da Magistratura.
              Cansado de criações efêmeras, o Povo começou a crer em uma cruzada diferente, quando viu os suspeitos, investigados pela Polícia Federal, inquiridos pelo Ministério Público e, se acaso provados com culpa no cartório, condenados pelo Juiz Sérgio Moro.
               Nunca um movimento teve tanto apoio e popularidade. Por quê? Não por investir contra os moinhos de vento de Dom Quixote, mas, na terra do sabe com quem está falando, levar ao banco dos réus os culpados de falcatruas mil, e de todo tipo de artigo do código penal, com a ênfase nos crimes ditos de colarinho branco.
                 A grande demonstração do Ano Passado, no país antes dito sem memória, foi de certa maneira o anúncio popular da próxima queda do governo corrupto de Dilma Rousseff.
                  Nenhum movimento popular no Brasil congrega mais e infunde mais confiança do que a luta contra a corrupção. Ela é feita com medidas concretas e dentro da lei. Daí a sua credibilidade que cresce como as plantas do bem. Os corruptos podem vestir-se com os andrajos da carestia, ou com o fasto dos poderosos, mas não hão de conseguir vencer a Lava-Jato.
                   O Juiz Moro está apenas no começo da escada da magistratura, mas os seus feitos o levaram a ser votado pelos seus pares como digno de ser Ministro do Supremo Tribunal Federal.
                    Os grandes pensaram que os poderosos viriam correndo em sua ajuda, e através da mágica do habeas-corpus lograriam enfim desembaraçar-se do que acreditavam fosse uma prisão de portas abertas.
                     Por que advogados de nomeada acreditaram na fantasia de que poderiam intimidar o poder e abrir os portões das prisões, para que os acusados escapassem do castigo. Mas o silêncio do Povo-Soberano pode falar mais alto, se as acusações persistem e são movidas não por sentimentos mofinos, mas por vontade de Justiça do Povo Brasileiro. É essa multitudinária presença do Bem que repontou  e repontará  nas ruas, avenidas, praças, nas cidades pequenas, médias e grandes, todas irmanadas sob uma força a que se rendem com gosto, vale dizer, a Força do Bem e da Justiça, crescente, por fim.
                       A sensação da Justiça se traduz no respeito a todo o Ser humano, por que não é pouca cousa verem antigos costumes de privilégio e de arrogância caírem por terra, assim como as práticas odientas da corrupção em todas as suas latitudes.
                        A Liberdade e a Justiça são filhas da Democracia, que é o governo surgido na Grécia antiga, e que por isso é do Povo, para o Povo e pelo Povo.
                           O contrato social obriga os governantes por ele eleitos, que os deveres do Povo - honestidade, respeito ao próximo e à Pátria - não sejam desvirtuados nos salões - e nas câmaras - do Poder.
                            Não se pode senão ver com preocupação crescente que em certos círculos se estimulem idéias que são o oposto de todo o positivo que acima está escrito.
                            A ignorância da História, conjugada com a hübris do poder,  tende a sussurar nos ouvidos das autoridades de turno melífluas palavras  que muito prometem. A Mestra dos Tempos nada oculta, mas aqueles que se julgam grandes (seja pelo ambiente em que estão, seja pelas palavras que os fâmulos e cortesãos de turno lhes sussurram) se reputam acima dos demais mortais.
                            Acreditam que a magia do Poder que, além de embevecê-los,  os encanta, os levará a seguir o róseo destino que as palavras do seu entorno lhe sopram.
                             Carlos X acreditou que bastaria uma tropa de hussardos para pisotear as conquistas da Revolução que guilhotinara seu irmão Luís. Pedro I convocara o gabinete dos marqueses, e nos dias seguintes partiu para as incertezas do exílio, forçado por mais uma revolução surgida de sua crescente impopularidade.
                               São apenas dois exemplos de mudanças radicais. Abrem-lhes as portas, não os obsequiosos lacaios, mas os emissários do exílio, que lhes trazem, ou o confinamento em salões em terras estranhas sob o signo do sumiço do poder, ou a existência trabalhosa do ex-Imperador, que logrou vencer o irmão Miguel, mas não a enfermidade que o transformaria em cadáver em um punhado de anos.
                                 É mais do que aconselhável ao atual Presidente que não esqueça haver chegado aonde está por processo de impeachment movido pelo varão republicano Hélio Bicudo contra a Presidente Dilma Rousseff, por haver desconhecido regras elementares da democracia, provocando em consequência  a própria destituição.                      

                   

( Fontes: Miguel de Cervantes,  Jean-Jacques Rousseau )

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