quarta-feira, 8 de fevereiro de 2017

Desafio à Democracia

                              

      A Constituição de 1988, aquela que Ulysses Guimarães chamou de Cidadã, não é perfeita, e talvez a sua falha mais grave esteja no permissivismo de certas disposições, como a de admitir a greve em atividades essenciais à sociedade, notadamente na segurança pública e no atendimento médico.
      O governo democrático atualmente no poder tem que mostrar mais autoridade. Há duas questões maiores que a reclamam. Quanto a dos presídios, dela me ocuparei a seu tempo, complementando o que já foi expresso pelo blog.

     Com respeito à segurança pública, agora exposta na sua fraqueza pela crise do Espírito Santo, a situação é muito grave. Ironicamente, o estado tem um dos melhores governadores, Paulo Hartung, mas a decomposição que afeta governos (federal, estadual e municipal) pode ter um grau variável, a ponto de - malgrado a eventual qualidade da autoridade pública,  às vezes a excelência singular não baste. E disso, a contragosto, o Espírito Santo, não obstante a qualidade dessa autoridade no estado respectivo, a geral decomposição do respeito à autoridade tenderá igualmente a afetá-lo, como de resto se verifica pelos problemas que atravessou a população capixaba.
      Está lá em curso mais uma greve oportunista na segurança pública. Já é um contrassenso que se admita esse tipo de parede. Surgem, assim, movimentos para contornar a proibição legal e já se mostram, v.g., em Brasília, com greves disfarçadas, máxime nas forças estaduais, que não raro buscam contornar as exigências legais através de largas doses de cinismo, como quando havia proposital tardança  no atendimento aos chamados urgentes da população à força policial.

       A falta de disciplina está na raiz do problema. A ilegalidade do movimento paredista é 'contornada' pelo cinismo da força responsável, e quem paga o pato costuma ser, diante da eventual fraqueza da autoridade, a própria população que se descobre exposta aos piores abusos.
            Não são cousas que surpreendam. Já ocorreram na Bahia e agora foi a vez do Espírito Santo.
           Ao ensejo da operação cirúrgica  a que teve o governador Hartung de submeter-se, o Executivo estadual ficou exposto.

        A greve da Força policial - valendo-se da suposta 'proibição' das respectivas famílias a exercerem o próprio dever - se a recusa das polícias de cumprirem o seu dever tomou esse viés tão farsesco, quanto cínico, os interessados não se envergonharam de servir-se de um álibi tão pouco crível e sério, não só para afrontar a hierarquia do comando civil, mas também, mesmo sem o desejar, para serem na prática coniventes com o poder da bandidagem. A mala-vita tomou conta de Vitória e outras cidades, causando a desídia policial enormes prejuízos ao patrimônio, com saques no comércio e roubos àqueles cidadãos que se atrevam a continuar com as suas atividades diárias.
               O caos instituído de uma parte pelos bandidos, caos este, no entanto, só inteligível por causa do sumiço da força policial dos logradouros e ruas, eis que tal situação é a decorrência natural da estranha greve da força pública no Espírito Santo.


( Fontes:  O Globo; coluna de Míriam Leitão )

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