sábado, 4 de fevereiro de 2017

Estupidez ou má-fé ?

                                     
        Será difícil rememorar política similar, que mais parece de alguém que não viveu a crise de 2008, aquela assinalada pela falência do banco Lehman Brothers .
        Não é aqui o lugar de reescrever a crise de 2008. Reza a sapiência popular que quem desconhece o passado, está condenado a repeti-lo. Em outro lugar, talvez mais oportuno, pretendo ocupar-me de o que significa a vitória de Donald J. Trump.
  
           Quanto ao sentido desse triunfo da direita, não creio seja necessário discorrer longamente sobre os antecedentes malditos da reviravolta que, em outras coisas, não é filha única mas fruto de série de circunstâncias:
    
          (a) a ajuda altamente suspeita que foi dada a Trump pelo diretor do FBI, cujo nome está destinado a ser gravado no mármore ático como um dos grandes subversores de eleição presidencial: no período - que é reservado pelos votantes ao chamado  voto antecipado (feito para ganhar tempo e evitar atrasos - suspeitos ou não - nas filas de sufragantes). Pois foi justamente nesta fase decisiva e determinante da eleição, que Mr James Comey, diretor do FBI mandou a segunda carta ao Congresso não excluíndo a possibilidade de que, na investigação do tristemente famoso terminal privado do computador de Mrs Clinton, secretária de Estado, e no de sua Secretária Huma Abedin (e também de seu ex-marido ), pudessem ser encontradas indicações quanto ao comportamento suspeito da sra. Secretária de Estado. Claro que nada havia contra a Senhora Clinton, mas tal suspeita - irresponsavelmente criada por Mr James Comey, ficaria não só para os anais desta triste eleição, mas ao jogar suspicácias sobre a candidata democrata, entrou em cena a injunção de D. Bartolo a D. Basílio, na peça O Barbeiro de Sevilha, de Beaumarchais, a qual continua através dos séculos: Calomniez, calomniez toujours - il en restera toujours quelque chose !  (caluniai, caluniai sempre, alguma coisa sempre fica!);

       (b) debalde se tentará desmerecer da candidata Hillary Clinton. Ninguém pode ser inculpado da fraude alheia (hacking russo),assim como das recontagens feitas pelo Partido Democrata em três estados da união, que não foram movidas por empenho e determinação.

         (c) se há emenda que clama através dos séculos para ser votada e aprovada, será eliminar da Constituição setecentesca o anacronismo que é a votação por delegados, em função das circunscrições eleitorais retiradas da Constituição mais velha das Américas, do século XVIII. Que se mantenha tal relíquia do tempo em que não havia comunicações (sequer ferrovias!) rápidas, e que foi então a única maneira de manter unida esta construção maravilhosa da democracia setecentesca.  Mas lamento dizer que o seu tempo já chegou e há muito.  A eleição de Bush jr. (o que criaria pela loucura dos neoconservadores - que o dominavam - a ilusão da democracia no Meio Oriente) foi outro escândalo, pois teve maioria no voto popular Albert Gore Jr.  E agora a maioria na votação popular de  três milhões de votos por Hillary Clinton que o clown (ou ferrabrás) Donald John Trump quis fazer passar por sufrágios abusivos de indocumentados e de imigrantes ilegais...

           Tudo o que está ocorrendo agora - e que tem sido objeto de meus blogs (que vejo com muita honra e satisfação crescer na leitura dos meus companheiros da web) é a consequência do que a eleição - e a maneira com que se realizou - urdia esse alastor (espírito vingativo ou demônio).Aliás, tal  alastor podia também ser imaginado pelos antigos helenos como recobrindo regiões inteiras, a exemplo das emanações perniciosas.
             Se herdamos da Grécia antiga a democracia - e por mais que se invective contra esse produto da lógica humana (como não privilegiá-la  na formação dos governos), vi com inquietude e mesmo consternação que o Partido Democrata não se empenhou a fundo nas recontagens de votos dos estados de Michigan, Wisconsin e Pennsylvania. Não sei quais propósitos foram o dos prepostos do Partido Democrata, porque em tudo na vida é necessário ânimo, persistência e convicção. Quem não os tem, melhor afastar-se da política.
           Por falar em emanações maléficas. Não sei qual é o propósito do Partido Republicano em ab-rogar a Dodd-Frank, uma das duas grandes leis emanadas do Congresso Americano no período benfazejo da predominância nas duas Câmaras do Partido Democrata, no primeiro biênio do Governo Barack Obama.
             Ganhou a democracia, acaso, com a construção de uma Casa de Representantes fundada no guerrymander (vale dizer na fraude eleitoral, pelo desenho de distritos eleitorais que favorece o GOP e prejudicam o Partido Democrata). Nancy Pelosi está fadada a ser a líder da eterna oposição na Câmara de Representantes, em que se alternam bonecos sem autenticidade, nem representatividade eleitoral, porque são expressões de uma mega-fraude, que o silêncio da grande imprensa (rica em panos quentes e pobre em coragem) parece cuidar de preservar.  Nesses estados da fraude institucionalizada, como o Ohio, que manda um punhado token de democratas para a Câmara de Representantes e muitos republicanos para a tal Câmara Baixa, muitos dos quais não seriam eleitos se não fora a deformação do gerrymander (o Governador Gerry, de triste memória, que começou tal prática no Massachusetts em 1812, ainda pontifica nessa terra dita da democracia). E não há nada mais fácil e revelador de o que comparar os totais para deputados e os resultados dos colégios sem-gerrymander,i.e.,aqueles que tem os limites do Estado (como também o Ohio, v.g., que expressam duas realidades, a da fraude eleitoral (das votações para a Câmara), e a da verdade (esta última não carece de ser qualificada, quando não é 'manipulada').
               É bom que sempre se lembre que essa manipulação - que a grande, medrosa   imprensa - aí também as estações de tevê! - se abstêm, com pondunoroso lenço nas narinas de sequer mencionar. E aí, temos o escândalo dentro do escândalo. Os últimos dois Speakers da Câmara são John Andrew Boehner (Ohio) e o atual Paul Ryan. Como são republicanos e a atual maioria corresponde às características acima esboçadas em muitos anos da União, não surpreende que a Câmara de Representantes se haja transformado em  bastião do statu quo, com a consequência inelutável de que represente grave empecilho para a passagem  de legislação que o governo democrata (de Barack Obama) tenha considerado como necessária  para o bom estado da União. Como essa Câmara baixa é sempre republicana (pelas circunstâncias acima descritas) o acordo se torna impossível (longe estão os dias das boas relações entre as duas alas do Congresso - quando tal antes se impunha pelo princípio de que os partidos no Congresso podem ser opostos, mas não necessariamente inimigos, porque defendem o mesmo país).
                É este consenso - de acordo com as grandes ideias, sem embargo de defender caminhos porventura próprios -  que tem faltado nos EUA ultimamente, porque o seu ferrenho opositor, o é por defender princípios próprios, admissíveis no mundo moderno, pautado pela autêntica democracia e o respeito dos valores de outrem, sem jamais cair nas imagens de certos republicanos como v.g. Mitch McConnell, que vetou, na prática a Obama que se valesse de inalienável prerrogativa presidencial de indicar  o sucessor de Antonin Scalia, na pessoa do respeitado juiz Merrick Garland. E esse esbulho ocorreu a cerca de doze meses antes  do término constitucional do respectivo mandato!
              Obama, por circunstâncias próprias, tendia a evitar atitudes mais radicais, ainda que legais, na defesa de certas prerrogativas presidenciais, como esta por exemplo. Faltou-lhe a energia e a intrépida ousadia - ainda que dentro da lei - para confrontar o bando republicano com a sua ilegal, inaceitável e mesmo inconstitucional postura de abocanhar - no caso de eleger um republicano para sucessor de Obama, o que infelizmente (e põe infelizmente nisso) findou por ocorrer, com a nomination pelo errático e imprevisível Donald Trump_de um juiz conservador, Gorsuch, para a vaga de Scalia.
               Se Barack Obama foi fraco e faltou com o próprio empenho para garantir indicação que era privativa de seu governo democrata - tinha ainda na prática quase um ano de governo!- o que fez ele que se cria grande negociador, mas sempre audessus-de la melée[1]. Permitiu, com o silêncio dos carneiros, que o notório Senador Mitch McConnell, com os métodos de uma posse sulista, a guardasse em câmara frigorífica, para oportunamente ser descartada - sempre caso vencesse o GOP - e, dessarte, garantir mais uma vaga para conservadores no Supremo, a fim de infernizar a vida de muitos infelizes - quem sabe proibindo de novo a conquista das mulheres quanto ao aborto, pela grande resolução do Supremo de 1973 - Roe versus Wade -  e, por se acaso, decidir eleição presidencial como foi inconstitucionalmente determinada escolhendo o gênio George W. Bush (que se marcou para sempre pelo fracasso do socorro às vítimas do Katrina e pelos bilhões dólares gastos na fútil guerra do Iraque, o que provocou consequências irreversíveis para a Superpotência).                    
                                                                                 (a continuar)



[1] acima da turba 

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